Politica

Lula tem mais títulos nas livrarias do que os dedicados ao Corinthians e ao Flamengo

postado em 07/02/2010 08:20
Pergunta rápida: Quem é mais famoso, o presidente Lula ou o Corinthians, seu time do coração? Melhor. Que tal a comparação com o Flamengo? A resposta deveria ser fácil, afinal tratam-se das duas maiores torcidas do país e do esporte mais popular do mundo. Engano. O mercado editorial contraria qualquer previsão apressada ou palpite de torcedor. Nem as duas equipes juntas conseguem se aproximar do número de livros sobre a trajetória política, pessoal, administrativa, dentro e fora do governo, romance ou comédia, de Lula.

Nas principais livrarias do país, é possível encontrar 46 publicações com o nome de Lula na capa. Os dois times juntos conseguem ter ; no máximo ; 30 livros editados. Esse foi o número do levantamento realizado pelo Correio nos acervos(1) das principais lojas de livros de Brasília. Tem de tudo, desde charges sobre o governo do presidente petista até análises sérias e complexas sobre relações internacionais e política econômica do atual governo.

A literatura de cordel também foi generosa ao retratar a trajetória de Lula, que ganhou fama nas palavras da jornalista Denise Paraná, autora do livro A história de Lula, o filho do Brasil. A obra serviu de base para filme do diretor Fábio Barreto. Tamanha oferta literária pode ser explicada pela popularidade do presidente da República, que beira os 80% e, em algumas cidades nordestinas, atinge espantosos 100% de aprovação.

O livro de Denise Paraná vendeu cerca de 31 mil cópias, segundo a editora Objetiva. Já o do jornalista Marcelo Tas, Nunca antes na história deste país, que remete ao jargão preferido do presidente da República, chegou a 30 mil exemplares. Para um setor bastante árido, esses números podem ser considerados bem sucedidos.

Biografias
Inspirados no livro que virou filme, não faltam nas estantes das livrarias biografias de Lula. Atualmente, seis estão disponíveis. Elas contam como um retirante nordestino, operário em São Paulo, driblou o conservadorismo eleitoral e chegou ao mais alto posto da República: A história de Lula: o operário presidente, de Brito Alves, da Espaço e Tempo; Lula, o início, de Mario Morel, pela Nova Fronteira; O menino Lula, de Audálio Dantas, da Ediouro; Lula na Literatura de Cordel, de Crispiniano Neto, da Imeph; e Lula do Brasil, de Richard Bourne, da Geração Editorial. Há charges do cartunista Chico Caruso Lula Lá ; A [o]missão ; Parte 1, da Devir. O famoso dicionário criado a partir dos discursos do presidente. O dicionário Lula, de Ali Kamel.

Denise Paraná, sem citar nomes, classifica algumas publicações de oportunistas. ;Há publicações bastante oportunistas, sim. É uma pena. Várias são compilações de pesquisas realizadas por outras pessoas, de material que saiu na imprensa reeditado em tom sensacionalista. Algumas podem até vender bastante, mas terão vida curta, porque não se sustentam como bons livros;, disse a autora, em entrevista por e-mail.

Apesar de seu livro ter sido feito na campanha de 1989, a crítica é a mesma que foi disparada contra o filme de Fábio Barreto. Nem na Cuba de Fidel Castro ou na União Soviética de Josef Stalin foram produzidos filmes enaltecedores da vida do presidente em vida. Até nisso Lula é único. ;O presidente é carismático, mobiliza muito as pessoas, dificilmente é ignorado por onde passa. Mas isso não significa que sua imagem possa ser transformada num produto que seja rentável do ponto de vista financeiro;, disse Denise.

1 - Média a baixa

Apesar de alguns livros alcançarem boa vendagem para os padrões brasileiros, nem toda a legião de publicações pode ser considerada um sucesso. A maioria atinge vendagem de média a baixa, não chegando a mil cópias vendidas. A editora Garamond possui quatro publicações sobre o presidente, todas do mesmo autor, o cientista político Cândido Mendes. A que atingiu maior vendagem foi Lula: a opção mais que voto, com 5.180 vendidos. A obra foi lançada pouco antes de o presidente se eleger pela primeira vez, em 2002.

Três perguntas para


DENISE PARANÁ, JORNALISTA E AUTORA DA BIOGRAFIA DO PRESIDENTE LULA

Há um apelo sentimental na história de Lula, no brasileiro retirante pobre que chegou a presidente da República?
Há algo maior que um apelo sentimental. Sua história de vida é simplesmente fantástica, uma trajetória de superação inigualável. E, mais do que isso, é o retrato vivo de todo o povo brasileiro, com suas limitações e possibilidades.

A principal crítica ao filme é que ele criou um personagem irreal, com Lula quase como um santo. Pessoas que conviveram com ele na época do sindicato dizem que Lula era uma figura mais bruta do que o personagem que aparece no filme do Fábio Barreto. Há um descompasso nas histórias do livro e do filme? Houve uma tentativa de ;beatificar; o presidente?
Há uma série de fatos ;heroicos; na vida do Lula, que foram reais, que não entraram no filme. Fábio Barreto não beatificou Lula, pelo contrário, expôs uma série de fragilidades. O filme foi criticado por setores politicamente conservadores por ter beatificado Lula e foi, ao mesmo tempo, criticado por setores progressistas por ter apresentado um Lula fraco, menor do que realmente é. Quase toda a crítica feita ao filme tem viés político. Quase ninguém conseguiu analisar o filme como aquilo que ele verdadeiramente é, uma obra cinematográfica.

É possível apontar os erros do filme?
Sim, claro, tudo o que é humano é imperfeito. Mas, nesse filme, as qualidades superam as imperfeições. Como o filme já foi muito bombardeado com críticas superficiais e tendenciosas, prefiro deixar minha crítica para o futuro, quando, espero, o fogo das paixões já tenha diminuído e ele possa ser realmente ;visto; com qualidades e defeitos reais.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação