Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 20/12/2009 08:00
Sem chance. O grão-tucanato finge acreditar numa chapa puro-sangue para disputar a Presidência da República no ano que vem, mas já foi devidamente avisado de que não vai contar com a presença do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), como candidato a vice do colega de São Paulo, José Serra (PSDB). "Antes havia duas possibilidades, agora só há uma alternativa." A frase foi ouvida por vários caciques social-democratas e saiu da boca de Aécio. O resto é jogo de cena. Por "alternativa", leia-se o Senado. Ontem, ao ser perguntado se poderia ser vice de Serra, Aécio foi taxativo. "A minha resposta é muito simples: sequer cogito essa hipótese".
A declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos que foram avisados por Aécio da decisão sem volta de não ser candidato a vice, é sintomática. FHC afirmou que há um "sentimento nacional" pela chapa do mineiro com José Serra. É uma tentativa de manter acesa a chama da possibilidade. Vã tentativa, bem sabe Fernando Henrique.
Se quiserem insistir, no entanto, os tucanos podem se preparar para conhecer o interior de Minas. É lá que eles encontrarão o governador nos próximos meses, com o vice-governador Antonio Anastasia (PSDB), que assumirá o Palácio da Liberdade e disputará a reeleição, a tiracolo. Ontem, os dois estavam em Setubinha, cidade com 11.383 habitantes e 7.364 eleitores, para lançar obras do Pró-Acesso, um programa de asfaltamento de estradas. Foi na mesma região que Aécio lançou a sua candidatura à reeleição em 2006. É uma questão sentimental. Seu pai, o ex-deputado Aécio Cunha, é da região.
A pressão será grande, mas alguns tucanos sabem que a candidatura de Aécio ao Senado é irreversível. Bem, nem tanto. Ele poderia rever a possibilidade de disputar a Presidência, mas, para isso, Serra teria que desistir em tempo hábil para a montagem de uma ampla aliança, que só o governador de Minas tem condições de fazer.
Alianças
[SAIBAMAIS]Com Serra na cabeça de chapa, a aliança tucana para o ano que vem orbitará em torno apenas do DEM e do PPS. Com Aécio, poderia atrair vários partidos que hoje integram a base do presidente Lula. O PP é presidido pelo senador Francisco Dornelles (RJ), que, aliás, está a cara do primo Tancredo Neves. É uma questão de família. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, esteve com Aécio Neves em Belo Horizonte no dia do anúncio da desistência. Outras legendas, como o PTB e o PR, também certamente fechariam com a candidatura do governador mineiro.
O PSB poderia ter papel de destaque na composição se o candidato tucano à Presidência da República fosse Aécio. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) várias vezes anunciou que apoiaria sua candidatura. Poderia ser o nome a vice.
Aécio também teria mais facilidade para transitar no PMDB, quem sabe até virar o jogo, hoje favorável ao apoio à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), principalmente se ela demorar a subir nas pesquisas.
O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), é outro que sabe que a decisão de Aécio é irreversível. Tanto que não faz coro com os demais tucanos, principalmente os paulistas, que ainda nutrem esperança de uma chapa puro-sangue. "Extremamente difícil", tem dito ele sobre a possibilidade.
Guerra esteve em Minas na quinta-feira. Saiu impressionado com a comoção por causa da desistência do governador. Pouco antes, na companhia do secretário-geral, deputado Rodrigo de Castro (MG), Guerra passou um longo tempo lendo a carta de Aécio ao partido. Depois, perguntou: "Quando você vai anunciar isso?" Tomou um susto com a resposta: "Daqui a duas horas".
Empenho prometido
Bonito de Minas - Logo após o anúncio do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de que deixará a disputa presidencial em 2010, alguns aliados do mineiro levantaram-se para demonstrar falta de interesse em apoiar o eventual candidato tucano, o governador de São Paulo, José Serra. Questionado ontem sobre sua participação na campanha tucana, Aécio avisou que o PSDB terá sua "lealdade" e "empenho" em Minas Gerais.
"Eu estarei sempre ao lado dos meus companheiros quando o partido definir o seu candidato. Serei aqui mais um soldado entre tantos, mas, obviamente, o candidato é que vence as eleições. Mas, em Minas, o PSDB terá um palanque extremamente forte. O mais forte no estado. E terá, como sempre teve, a minha lealdade e o meu empenho."
Há uma preocupação na direção tucana de que, confirmada a saída de Aécio do páreo e Serra escolhido candidato do PSDB, ocorra uma debandada entre os aliados do governador em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo. O temor tem fundamento. Partidos como o PMDB mineiro estavam divididos enquanto Aécio ainda batalhava para ser o nome tucano na corrida presidencial. Agora, os peemedebistas no estado já se aglutinam em torno da pré-candidatura da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Alerta
O governador mineiro já está cumprindo pelo menos um dos alertas feitos ao comando do PSDB: o de que se embrenhará em Minas para tentar eleger o sucessor. Seu escolhido é o vice-governador Antonio Anastasia. Ontem, ele visitou duas cidades no interior do estado e confirmou como será seu comportamento: "A partir de agora, estarei dedicado integralmente a caminhar por Minas Gerais e quem sabe, apontar para um futuro de continuidade da nossa obra de governo", afirmou. "Sou todo Minas e dos mineiros a partir de agora e com um orgulho enorme. Esse reencontro com minha gente é o meu combustível, que me permite acreditar no futuro", avisou. "Independente da questão nacional, estarei percorrendo Minas Gerais, inaugurando obras, e reencontrando as pessoas", disse Aécio, ao participar da inauguração de obras em Setubinha, no Vale do Jequitinhonha.
As viagens também poderão ser aproveitadas para fortalecer a sua campanha ao Senado. Em discurso na praça pública, Aécio disse que dentro de três meses deixará o Palácio da Liberdade. "Deixo o governo, mas não deixo a vida pública. Continuarei na vida pública onde quer que eu esteja. Triste do homem público que pensa viver solitário. A política se faz sendo solidário", assegurou. Ele, no entanto, não falou abertamente qual cargo disputará na eleição do próximo ano.
Vale até cavalgada
Bonito de Minas - Quando um político vive um momento favorável e aproveita esse momento para se lançar candidato a um cargo, costuma-se dizer que ele "monta no cavalo arreado". Certamente, o governador Aécio Neves percebeu que não vivia esse conforto ao anunciar, na última quinta-feira, a desistência da pré-candidatura a Presidência da República. Mas, ontem, Aécio, literalmente "montou no cavalo", o que fez também o vice-governador Antonio Anastasia. O fato aconteceu em Bonito de Minas, norte do estado, onde Aécio e Anastasia inauguraram a obra de asfaltamento até a cidade. Após o ato público, eles participaram de uma cavalgada ao longo de três quarteirões.
Os dois fizeram um pequeno percurso de uma cavalgada organizada pelo "Clube do Cavalo de Bonito de Minas". Montados, eles percorreram cerca de 800 metros da praça da prefeitura até a casa do prefeito da cidade, José Raimundo Viana (PR). Aécio e o vice permaneceram na residência por cerca de 15 minutos. Conversaram e tiraram fotos com prefeitos e outras lideranças. O tucano aproveitou o momento de descontração para pedir o empenho dos prefeitos no trabalho em prol da eleição de Anastasia. "Cuida do homem aí", conclamou.
Na cidade de 8,9 mil habitantes e que tem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,58, um dos mais baixos do estado, o governador recebeu várias manifestações para que possa rever a sua posição em relação à candidatura à sucessão presidencial. Uma placa em frente a praça onde aconteceu a solenidade de inauguração do asfalto dizia: "Agora ou mais pra frente, Aécio presidente". Uma faixa lembrava: "No passado, o Brasil perdeu o presidente Tancredo. O Brasil do futuro não pode perder Aécio". Quando o governador chegou à praça principal de Bonito de Minas - com uma hora e meia de atraso -, um grupo de estudantes começou a gritar "Aécio presidente".
Na cidade, porém, Aécio não fez nenhuma referência à eleição nacional. Fez questão de destacar apenas os investimentos nas regiões mais pobres do estado: o norte de Minas e vales do Jequitinhonha e Mucuri. Assim que terminou a solenidade, o governador e Anastasia montaram a cavalo.