Patrícia Aranha
postado em 06/12/2009 10:03
O PT mineiro escolhe hoje em eleição direta quem vai presidir o partido em Minas pelos próximos três anos e terá como primeira tarefa comandar as negociações sobre políticas de aliança na eleição do ano que vem. Os dois candidatos que disputam o segundo turno ; o presidente estadual, deputado federal Reginaldo Lopes, e o secretário nacional de comunicação do partido, Gleber Naime ; passaram a campanha defendendo a candidatura própria do PT na eleição para o governo do estado. Ambos garantem que, se eleitos, vão resistir à pressão da direção nacional da legenda por uma composição com o PMDB se ela significar abrir mão da cabeça de chapa.Ontem foi dia de articulações dos dois lados, que evitaram cantar vitória antes da hora, já que a disputa está equilibrada e há expectativa de quorum menor do que no primeiro turno(1), quando foram apurados 47.480 votos. A desmobilização é provocada principalmente pelo fato de que, na grande maioria das 625 cidades onde há filiados aptos a votar, o presidente municipal foi eleito no primeiro turno.
O último evento da campanha de Gleber, com participação dos ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e Luiz Dulci (secretaria-geral da Presidência), foi esvaziado e começou com mais de duas horas de atraso. Os organizadores colocaram a culpa no mau tempo.
Palácio da Liberdade
Apesar de respeitarem a pré-candidatura do ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), ao governo de Minas, cada um dos candidatos a presidente tem seu preferido na disputa pelo Palácio da Liberdade. Gleber Naime é cabo eleitoral de Patrus Ananias (PT), e Reginaldo Lopes acredita que o melhor nome é o do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT).
O secretário nacional de Assuntos Institucionais do PT, Romênio Pereira, avalia que o presidente nacional eleito em primeiro turno, José Eduardo Dutra ; da mesma corrente de Reginaldo e Gleber, a Construindo um novo Brasil (CNB) ;, já está trabalhando com a hipótese de ter dois palanques em Minas para a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). ;A presença de dois ministros ; Patrus e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) ; e de uma forte liderança nacional como Pimentel, na defesa da candidatura própria, já está sendo levada em conta. Vamos nos esforçar por coligação com o PMDB, mas, se não for possível, discutiremos os dois palanques;, disse.
O tom da eleição interna, desde o primeiro turno, foi de antecipação do confronto entre Patrus e Pimentel. O ex-prefeito chegou a defender que o segundo turno fosse transformado numa espécie de prévias para escolha do candidato a governador. ;O processo de eleição direta (PED) deve ser tomado como uma sinalização muito efetiva e, portanto, suficiente, do que é a vontade do partido em relação às pré-candidaturas, disse Pimentel. Mesmo negando a hipótese, Patrus não conseguiu desvincular os dois processos: ;Para nós termos uma grande campanha em Minas, precisamos de um partido solidário com a nossa candidatura;.
1 - 1; turno
O ex-senador José Eduardo Dutra foi eleito presidente do PT com 57,9% ou 274.419 votos, desbancando o deputado José Eduardo Cardozo com 17,2%, 81.372 votos. Apesar da posse estar marcada para fevereiro do ano que vem, durante o congresso nacional do partido, Dutra já vem participando das negociações para a campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O presidente eleito defende que a pré-candidata petista aproveite toda a exposição do governo e se desvincule da pasta para se dedicar à eleição somente em abril e não em fevereiro, como querem setores da sigla.
Trombada com PMDB
A executiva nacional do PT se reúne amanhã, em Brasília, para avaliar os resultados nos quatro estados onde haverá segundo turno: Minas, Rio de Janeiro, Maranhão e Amapá. Além de Minas, a maior preocupação do comando é com o Rio, onde o Planalto aposta suas fichas na reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB). A campanha do candidato que defende o apoio do PT ao PMDB, deputado federal Luiz Sérgio, ganhou nos últimos dias o reforço do presidente nacional do partido, Ricardo Berzoini, que desembarcou na capital fluminense para pedir votos. Do outro lado, Lourival Casula é apoiado pelo prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), pré-candidato ao governo.
No primeiro turno, Luiz Sérgio acabou em primeiro lugar, conquistando 39,79% dos votos, contra 25,30% de Casula. No segundo turno, o quarto colocado na disputa, Waldeck Carneiro ; que recebeu 9,26% dos votos válidos ;, se aliou a Luiz Sérgio, enquanto Bismarck Alcântara ; que ficou em terceiro com 22,90% dos votos ; e o presidente da Câmara Municipal de Mesquita, André Taffarel (que amealhou 2,75%), declararam apoio a Casula.
Os petistas que defendem a candidatura própria não enfrentam apenas a pressão da direção nacional, que prefere se aliar ao PMDB. O ex-governador Anthony Garotinho (PR) é pré-candidato ao governo e já avisou que também fará campanha para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Logo depois do primeiro turno, o presidente nacional eleito, José Eduardo Dutra, declarou que vai insistir no apoio a Sérgio Cabral como o ;caminho mais natural;. O fantasma da intervenção não está afastado. Em 1998, o diretório estadual do partido sofreu intervenção da direção nacional para apoiar a candidatura de Garotinho.
Irritação
Lindberg irritou ainda mais o Planalto ao comparar a situação do Rio à da Bahia, onde o ministro do Desenvolvimento Regional, Geddel Vieira Lima (PMDB), é pré-candidato ao governo, apesar de o PT estar engajado na campanha pela reeleição do governador Jaques Wagner. ;Se Geddel pode ser candidato, por que não posso colocar meu nome?;, perguntou o prefeito de Nova Iguaçu, que acredita que os tempos de intervenção no PT acabaram.
No Maranhão, o candidato apoiado pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB), ficou em primeiro lugar no primeiro turno. O ex-presidente do Incra Raimundo Monteiro, da mesma chapa de Berzoini, a Construindo um novo Brasil, conseguiu 4,2 mil votos, e defende o apoio do partido à reeleição da governadora Roseana Sarney. Já Augusto Lobato, que ficou em segundo, com 3,1 mil votos, tem o apoio do atual presidente, deputado Domingos Dutra, e insiste na candidadura própria. Outra opção de Lobato, que se uniu aos outros dois candidatos derrotados no primeiro turno (Bira do Pindaré e Rodrigo Comerciário) e recebeu apoio dos outros, é o apoio à candidatura do deputado federal Flávio Dino (PCdoB).
No Amapá, a favorita é Nilza Amaral, da corrente Construindo um Novo Brasil, que enfrenta Joel Banha, apoiado por tendências de esquerda. A participação dos petistas no primeiro turno foi recorde. Foram às urnas em 22 de novembro 518.912 filiados, bem mais que os 326 mil do PED anterior, em 2007.