postado em 22/12/2009 08:39
Inconformado com as sucessivas derrotas do PT em São Paulo e com a insistência do partido em se isolar nas eleições, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou ontem uma ofensiva sobre seus correligionários. Num café da manhã com jornalistas credenciados na Presidência da República, Lula apontou erros estratégicos dos petistas, responsabilizando-os pela coleção de derrotas para o PSDB no estado que é berço das duas legendas e o maior colégio eleitoral do país.
A crítica do presidente foi feita num momento em que a aliança com o PMDB depende cada vez mais de entendimentos em estados onde o PT insiste em lançar voos solos. Essa resistência à parceria coloca em risco o plano de eleger a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com a ajuda de um amplo leque de apoios. Se dependesse do presidente, o PT sacrificaria candidaturas próprias em prol da vitória da "mãe do PAC" na corrida ao Palácio do planalto.
O caso mais emblemático ocorre no Rio de Janeiro, onde Lula quer tirar o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, da sucessão estadual e obrigá-lo a aderir à chapa à reeleição do governador peemedebista Sérgio Cabral. Os dois partidos também seriam rivais, se a eleição fosse hoje, em outros grandes colégios eleitorais, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul. No caso de São Paulo, Lula defende o deputado Ciro Gomes (PSB) para a disputa estadual e tenta enquadrar o PT a apoiá-lo. Não é à toa. Ciro deixaria o páreo nacional, o que fortaleceria a ideia de um plebiscito entre Dilma e o concorrente tucano, provavelmente o governador de São Paulo, José Serra.
Ex-ministro da Fazenda e da Integração Nacional, o deputado também teria condições de abocanhar uma parte do eleitorado paulista que, historicamente, não vota no PT . Sobretudo empresários. "O PT precisa entender que 30% não elege mais candidato, precisa de 50% 1. A palavra é aliança política. É preciso discutir com os partidos e saber quem tem os 20% complementares: partido, empresários ou personalidades", disse o presidente sobre a sucessão paulista, entre um gole de café preto e outro.
E foi o próprio Lula que se meteu nesse beco sem saída quando se candidatou em 1982 ao governo estadual. Na época, petistas levavam o número 3, e não o 13, na bandeira. Na televisão, o atual presidente, com uma grande barba negra, cunhou a seguinte frase: "Contra burguês, vote três". Vinte anos mais tarde, chegou ao poder graças ao apoio de um empresário bem-sucedido, o ex-senador e dono da Coteminas, José Alencar. "O PT precisa procurar o seu Zé Alencar", disse, responsabilizando o vice por derrubar as barreiras do empresariado à sua figura.
Problema doméstico
O PT paulista tenta se sintonizar com a visão de Lula. E aposta em duas filiações para quebrar a barreira dos 30%: o vereador mais votado da capital, Gabriel Chalita (ex-PSDB), que disputará uma vaga de senador pelo PSB, e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, segundo disse o líder petista na Câmara, Cândido Vaccarezza. A incapacidade de fazer alianças por todo o Brasil se alia a uma estratégia equivocada em São Paulo, de acordo com Lula: nunca ter repetido duas vezes o mesmo candidato ao governo do estado.
Em 1986, o concorrente foi Eduardo Suplicy. Em 1990, Plínio de Arruda Sampaio. O deputado cassado José Dirceu foi o escolhido quatro anos mais tarde. A ex-prefeita Marta Suplicy disputou em 1998, seguida por José Genoino (2002) e Aloizio Mercadante (2006). Em todas as eleições, o partido nunca conseguiu agregar uma força conservadora ou empresarial. Limitou-se a se fechar com partidos de esquerda. "O PT sempre faz aliança pela esquerda. É a soma de zero pelo zero. Não adianta", criticou o presidente.
Na capital paulista, o PT coleciona apenas duas vitórias. A primeira foi em 1988, com a hoje deputada Luiza Erundina, quando não existia segundo turno e bastavam 30% para a vitória. A segunda ocorreu em 2000, quando o PT só conseguiu chegar à prefeitura porque Marta Suplicy disputou o segundo turno contra Paulo Maluf (PP) com apoio do então governador Mário Covas (PSDB).
Limpando o terreno
O empurrão que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu no deputado Ciro Gomes (PSB-CE) para jogá-lo na disputa pelo governo paulista foi reforçado ontem. Pensando em fortalecer uma eleição plebiscitária entre as gestões tucana e petista, agora que o governador José Serra se tornou candidato à Presidência da República do PSDB, Lula espera convencer seu aliado a desistir da corrida pelo Palácio do Planalto.
"O Ciro é como se fosse um irmão. É de uma lealdade extraordinária, companheiro de primeira hora. Se o Ciro acha que tem de ser candidato, ele tem todo o direito. Agora, se eu perceber que o jogo político não comporta mais de uma candidatura da base, tenho que ser leal e discutir com ele", disse Lula durante o café da manhã com jornalistas. O objetivo do presidente é evitar a diluição de votos em dois ou mais candidatos de seu campo de apoio e, assim, o fracasso do projeto de tornar a eleição do ano que vem uma disputa entre os que aprovam e rejeitam seu governo.
Lula citou a dificuldade que a presidente do Chile, Michele Bachelet, encontrou para transferir 80% de aprovação em vitória de um dos seus dois candidatos a presidente. Lá, a base governista se dividiu e abriu espaço para um empresário conservador dono da companhia aérea Lan Chile, Sebastián Piñera. Ele venceu o primeiro turno e disputará nova rodada de votação com o ex-presidente Eduardo Frei, que tem apoio de Bachelet.
Lula pretende deixar Ciro manter a candidatura à Presidência até uma conversa definitiva entre março ou abril. Uma das possibilidades de o deputado continuar na disputa é as pesquisas qualitativas mostrarem que ele suga votos de Serra e não tem impacto na candidata petista Dilma Rousseff.