Mirella D'Elia
postado em 05/12/2009 04:00
Goiânia - Depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tratou do assuntou esta semana, ontem foi a vez de o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, cobrar "uma posição mais enfática" dos parlamentares em relação ao financiamento público de campanhas.
Durante visita a Goiânia, Gilmar Mendes argumentou que é preciso haver mudanças na forma de arrecadação de dinheiro em campanhas eleitorais para que a seriedade da democracia brasileira não seja posta em dúvida. "No que diz respeito ao financiamento de campanhas, temos que ser mais enfáticos no que concerne às reformas. Temos que discutir com seriedade o financiamento público de campanha", cobrou, ao comentar o escândalo de corrupção envolvendo o primeiro escalão do Governo do Distrito Federal (GDF) e parlamentares da base aliada na Câmara Legislativa. Segundo a cúpula do GDF, o dinheiro que aparece em vídeos sendo distribuído é para pagamento de dívidas de campanha e teria sido fruto de caixa 2.
Mendes voltou a classificar de "preocupantes" os fatos revelados na Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), e em outras ações policiais que têm como foco irregularidades envolvendo políticos. "Essas operações têm revelado a corrupção no mundo político e em outras áreas. Isso é um pouco preocupante quando revela as mazelas do sistema político porque pode afetar a legitimidade do sistema e a dúvida do cidadão em relação à seriedade do processo democrático", analisou. "O sistema exige mudanças. Temos que combater a corrupção, especialmente a corrupção no sistema político."
O ministro observou que, desde a década de 1990, têm ocorrido sucessivas crises ligadas à corrupção no sistema político eleitoral, o que chamou de "reincidências". Ele citou o caso do ex-presidente Fernando Collor de Mello, que sofreu impeachment, o mensalão e a crise do Orçamento. "Não basta só mudar a lei. O Brasil tem conseguido avançar, mas é preciso introduzir uma outra cultura. Esse modelo de financiamento exclusivamente privado e captado pelos candidatos é propiciador desse modelo. É preciso refletir sobre isso."
Na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha defendido a realização de uma Assembleia Nacional Constituinte, depois das eleições de 2010, específica para refazer a lei eleitoral. "Não é possível continuar do jeito que está. Todo mundo quer a reforma política, mas ela não acontece. Da mesma forma que todo mundo quer a reforma tributária e ela também não acontece", comentou o presidente. "Só eu já mandei duas reformas políticas para o Congresso. Enquanto não tiver uma reforma política, nós vamos ser pegos de sobressalto, com notícias dessa magnitude", disse ele em Kiev, na Ucrânia.