O general Ivan de Souza Mendes, ex-ministro-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), morreu na manhã de quinta-feira, vítima de uma infecção generalizada, provavelmente em decorrência de uma perfuração no intestino. Último mandatário do extinto SNI, Souza Mendes tinha 87 anos e faria aniversário na próxima terça-feira. Ele foi internado no início da semana na Casa de Saúde Santa Lúcia, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, com dificuldades para respirar.
Souza Mendes teve papel preponderante na transição do regime militar para a volta da democracia no país. Durante o governo de José Sarney (1), hoje senador pelo PMDB-AP, coube ao general esvaziar a máquina do até então temido SNI, órgão que coletava informações e investigava a vida de pessoas, autoridades, entidades e movimentos sociais supostamente contrários ao regime de exceção (leia para saber mais).
Natural da cidade de Cordeiro (RJ), Souza Mendes, nascido em 23 de fevereiro de 1922, ingressou na carreira militar aos 18 anos. Integrante do grupo de militares liderados pelo general Humberto de Alencar Castelo Branco e envolvido no movimento para derrubar o então presidente da República, João Goulart, Souza Mendes foi nomeado interventor da Prefeitura de Brasília, em substituição a Luís Carlos Vítor Pujol, logo após o golpe militar de 31 de março de 1964. O general passou dois meses no cargo e logo depois serviu no Gabinete Militar, sob ordens do general Ernesto Geisel, com quem seguiu para o gabinete da presidência da Petrobras no início da década de 1970.
Em 1974, Souza Mendes foi promovido a general de brigada e comandou a 8; Região Militar, em Belém (PA). Ele ocupou vários postos de chefia até ser nomeado, em março de 1985, ministro-chefe do SNI pelo então presidente, José Sarney. Ficou no posto até o fim do governo e a extinção do órgão, em março de 1990.
Ele deixa a viúva Maria Stella; as filhas Márcia, Sônia e Leila; nove netos e duas bisnetas. O corpo do general deve ser cremado em cerimônia marcada para hoje, no Cemitério do Caju, no Rio.
Repercussão
A morte do general Ivan de Souza Mendes causou comoção entre os políticos. Informado pela equipe do Correio, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) ficou emocionado ao saber do ocorrido. Com a voz embargada, o parlamentar afirmou que Mendes foi um dos personagens fundamentais para o processo de abertura política do país e que sempre teve atitudes democráticas. ;Ele era uma figura muito próxima de Tancredo Neves e de Ulysses Guimarães e também exerceu influências positivas no governo Sarney. Era um grande amigo, acima de tudo, e um brasileiro a favor do país;, disse. Logo após receber a notícia, Simon decidiu apresentar um voto de pesar, que seria lido no plenário do Congresso ainda ontem.
O senador petista Eduardo Suplicy (SP) também lamentou a perda. ;O general soube agir de maneira sensata no momento em que era necessário se contrapor a oficiais militares e lutar pelo processo de redemocratização. Ele soube colaborar para isso.;
Já o deputado federal José Genoino (PT-SP) lembrou da abertura de diálogo dos movimentos sociais com o militar, embora o país estivesse numa época de tensão política. ;Apesar de comandar o SNI, ele era um pessoa sensata e sempre buscava dar espaço para o diálogo. Era preparado e soube comandar muito bem os momentos de tensão da Constituinte;, afirmou.
1 - ;Extrema competência;
O senador José Sarney (PMDB-AP), lamentou, em nota à imprensa divulgada ontem, a morte do general Ivan de Souza Mendes. ;O general Ivan, colaborador de meu governo na condição de ministro da Informação, foi um profissional de extrema competência e grande compromisso com seus deveres institucionais. Marcou sua vida pelo serviço prestado ao Exército brasileiro, sempre com o sentimento de dever, trabalho e responsabilidade;, diz o presidente do Senado na nota.
Pedro Simon, senador do PMDB-RS
Ouça entrevista com o deputado José Genoino
Para saber mais
Fiscalização sem controle
O Serviço Nacional de Informações (SNI) foi criado durante a ditadura militar, em junho de 1964. Vinculado à Presidência da República, o órgão tinha como objetivo coordenar as atividades de informação.
Uma das atribuições do SNI era a de estabelecer ligação direta com órgãos federais, estaduais e municipais e com entidades paraestatais e autarquias, além de poder requisitar a colaboração de entidades privadas.
No topo da estrutura estava o chefe, que tinha status de ministro. Ele tinha a prerrogativa de, por exemplo, mandar investigar um suspeito e até enviá-lo para fora do país, caso julgasse necessário.
As informações recolhidas de entidades, cidadãos brasileiros e estrangeiros ligados aos interesses de segurança do Estado eram as mais variadas e englobavam os movimentos estudantil e sindical; o funcionamento e as atividades das lideranças religiosas; além da imprensa e de movimentos sociais.
O órgão também acumulava dossiês sobre o governo e o setor público em geral. O SNI foi extinto na década de 1990, acarretando modificações para o sistema de inteligência do Exército brasileiro.