Politica

Corrida eleitoral pelo Planalto terá efeito direto nas costuras dos partidos para aprovar projetos estratégicos no Congresso

postado em 23/01/2010 07:02
O deputado Fernando Ferro (PT-PE) acha difícil hastear bandeiras contra um governo bem avaliadoEm ano (de guerra) eleitoral, líderes do governo e da oposição no Congresso preparam-se para desestabilizar as bases adversárias. A tática consistirá em cooptar votos no terreno inimigo, para impedir a aprovação ; ou derrota, a depender do caso ; de projetos importantes. O discurso de convencimento dos dissidentes será construído sob o pano de fundo das costuras de palanques nos estados. Os dois lados vão investir nisso, na tentativa de desequilibrar placares na Câmara e no Senado.

Na volta do recesso, o PSDB quer direcionar o trabalho para a campanha presidencial. O novo líder da bancada, João Almeida (BA), vai reunir-se com correligionários para discutir formas de dar um viés eleitoral para a atuação tucana. Uma das ordens é identificar os deputados que fazem parte da base governista que estão descontentes no plano regional. O tucanato quer criar todo tipo de instabilidade e constrangimento à candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

;É preciso identificar em cada bancada quem está deslocado no plano local, quem está descontente e quem pode fazer um palanque na Câmara para o Serra;, disse o deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO). Alguns parlamentares participarão de reunião informal em Aracaju neste fim de semana para discutir questões internas da campanha e do Congresso.

João Almeida, líder tucano, procura insatisfeitosA ideia é promover discussões de pauta para equilibrar o bate-boca público com os petistas. ;Queremos afinar a viola. Organizar como vender melhor e discutir os temas importantes, ver qual o protagonismo que a bancada terá na campanha, e como vamos desdobrar as ações no Congresso;, explicou João Almeida. As prioridades da bancada são discutir o pré-sal, o Programa Nacional de Direitos Humanos e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A estratégia vai se repetir do lado encarregado de blindar a candidatura de Dilma. ;A oposição também enfrentará esse problema. Existem parlamentares receosos que querem a reeleição. Há quem tenha medo de levantar bandeiras contra um governo que conta com 80% de aprovação. O mesmo risco que nós corremos, eles correm;, afirmou o deputado Fernando Ferro (PT-PE), até agora o único nome que apareceu na disputa pela liderança petista na Câmara.

Às moscas


Os líderes partidários sabem que o ano de 2010 será curto. A aprovação de projetos terá de acontecer, no máximo, até junho. Depois disso, os ânimos das duas Casas do Legislativo Federal estarão contaminados pelo período eleitoral. Tanto Almeida quanto Ferro avaliam que em maio o Congresso estará às moscas, com os parlamentares voltados às suas bases, pedindo votos.

Com a cabeça na reeleição, os projetos de lei e propostas de interesse da sociedade acabam ficando em segundo plano. E como esse entendimento já é consolidado, governo e oposição terão de correr para fazer o primeiro semestre render bandeiras que possam ser hasteadas por ambos os lados.

Alguns projetos devem dividir o plenário ao meio. O governo espera resistência, por exemplo, para aprovar a Medida Provisória que estabelece novo valor para o salário mínimo ; de R$ 510. O projeto que trata da regulamentação do pré-sal vai render embates pesados nos plenários. O reajuste dos aposentados causa polêmica em ambos os lados (leia abaixo).


MARINA CRITICA O PAC

Pré-candidata do PV à sucessão presidencial, a senadora Marina Silva (AC) resolveu dar pitaco no debate até então polarizado entre PSDB e PT sobre o futuro do PAC. Para ela, o principal programa de infraestrutura da gestão Lula tem visão equivocada e as obras não se preocupam devidamente com o impacto social e ambiental. ;É a visão da aceleração pela aceleração. Precisamos dos investimentos em infraestrutura, mas eles podem ser feitos de forma cuidadosa com as questões sociais e ambientais;, disse ontem a jornalistas no Rio de Janeiro, onde gravou o programa eleitoral do partido que vai ao ar em 4 de fevereiro.

Ponto de conflito


Com o ano reduzido pela disputa eleitoral, as prioridades da oposição e do governo estão longe de ser as mesmas. Conheça as polêmicas e o que deve render discussão no Congresso Nacional

Reajuste aos aposentados
Pensionistas reivindicam aumento igual ao do salário mínimo, mas o governo concedeu reajuste menor. Essa será uma votação de olho em agradar potenciais eleitores. É quando cresce o ímpeto de governistas em trair a orientação do Planalto.

Pré-sal
O ano terminou com os ânimos acirrados sobre o projeto que cria o modelo de partilha de exploração do petróleo ultraprofundo. A votação não se divide entre governo e oposição, mas em interesses estaduais. As bancadas do Nordeste e do Sul estão unidas contra interesses do Sudeste.

Plano Nacional de Direitos Humanos
A polêmica proposta fechada pela Secretaria de Direitos Humanos inclui desde a criação de uma Comissão da Verdade até medidas de regulação de veículos midiáticos. No balaio de propostas também entram itens que falam de reforma agrária, aborto e união civil entre pessoas do mesmo sexo. Será constituído um comitê no Congresso para discutir o plano.

PAC
A oposição continuará de lupa em cima da execução da bandeira da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e usará o Congresso como meio para canalizar as críticas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação