postado em 13/01/2010 08:15
A oposição encontrou a brecha que procurava para polemizar os debates antigoverno quando o Congresso voltar ao trabalho no próximo mês. Parlamentares do DEM e do PSDB vão tentar associar as críticas ao Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) à imagem da ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República. Os congressistas apostam na dificuldade de aprovação dos projetos nos próximos meses porque sabem que a disposição em votar e debater temas que causam divisão de opinião nos eleitores é quase nula às vésperas de uma eleição. Dessa forma, acreditam que as propostas contidas no programa criado pelo Executivo servirão como vitrine para os parlamentares em campanha, mas não chegarão a ser votadas.Na avaliação do líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), o debate das matérias no Congresso resultará em mudanças significativas no teor das intenções governistas e deve mostrar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que é hora de recuar. ;Essa história chegará ao parlamento com o mesmo clima de divergências que enfrenta no próprio governo. Foi mais uma trapalhada do presidente e deve tomar outra forma durante as discussões que faremos no Congresso;, disse.
O recuo do governo quanto ao programa é tido como certo pelo vice-líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR). Para o senador, o conhecido temor dos parlamentares de enfrentar temas polêmicos em ano eleitoral deve esfriar os ânimos em torno da votação das propostas contidas no projeto do Executivo. ;Normalmente, projetos que despertam resistências de alguns setores vão para a gaveta em ano eleitoral. Creio que com esse não será diferente e por isso deve haver um recuo do governo. Nem para integrantes da base aliada vale a pena enfrentar esse desgaste;, opina Dias.
Mas o governo também tem suas estratégias para que o PNDH não faça estrago eleitoral ou traga desgastes não só para a ministra, mas também para o presidente Lula. Apesar de as propostas mais polêmicas terem necessariamente que passar pelo Congresso, um dos argumentos é de que, com exceção da criação da Comissão Nacional da Verdade, quase todos os pontos do plano são idênticos ao último programa de direitos humanos lançado em 2002 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
[SAIBAMAIS]Segundo assessores de Lula, outro argumento que a oposição e juristas utilizam é sobre a inconstitucionalidade do plano, sob a afirmação de que ele praticamente dita regras. O governo rebate, alegando que o PNDH é ;programático;. ;Ele recomenda a adoção de algumas ações, mas não normatiza. Ou seja, não transforma a recomendação em lei;, explica um auxiliar direto de Lula. Além disso, o governo pretende rebater com mais ênfase a crítica de que a Lei da Anistia poderia ser modificada. ;Isso nunca chegou a ser cogitado;, observa o assessor.
Aborto
Outra questão é sobre o aborto,(1) um dos pontos em que Lula discorda no texto do PNDH. O presidente quer tratar o assunto como questão de saúde pública, como fez Fernando Henrique Cardoso em seu programa.
Mas o problema do governo continua sendo a Comissão Nacional da Verdade, que provoca discórdias internas, principalmente entre os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e da Secretaria dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. A tendência é Lula tentar amenizar o texto, ou mesmo retirá-lo do plano, uma ideia que não agrada a Vannuchi. Entretanto, assessores palacianos afirmam que a situação, apesar de ainda haver rusgas, está sob controle. Mas a definição sobre o desenrolar dos acontecimentos só será dada pelo presidente.
1 - Saúde pública
No programa de 2002, o aborto é citado várias vezes no texto. Em uma dessas referências, o projeto diz que a questão é um tema de saúde pública, com garantia de acesso aos serviços de saúde para os casos previstos em lei. O plano destaca alguns casos em que a prática seria permitida, como quando houvesse estupro. Nos demais itens relacionados à saúde da mulher, o conteúdo é parecido com a atual proposta do governo Lula.