Daniel Pereira
postado em 04/02/2010 08:42
O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) está irredutível em sua empreitada para se viabilizar candidato ao Palácio do Planalto, contrariando interesses do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o quer fora da jogada. Nessa caminhada, sobram críticas para todos, menos para a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.Ciro sustenta que o PSB adota estratégia errada ao jogar para Lula a responsabilidade de fortalecer sua candidatura. Critica o presidente da República por insistir na tese de eleição plebiscitária e polarizada entre PT e PSDB. E afirma que a única chance de pisar no mesmo palanque da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é na disputa do segundo turno.
Cercado por jornalistas no cafezinho da Câmara, Ciro segurava na mão o papel com a notícia de que Dilma(1) havia dito, no Rio de Janeiro, que gostaria de tê-lo no mesmo palanque. ;Tenho extrema admiração, carinho e respeito pela ministra Dilma, que tem grande potencial para governar o país. Mas, na eleição, quero ser candidato e ela também. Estaremos no mesmo lado político, mas não no mesmo lado eleitoral. Isso só no segundo turno;, rebateu o deputado.
Ciro não hesitou em responder sobre a necessidade de sua candidatura. Para ele, só o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), tem a ganhar com sua desistência. Por isso, insiste em contrariar Lula. ;É um erro a eleição plebiscitária;, afirmou, mas promete aceitar caso o partido decida tirá-lo da jogada. ;Se o PSB pedir, eu deixo de ser candidato docemente.; E se a legenda pedir, como quer Lula, que dispute o governo de São Paulo? ;Vou espernear bastante, um bocado e depois resolver;, respondeu.
Pastar
O deputado aproveitou para alfinetar o ex-ministro José Dirceu. ;O Dirceu deveria assumir um certo recato. Ele não tem coragem de me pedir para retirar a candidatura, até porque eu mando ele pastar na mesma hora;, disse. Sobraram críticas até para o PSB, que prega a necessidade de o presidente encontrar um partido aliado para fortalecer a candidatura do parlamentar. ;É um erro achar que o Lula vai nos dar partido;, disse Ciro, colocando como um grande obstáculo, não intransponível, o pouco tempo de televisão que ele teria caso o PSB não feche alianças para a candidatura presidencial. ;O Lula chegou onde chegou sem ajuda de ninguém;, completou.
Ele nem sequer coloca como obstáculo o desempenho nas pesquisas de intenção de votos, que o colocaram bem atrás de Dilma e do governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Limita-se a questionar a qualidade do levantamento da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) encomendado ao Instituto Sensus. Mas está cauteloso quanto ao crescimento a curto prazo por acreditar que o programa nacional de rádio e televisão do PSB deve lhe proporcionar um ou dois pontos percentuais a mais na próxima pesquisa de intenção de votos.
Se ele minimiza pesquisas, os aliados de Dilma apostam nelas para enfraquecer cada vez mais Ciro Gomes. Para eles, a candidatura do deputado pelo Ceará vai se esvaziar quando ele tiver entre 10% e 8%, mostrando que ele não é mais necessário para garantir o segundo turno. Além disso, apostam que o PSB não desejará manter Ciro na corrida e prejudicar candidatos competitivos nos estados do nordeste.
Afago de Dilma
Em visita ao Rio de Janeiro, a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata petista ao Palácio do Planalto, fez fortes elogios ao deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e disse que gostaria de tê-lo ao seu lado. ;Tenho uma relação muito forte com o deputado Ciro Gomes. Convivi diariamente com ele no primeiro governo. É uma pessoa leal, correta, inteligente, capaz. Gostaria sempre de estar em palanque com ele, mas é uma decisão que não é minha, afirmou.
"Tenho extrema admiração pela ministra Dilma, mas, na eleição, quero ser candidato e ela também. Estaremos no mesmo lado político, mas não no mesmo lado eleitoral"
Ciro Gomes
Ouça entrevista com o deputado Ciro Gomes: