postado em 23/11/2009 08:04
Em busca de obras de arte e móveis de valor histórico, uma Comissão de Curadoria da Presidência da República começa esta semana uma devassa nos porões dos diferentes órgãos públicos federais à procura de objetos esquecidos pelo tempo e abandonados pelo gosto moderno dos administradores. A ideia é resgatar o mobiliário para distribuí-lo nas dependências dos palácios do Planalto e da Alvorada. O pedido partiu do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pretende deixar a casa arrumada para o sucessor. Para isso, recomendou aos integrantes da comissão que deem aos palácios nacionais o aspecto histórico que prevalece em prédios públicos do mundo. Lula também pediu que as mudanças na ambientação valorizem obras de artistas brasileiros.Para garantir que a nova decoração não será desfeita pelos próximos presidentes, o Planalto já iniciou conversas com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para que seja feito o tombamento do conceito da decoração dos dois palácios. Na prática, esse tombamento significa que será possível modificar alguns itens da ambientação, mas a maioria teria de ser mantida. Haveria a obrigatoriedade de cumprir alguns conceitos, como a disposição dos locais e a manutenção do mobiliário restaurado e recuperado.
;Se uma sala está tombada como um local de reunião, deve continuar sendo. Só seriam possíveis mudanças pontuais e o remanejamento de alguns móveis. Estamos conversando com o Iphan porque acreditamos na necessidade de manter entre o patrimônio dos palácios o mobiliário que tem valor histórico e retrata o passado do país. Por isso, nosso empenho em encontrar esses móveis e restaurá-los;, explica Cláudio Soares Rocha, chefe da Diretoria de Documentação Histórica da Presidência da República e presidente da Comissão de Curadoria.
Mobiliário
Nas mãos do grupo já estão alguma peças que serão recuperadas e distribuídas pelas dependências do Planalto e da Alvorada. Há, por exemplo, uma mesa criada pela arquiteta Anamaria Niemeyer no fim dos anos 1950 a pedido de Juscelino Kubitschek. Feita de madeira de jacarandá, a peça resistiu ao tempo e mostra poucos sinais de desgaste. A mesa atualmente compõe a o gabinete provisório do presidente Lula no Palácio do Buriti, enquanto a reforma do Planalto não é concluída. No mesmo gabinete, também está um quadro do pintor Homero Massena. Denominada A estrada, a obra já decorou o escritório do ex-presidente João Goulart.
À espera do fim da reforma do Planalto está também um conjunto de três peças criado pela designer americana Florence Knoll no início dos anos 1960. Uma das mesas aparece em registros históricos sendo usada pelo então presidente Castelo Branco. Uma peça semelhante foi vendida nos Estados Unidos por R$ 10 mil. Um aparador do conjunto está avaliado em cerca de R$ 14 mil. O presidente da curadoria acredita que mobiliário com o mesmo valor de mercado e com importância histórica para o país pode estar abandonado nos depósitos dos ministérios.
Custos
O presidente da comissão, Cláudio Rocha, afirma que ainda não há uma estimativa de custo para a recuperação dos móveis e das obras que forem encontrados nos porões dos órgãos públicos. Segundo ele, a falta de previsão se deve ao fato de que ainda não se sabe o que será possível recuperar para compor o novo acervo dos palácios. ;A ideia é baratear esses custos usando a mão de obra que foi treinada pelo Iphan. Mas ainda estamos em fase de procurar essas obras de arte e os móveis das décadas de 50, 60 e 70. Nosso projeto é garantir a representatividade da arte e do designer brasileiro nos palácios, recuperar a história e ainda fazer isso a um custo baixo;, afirma.