postado em 06/02/2010 10:35
A tentativa de integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT) de usar a tragédia das enchentes em São Paulo contra o governador tucano José Serra tem dividido opiniões dentro do próprio grupo. Apesar de ninguém ter criticado abertamente a representação ; na qual o governador é acusado de omissões no combate aos alagamentos ; feita no Ministério Público pelo líder da legenda na Assembleia Legislativa do estado, Rui Falcão, os petistas são reticentes quanto aos efeitos benéficos da estratégia de tentar apontar responsáveis.A preocupação tem dois motivos. O primeiro deles é o fato de que a legenda já comandou a prefeitura da capital e também teria de arcar com a culpa das falhas de infraestrutura e saneamento da cidade, que, segundo especialistas, têm piorado ao longo dos anos. Por conta do comando que o PT mantém em grandes prefeituras paulistas, como Osasco, Guarulhos e São Bernardo, os integrantes do partido também acreditam não poder apontar a culpa de Serra sem que isso resulte em réplicas.
;Até acho que o atual governo tem culpa pelo que está acontecendo agora. Mas não podemos ignorar que isso aconteceu também em outras gestões. Por isso, não acho bom partidarizar o assunto. Isso só vai esquentar o debate em tempo eleitoral e não haverá resultado prático algum;, avalia o secretário-geral do partido, deputado Eduardo Cardozo (SP). ;Não sou a favor de discursos apontando o governador como culpado dessa tragédia. Todos os agentes públicos têm algum tipo de responsabilidade. Sou contra apontar a culpa do governador só por ele ser de um partido de oposição;, completa o deputado Vicentinho (PT-SP).
Desgaste
Apesar da avaliação dos parlamentares paulistas, a representação feita pelo deputado estadual Rui Falcão tramita normalmente no Ministério Público. Segundo o texto, protocolado no último dia 26, Serra tem praticado má gestão e reduzido os recursos para a prevenção e o combate a enchentes em São Paulo de modo a possibilitar o aumento de gastos com propaganda. ;Acho que essa ação não tem muito sentido. Faz parte do jogo político, mas quem mora no estado sabe que governantes do passado passaram por problemas parecidos independentemente do partido que integravam. O problema agora é que se recorre ao MP até por uma unha encravada;, critica o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP).
Em que pese a divisão de opiniões dentro do próprio PT, articuladores da campanha da ministra Dilma Rousseff apostam: se o clima de campanha esquentar, será possível utilizar o exemplo do caos provocado pelas enchentes para tentar desfazer a imagem de bom administrador de José Serra. Por conta disso, até o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PSDB-PE), já se prepara para o contra-ataque. Segundo ele, essas ocorrências são fatalidades e decorrem de problemas históricos que se agravaram ao longo de diferentes gestões. ;Não dá para negar que há desgaste para quem está no comando do estado no momento que isso ocorre. Mas esses problemas são antigos e muitos partidos passaram por isso;, diz.
Disputa na mira dos britânicos
O peso das enchentes na campanha de José Serra ao Palácio do Planalto foi citado na edição desta semana da revista inglesa The Economist. De acordo com o editorial, apesar das acusações de que ele falhou nas medidas que visavam a melhoria da defesa do estado contra as inundações, a equipe do governador ainda acredita que seu currículo seja sólido o suficiente para levá-lo à Presidência. E lembra a importância de São Paulo na definição do resultado eleitoral, uma vez que 30 milhões de pessoas votam por lá.
O artigo ainda faz uma comparação entre o governador e Dilma Rousseff: ;Ele é um desenvolvimentista, como os brasileiros gostam de chamar os social-democratas que apostam em um Estado ativo. Dessa forma, não está longe de Rousseff, embora Serra pareça mais disposto a fazer deslanchar as reformas necessárias para melhorar os serviços públicos e acelerar a economia;. O texto aponta outra semelhança cruel entre os dois políticos: embora tenham a reputação de bons administradores, sofrem de falta de carisma.