postado em 25/12/2009 08:31
Os três principais partidos nos quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta para vencer as eleições em 2010 vivem um momento conturbado, uma espécie de crise de relacionamento. São alvos de tentativa de desestabilização e de boicote. Fogo amigo, inimigo, não importa. A relação entre PT, PMDB e PSB está à prova constantemente. A toda hora aparece um incêndio entre eles. E, depois, um bombeiro para reafirmar a importância de o trio trabalhar junto a fim de garantir a vitória de um candidato governista no próximo páreo presidencial.O presidente Lula quer o apoio do PMDB à sua candidata, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). A fim de formalizar a troca de alianças, já ofereceu à maior sigla do país o direito de indicar o vice na chapa. Para peemedebistas, no entanto, o petista dá declarações e move peças que estremecem o noivado. Por exemplo: o pedido público para que o PMDB apresente uma lista tríplice de pretendentes a vice da ;mãe do PAC;. O gesto foi compreendido como um ataque especulativo ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), até então favorito para o papel de coadjuvante.
Lula também conta com o PSB em 2010. Não quer que a legenda lance o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ao Palácio do Planalto. Se não convencê-la, espera pelo menos que o parlamentar fustigue os calcanhares dos tucanos no primeiro turno e, na segunda rodada, cerre fileiras com Dilma. As conversas estão encaminhadas, mas não sem atritos. Nesta semana, por exemplo, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) pôs lenha na fogueira ao dizer que Ciro ;pegou o pau de arara na direção errada;, por ter nascido em São Paulo e se criado politicamente no Ceará.
Mercadante foi tachado de preconceituoso com os nordestinos. De quebra, comprou briga com o presidente do PSB, Eduardo Campos, governador de Pernambuco. Não foi à toa. O senador petista declarou que Campos não terá a ajuda de Lula na campanha à reeleição caso o PSB não desista da candidatura Ciro. O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, teve de entrar em campo para apaziguar os ânimos do governador e dos socialistas. Presidente do PT, o deputado Ricardo Berzoini (SP) classifica de normais as tensões entre os partidos.
Berzoini lamenta, no entanto, ter de reafirmar, constantemente, a importância das boas relações entre as siglas, sobretudo depois de declarações desastradas de petistas. Sejam públicas ou em conversas de bastidor. ;Sempre tem alguém que dá uma declaração em off;, reclamou Berzoini.
Tensão
Vítima das estocadas de Mercadante, o governador Eduardo Campos atua em linha com Lula, mas também tem se queixado das fricções desnecessárias, inclusive as provocadas por colegas de legenda. Por exemplo: quando Ciro atacou a relação entre PT e PMDB e lançou críticas a Temer e aos deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), líder da bancada na Câmara, e Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A alfinetada de Ciro e a resistência de setores do PT em dar a vice a Temer fizeram o presidente da Câmara explicitar sua insatisfação. Temer deixou claro que se sente boicotado pelo partido de Lula.
;Nós temos os votos suficientes para fazer a aliança e ter o vice de Dilma. E o nosso candidato é o presidente Michel Temer;, afirma o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), ex-ministro das Comunicações na gestão Lula. ;Se eles quiserem ganhar a eleição com a gente, o escolhido é o Temer;, acrescenta. A forte defesa de Eunício ocorre depois que Lula disse que o ideal seria o PMDB apresentar uma lista com três nomes para Dilma e o PT escolherem. Os peemedebistas divergiram sobre as intenções de Lula.
Uns falaram que ele explicitou o descontentamento com Temer. Outros, que quis testar se o presidente da Câmara é uma unanimidade no partido. A terceira leitura é que ele deu a senha para petistas trabalharem para tornar Ciro Gomes o vice. ;As declarações do Temer o fortalecem como presidente e como candidato. Quem vai decidir o vice é o PMDB, num acordo com o PT e com a Dilma;, diz o líder petista na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).
"Nós temos os votos suficientes para fazer a aliança e ter o vice de Dilma. E o nosso candidato é o Temer"
Deputado Eunício Oliveira, ex-ministro das Comunicações
"Sempre tem alguém que dá uma declaração em off"
Deputado Ricardo Berzoini, presidente do PT
Harmonia em nome de Dilma
Sob a batuta do presidente Lula, as cúpulas do PT e do PSB terão uma conversa definitiva sobre a estratégia eleitoral em março. Na ocasião, será decidido se o deputado Ciro Gomes concorrerá ao Planalto. Lula não o quer no páreo. Mas aceitará sua participação se o parlamentar estiver bem nas pesquisas ou for fundamental para garantir a realização de um segundo turno entre um governista e o competidor da oposição ; provavelmente o governador de São Paulo, José Serra.
Se a decisão for a favor da candidatura de Ciro, o PSB diz ter o compromisso de Lula de colocar alguma legenda da base aliada para apoiá-lo e aumentar seu tempo de televisão. Essa possibilidade será levada em conta desde que resulte em menos votos para Serra, já que o deputado pode abocanhar eleitores com perfil conservador. Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Kramer, a candidatura de Ciro se sustenta justamente por se tornar um contrapeso à força de Serra.
;O Ciro pode ser uma terceira força à medida que traz votos de pessoas de tendência conservadora, que prefeririam o Serra como voto útil só para não eleger a Dilma;, diz Kramer. ;Ele está manobrando para ser o fiel da balança.; Os socialistas temem, no entanto, que a queda de Ciro nas pesquisas inviabilize o projeto presidencial da legenda. De uma candidatura que era vista como muito provável há três meses, ela virou uma espécie de azarão. ;É grande a possibilidade de ele não sair candidato;, afirma um parlamentar do PSB.
O problema, segundo eles, é o pouco de volume de campanha, sintetizado em falta de palanques competitivos nos estados e tempo escasso de TV. ;Não tem esse negócio de candidatura olímpica, e o Ciro não vai entrar nessa;, diz um integrante da cúpula do PSB. Lula está empenhado em formar uma coalizão com PT, PMDB e PSB e espera esclarecer a confusão até abril, quando Dilma Rousseff deixará o governo para mergulhar na campanha. (TP)
Musculatura partidária
Veja o tamanho de cada uma das três siglas
PMDB
Governadores: 9
Prefeitos: 1.203
Senadores: 17
Deputados federais: 88
Filiados: 2.044.629
PT
Governadores: 5
Prefeitos: 557
Senadores: 11
Deputados federais: 77
Filiados: 1.249.211
PSB
Governadores: 3
Prefeitos: 311
Senadores: 2
Deputados federais: 27
Filiados: 437.419