Politica

Três dos principais nomes do PT, acusados de envolvimento no esquema de propina a deputados, recuperam posição de destaque na legenda

Patrícia Aranha
postado em 02/01/2010 07:00
Ao completar 30 anos, o PT está prestes a reintegrar na direção do partido os protagonistas do maior escândalo que abalou a legenda, conhecido como mensalão, um suposto esquema de pagamento a deputados da base aliada para garantir apoio ao governo. O Diretório Nacional que tomará posse em fevereiro, quando a legenda faz aniversário, deverá incluir o nome de alguns deles, como o do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, do ex-presidente José Genoino e do ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha, réus no processo aberto pelo Supremo Tribunal Federal. Todos eles integraram a chapa vencedora, o Partido que Muda o Brasil, que recebeu 55,1% dos votos e fazem parte da mesma corrente do presidente eleito José Eduardo Dutra e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Construindo um Novo Brasil. Alguns filiados defendem a participação dos mensaleiros até na Executiva Nacional, uma instância menor (composta por 21 membros, enquanto o Diretório tem 81) e que com maior poder, mas isso ainda depende de negociação entre as chapas, que têm até dia 26 para encaminhar os nomes dos indicados para o Diretório. A discussão nos bastidores começou logo depois do primeiro turno da eleição interna no final de novembro, quando meio milhão de filiados foi às urnas. José Nobre Guimarães %u2013 irmão de José Genoino, que teve um assessor preso com dólares na cueca %u2013 e Mônica Valente, mulher do ex-tesoureiro Delúbio Soares, já integram o atual diretório, que será substituído dentro de um mês. A volta de José Dirceu está sendo ensaiada há muito tempo. Único no partido a ter o mandato de deputado cassado por quebra de decoro parlamentar %u2013 de outras legendas, perderam o mandato os presidentes do PTB, Roberto Jefferson (autor das denúncias) e do PP, Pedro Corrêa %u2013, Dirceu foi homenageado como ex-presidente da legenda na primeira comemoração dos 30 anos do partido, em 8 de dezembro, num restaurante em Brasília. Foi saudado pelo locutor como "imprescindível" na campanha presidencial deste ano da ministra candidata, Dilma Rousseff, que garantiu que o PT conseguiu curar suas feridas, numa referência ao mensalão. O ex-presidente é defendido por petistas históricos como Wagner Benevides, um dos fundadores do partido. "O José Dirceu é o que mais sofre até hoje. Era o candidato natural do PT para a eleição de presidente em 2010. Foi sacrificado e teve muita moral para não acusar ninguém", afirmou, garantindo não concordar com o que aconteceu, identificado com uso de caixa 2 na campanha. "Alguns companheiros, como o Delúbio, acharam um caminho fácil e perigoso. Agiram sem consequência e prejudicaram todo um partido, mas a Justiça está aí e até hoje não condenou ninguém", argumenta. Separação O cientista político Leonardo Avritzer, da UFMG, que divide a história do PT em três momentos, avalia como nocivos os efeitos do mensalão. "A bandeira ética foi a mais importante da segunda fase do partido, que vai desde a redemocratização até o início do governo Lula, quando a bancada do partido era considerada a mais ética do Congresso e praticamente não havia denúncias de corrupção em governos municipais e estaduais do PT. O mensalão abala a convicção de que havia um PT regenerador do processo político brasileiro", afirma. A solução encontrada por Lula e pelo partido (1) para que o escândalo não abalasse a governabilidade foi afastar a máquina partidária do governo, o que teria se acentuado no segundo mandato. "O segundo governo Lula, sem escândalos da dimensão do mensalão, é mais exitoso. Talvez o segredo seja uma forte separação entre governo e máquina partidária. No primeiro mandato, os ministros mais importantes são os da máquina, como o José Dirceu. Havia quase uma coincidência entre governo e partido, mas hoje os ministros mais fortes não têm história na construção do partido, como a própria Dilma", lembra. 1 - Popular O PT chega aos 30 anos como um partido maior e mais popular. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, apresentou o resultado de pesquisa feita pelo instituto Vox Populi, que mostrou um salto na preferência partidária em favor do PT: de 19% dos entrevistados em 2004, segundo ano do governo Lula, para 30% em 2009. A rejeição oscilou de 8% para 7%. O levantamento mostrou que 36% acreditam que o PT é a legenda que mais ganha importância política e possui lideranças fortes e que 60% simpatizam com o partido.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação