postado em 16/12/2009 07:00
São Paulo ; Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada ontem, em São Paulo, referendou que Brasília é a capital do serviço público. Dos 857 mil brasileiros que trabalham para órgãos do governo federal, 34% estão empregados no DF. Em todo o país, o levantamento mostra que 79% dos empregados no setor público estão em órgãos do Poder Executivo. Pelo menos 426 mil moradores da capital federal têm emprego público, representando 37% da população economicamente ativa. Em todo o país, o trabalho em órgãos do governo representa 21% das ocupações formais. O levantamento do Ipea foi realizado com base em dados da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho. ;Para quem sonha com estabilidade, Brasília ainda é o melhor caminho;, ressalta o consultor de Recursos Humanos Douglas Mikhail.
Se a concentração de servidores públicos fosse uma competição, o Centro-Oeste ocuparia o lugar mais alto do pódio quando se trata de quantidade de funcionários do governo por habitantes. Nessa região, 6,8% da população é composta por empregados do setor público. Em segundo lugar está o Sudeste (5,17%) e em terceiro, o Nordeste (5,15%).
Por outro lado, a proporção entre emprego público e ocupações formais é maior na região Norte (38,2%), seguida por Nordeste (33,1%), Centro-Oeste (29,3%), Sudeste (15,7%) e Sul (15,1%). Já em relação à distribuição do emprego público nas esferas de governo, o estudo aponta que a esfera municipal concentra 53% dos empregos públicos, seguida pelas esferas estadual (38,2%) e federal (8,2%) e pelas empresas estatais (0,6%).
Na avaliação dos técnicos do Ipea, a alta do emprego público ocorre na esteira do fortalecimento da economia. ;No Brasil, como também ocorreu nos países desenvolvidos, o emprego público geralmente cresce à medida que se efetua o desenvolvimento econômico, pois este cria a necessidade de aumento dos serviços públicos, principalmente nas áreas de infraestrutura, educação e saúde;, destaca o relatório do Ipea.
Além da estabilidade, outra vantagem apontada pelo Ipea quando se fala em concurso são os salários médios pagos pelo setor público. Em 2008, foram 56% maiores do que os rendimentos verificados no setor privado. ;Um estudo aponta que cerca de um terço dos trabalhadores no setor público tem nível superior completo, enquanto no setor privado, em 2008, esse número era de 11,4%;, ressalta o economista Carlos Andrade Constantino, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Bancos públicos
Os bancos mantidos pelo Poder Público não têm agência em mais da metade dos municípios brasileiros (2,9 mil), segundo o Ipea. Isso significa que cerca de 30 milhões de brasileiros em 42% do território, se quiserem abrir conta-corrente, são obrigados a recorrer a instituições privadas, que cobram tarifas maiores. Nos lugares onde não há banco público, o governo também é obrigado a usar serviços de bancos privados para pagar benefícios destinados à população carente, como o bolsa-família.
O Ipea classifica como instituições financeiras públicas o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o Banco do Nordeste. As três instituições mantêm abertas 6.663 agências em todos os estados, sendo que 5,1 mil são do Banco do Brasil.
O município de Jordão, no Acre, conta apenas com uma agência do Bradesco para atender a população de 5 mil habitantes. Segundo o vereador Rolando Costa (PSDB), o governo federal esqueceu a localidade, que faz fronteira com a Bolívia. ;Um amigo meu, fazendeiro na região, preferiu abrir uma conta no país vizinho por causa da falta de infraestrutura aqui;, reclama.
Segundo a pesquisa do Ipea, os bancos públicos privilegiam as regiões mais ricas do país para abrir agências. No total, 2.596 municípios possuem alguma agência de banco mantido pelo governo federal. Desse total, 63,4% estão nas regiões Sul e Sudeste. Para efeito de comparação, só no estado de São Paulo, há 1.375 agências públicas. Em todo o Nordeste, há 1.536 unidades.
"No Brasil, como nos países desenvolvidos, o emprego público geralmente cresce à medida que se efetua o desenvolvimento econômico, pois este cria a necessidade de aumento dos serviços públicos, principalmente nas áreas de infraestrutura, educação e saúde"
Trecho do relatório do Ipea
Trecho do relatório do Ipea
Perfil
- 10 milhões era o número de servidores públicos no Brasil
- em 2007, segundo pesquisa realizada pelo Ipea
- 41%, a maior parte, estão na região Sudeste
- 26,5% trabalham na região Nordeste
- Na análise proporcional, a região Centro-Oeste é a que tem maior percentual de funcionários públicos:
- 6,8% da população no Centro-Oeste é composta por empregados do setor estatal.
- Em segundo lugar aparece o Sudeste (5,17%), seguido pelo Nordeste (5,15%)
- 426 mil moradores da capital federal têm emprego público
- 79% dos empregados do setor público em âmbito nacional concentram-se no Poder Executivo
- 55% dos municípios não possuem agências de bancos públicos federais
Órfãos do SUS
A pesquisa do Ipea revelou que 33,5% dos municípios brasileiros (1.867) não possuem qualquer estabelecimento que faça atendimento de urgência pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O levantamento foi realizado no início do ano com base em informações fornecidas pelo Ministério da Saúde.
No conceito dos técnicos do Ipea, caracterizam-se como serviços de urgência os atendimentos que funcionam 24 horas e que oferecem equipes com médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e socorristas. A equipe deve cuidar de casos graves envolvendo traumas, clínica, pediatria, cirurgia e ginecologia-obstetrícia. No caso dos municípios em questão, a população não conta com o serviço. Gestantes que queiram dar à luz durante a madrugada, por exemplo, têm de esperar o dia seguinte.
Umas das cidades brasileiras que não contam com atendimento de urgência pelo SUS é Quatipuru, no nordeste do Pará. O município tem 12 mil habitantes e vive da pesca e do artesanato. Quando um paciente precisa de atendimento à noite no único pronto-socorro público, é levado para cidades próximas. ;Quando a novela das oito começa, não tem mais hospital aberto;, diz a enfermeira Cassandra Luz, do Conselho Tutelar da cidade, que tem três hospitais, todos particulares.
Os dados do Ipea revelam ainda que pelo menos 1.800 cidades não têm locais para internação. Até uma obrigação determinada em lei é esquecida em outros 2.780 municípios: eles não contam com vigilância sanitária. ;A população que mais precisa é a que mais sofre. E há uma dificuldade de se deslocar de um município para o outro em busca de atendimento;, ressalta o presidente do Ipea, Márcio Pochmann.
Dos municípios que não contam com atendimento médico de urgência, 31,7% estão na região Sudeste; 29%, no Nordeste; 24,2%, no Sul; 5,9%, no Norte, e 9,3%, no Centro-Oeste. Na mesma pesquisa, o Ipea descobriu que, em 428 localidades, não há médicos que atendam pelo SUS. Até o estado mais rico do país tem cidades neste rol: Paraíso, na região de São José do Rio Preto, em São Paulo, tem 5 mil habitantes e nenhum hospital público.