Politica

Afago de Lula aos policiais federais

Decreto assinado pelo presidente reduz de 15 para 13 anos o tempo necessário para que os servidores da PF atinjam o topo da carreira

postado em 24/11/2009 08:18
Luiz Fernando, diretor da PF, e o ministro Tarso também celebram a Lei Orgânica, enviada ao CongressoA Polícia Federal (PF) vai reduzir em dois anos o tempo para que seus servidores cheguem ao topo da carreira. Hoje, para um agente ou delegado chegar à classe especial, são necessários 15 anos de serviço. Um decreto assinado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva diminuiu o período para 13 anos. A medida vai atingir inicialmente 4.500 funcionários, entre delegados, agentes, escrivães, peritos e papiloscopistas. O ato foi bem recebido pela corporação, mas não atinge plenamente a reivindicação da categoria, que pretendia redução ainda maior. Ontem, ao enviar o projeto de Lei Orgânica da PF para o Congresso, Lula defendeu a necessidade de a instituição ter autonomia para investigar, mas criticou a ;pirotecnia; em algumas operações.

Com o decreto presidencial, os policiais de terceira classe passam para a segunda categoria com três anos de serviço e não mais com cinco, como era até ontem. As regras se mantiveram para os servidores de segunda e primeira categorias, que terão de cumprir cinco anos de trabalho para alcançar novos patamares. O topo da carreira é a classe especial, onde um policial pode chegar com 13 anos de serviço, desde que passe nos processos de avaliação.

Marcos Vinício Wink, Presidente Da Federação Nacional De Policiais FederaisAs regras mudam também nos vencimentos. Delegados e agentes passam a receber diferença salarial mensal de cerca de R$ 2,2 mil por mudança de categoria a partir do momento em que terminarem um curso obrigatório na Academia Nacional de Polícia. Hoje, a alteração ocorre 11 meses após a conclusão dos estudos. A medida teve como objetivo suprir a falta de policiais na segunda classe, atualmente ocupada por 106 pessoas. A terceira categoria tem 4,5 mil, enquanto a primeira conta com 2,5 mil e a especial soma mais de seis mil integrantes. ;O decreto possibilita uma redução ainda maior nos prazos;, diz o diretor-executivo da Polícia Federal, Luiz Pontel de Souza.

Pirotecnia
;O decreto atende parte das nossas reivindicações, mas queremos diminuir ainda mais os prazos. E isso pode ser feito até por uma portaria do ministro da Justiça;, afirma o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Vinício Wink. Segundo ele, a pretensão da categoria é reduzir de cinco anos para dois anos e meio o período para que um agente de segunda classe passe para a primeira. ;É um pleito (o decreto) antigo, mas é necessário resolver o problema de outras categorias;, concorda o presidente da Associação dos Delegados Federais, Sandro Avelar.

Lula escolheu o dia do policial federal ; comemorado ontem ; para anunciar as medidas com pompa. O presidente, no entanto, cobrou mais discrição da PF durante as operações. ;O que não pode é uma instituição como a Polícia Federal estar a serviço desse ou daquele partido;, afirmou Lula. ;Hoje, com todas essas denúncias de corrupção, a sociedade não percebe que o grande número de investigações que acontecem é porque a PF voltou a exercer o seu papel de investigação, porque não existe, por parte do presidente, do ministro da Justiça ou do diretor da Polícia Federal qualquer proibição para que as coisas sejam investigadas corretamente;, reiterou.

As declarações do presidente se referiam a operações passadas realizadas pela PF, que tiveram grande repercussão. ;Muitas vezes, a investigação nem começava e a pessoa já estava condenada pelos meios de comunicação. O bom trabalho é aquele que você faz e apresenta o resultado, seja para inocentar ou culpar;, afirmou Lula, que encaminhou o projeto da Lei Orgânica para o Congresso.

A proposta reforça as medidas de hierarquia e disciplina que hoje são regulamentadas apenas por portarias internas. Mas o teor da proposta enviada ao Congresso é desconhecido da categoria. ;O que está sendo enviado ao Congresso é uma espécie de Constituição da Polícia Federal, para que ela seja cada vez mais um órgão de Estado;, explicou o ministro da Justiça, Tarso Genro. Para o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, o documento garantirá maior segurança jurídica aos servidores.

Inquéritos a pedido do MPF
Atendendo a pedido do Ministério Público Federal em São Paulo, a Polícia Federal abriu 54 inquéritos para apurar procedimentos de sua corregedoria, que investiga crimes cometidos por policiais federais. O MPF constatou e denunciou casos em que a PF tratava de crimes praticados por policiais federais somente no âmbito administrativo interno, sem instaurar o devido inquérito policial.



Três perguntas para

Marcos Vinício Wink, Presidente Da Federação Nacional De Policiais Federais

O decreto do presidente Lula atende as reivindicações dos policiais federais?
A princípio, sim, mas ainda vamos batalhar para reduzir o tempo de promoção dos colegas que estão passando da primeira classe para a classe especial.


O que está faltando?
A Lei Orgânica da Polícia Federal. Apesar de o presidente enviar esta semana o projeto para o Congresso, não sabemos o conteúdo. A gente não conhece o texto final. À medida que a proposta do governo chegar ao Legislativo, vamos procurar saber mais para tentar melhorar o que acreditamos não estar de acordo com nossas reivindicações. Temos informações de que a Lei Orgânica sofreu várias mudanças no Ministério do Planejamento e na Casa Civil.

A Lei Orgânica fala muito em autonomia;
É essa nossa grande luta. É melhorar as atribuições de agentes, peritos, escrivães e papiloscopistas, que hoje têm a missão apenas de executar. Queremos planejamento maior naquilo que formos executar.


  • As mudanças

As novas regras alteram em dois anos a progressão dos policiais

federais, que passam a chegar ao topo da carreira com 13 anos de

serviço e não mais com 15. Veja como fica:

  • Terceira classe
    (policiais recém-saídos da Academia)
    Ao completar três anos de carreira, sobem para a segunda classe. Antes, eram cinco.

  • Segunda classe
    (agentes e delegados na fase intermediária). Para se chegar à primeira classe, o policial terá que completar oito anos de serviço.

  • Primeira classe
    O policial deverá ter 13 anos de trabalho para chegar ao topo da categoria, a classe especial.

  • Classe especial (último posto)
    Para se chegar ao auge da carreira, é necessário fazer um curso na Academia Nacional de Polícia (ANP), que seria comparado a um exame de admissão e de aprovação para o novo posto, que é o final na Polícia Federal.

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