postado em 19/11/2009 08:14
[SAIBAMAIS]O Ministério Público Federal avalia que o governo federal faz especulações, mas ainda não sabe o que provocou o apagão no sistema elétrico brasileiro há nove dias. O coordenador do Grupo de Trabalho de Energia e Combustíveis da Procuradoria Geral da República, Marcelo Ribeiro Oliveira, afirmou ontem ao Correio que ;há muita especulação. Eles não estão cientes do que de fato ocorreu;. Ele considera que a questão meteorológica apontada pelo governo como possível causa do blecaute em 18 estados ;é plausível;, mas desde que associada a algum outro fator. ;Raio não derruba a transmissão;, afirma.Na edição de quarta-feira, o Correio mostrou que o apagão continuava como uma incógnita para o governo. Oliveira afirma que recebeu poucas informações até agora, principalmente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Ministério de Minas e Energia. Disse que os dois órgãos foram solícitos, mas apenas afirmaram que vão enviar as informações fornecida por Itaipu: houve uma queda na mesma linha de transmissão nove horas antes do blecaute principal. ;Fica uma dúvida: se há relação de causa e efeito entre essa primeira queda, que ocorreu por volta de 1h da tarde, e o evento principal.;
O procurador lembrou que, aparentemente, havia tempo ruim também naquele momento. ;Aí, fica curioso. Primeiro, tem aquela história: dois raios não caem no mesmo lugar no mesmo dia. Não está claro para a gente o que aconteceu. Fica a dúvida, quando falam que foi o fator climático, se teria sido um fato ocorrido no começo da tarde que não foi bem gerenciado, ou se foi um fator climático que ocorreu no momento do blecaute.;
Fragilidade
Depois do prazo de 72 horas concedido ao governo para o envio das primeiras informações, o Ministério Público deu um novo prazo de 15 dias para a remessa de informações mais aprofundadas. Os procuradores também estão contanto com o apoio de universidades. São solicitadas informações detalhadas sobre a variação meteorológica dos períodos do início da tarde e da noite, para entender se nos dois períodos havia muita carga elétrica, se estava havendo um risco para o sistema. Mais tarde, poderá ser solicitada uma perícia técnica na linha de transmissão. ;A perícia vai depender da análise da documentação, fica para um momento posterior. Não dá para a gente ir a campo para ver se houve uma falha. Isso não é proveitoso;, argumenta o coordenador do grupo.
Outra hipótese em estudo é a suposta fragilidade das torres de transmissão. Em 2004, o Tribunal de Contas da União (TCU) realizou uma auditoria nas obras de reforço de 179 torres em São Paulo. Como foram apontadas irregularidades na licitação, a obra não foi concluída, restando dezenas de torres sem reforço. O fato ocorreu há 10 anos, mas está sendo investigado pelo Grupo de Trabalho de Energia do PGR. Oliveira afirma que talvez tenha que ser apurada a relação desse fato com o apagão: ;Talvez tenha, mas seria num segundo momento. Tem que ver primeiro qual foi a causa. Se a linha realmente estava fragilizada, houve uma estabilidade. Mas ela tinha que ter segurado a onda, tinha que estar mais atualizada. Enfim, aí cairia nessa situação: não houve reforço de linha adequado. Agora, se foi alguma coisa especificamente no estabilizador, poderia ter a melhor rede do mundo que não seguraria;.
Apagão menor
O coordenador do Grupo de Trabalho disse que vem conversando com alguns técnicos do setor sobre todas as possíveis causas. ;Parece que a questão meteorológica é muito plausível, sim. Mas não é só a meteorológica. É ela associada a mais alguma coisa. Cair raio não derruba a transmissão. Então, o que ocorreu?;. Questionado se teria ocorrido algum problema técnico associado à questão meteorológica, comentou: ;E olhe lá. Isso aí já está aceitando a hipótese do governo. Mas nem para isso a gente tem dado concreto;. Ele não aposta em falha humana no momento. ;Pode ter havido, mas não tem nenhum elemento que aponte para isso.;
O governo havia silenciado sobre a queda de transmissão ocorrida à tarde. Após as informações transmitidas por Itaipu ao Ministério Público, o governo apresentou a sua resposta para o problema. ;Disseram que é um procedimento padrão, que sempre há algum desligamento no decurso do dia, o que de fato ocorre. Só que não causado por raio.;
Após analisar os documentos encaminhados pelo governo, o Grupo de Trabalho da PGR vai apresentar as conclusões sobre as causas do apagão e apontar os responsáveis. O resultado do trabalho será enviado aos procuradores nos estados onde ocorreram os fatos. Eles decidirão as medidas a serem tomadas, como possíveis determinações de reforços de redes ou mesmo propostas de punição a responsáveis por falhas técnicas. Oliveira esclarece que as ações não se limitarão a São Paulo, onde teria havido a queda de transmissão: ;Em princípio, em São Paulo, mas a gente não pode se limitar. Como o sistema é interligado, não poderia ter havido um apagão menor nos outros locais? Tinha que ter essa proporção imensa que teve?;.
Apuração
Possíveis causas investigadas pelo Ministério Público Federal (PGR)
Questões meteorológicas
É uma causa plausível, mas não isoladamente. Precisaria estar associada a uma questão técnica
Rede de transmissão fragilizada
O Grupo de Trabalho da PGR já estava investigando se houve o necessário reforço da rede
Queda na linha nove horas antes
Itaipu informou que houve uma queda na linha de transmissão em Itaberá às 13h do mesmo dia
Falha no estabilizador
Se houve esse problema, nem a melhor rede do mundo seguraria a transmissão
Extensão do apagão
Como o sistema é interligado, o MP investiga se não poderia ter ocorrido um apagão menor