postado em 19/02/2010 09:12
Para pressionar o PT a ampliar as concessões de espaço a peemedebistas na montagem dos palanques estaduais, o PMDB lançou mão do peso de seu apoio à candidatura da ministra da Casa Civil Dilma Rousseff à Presidência da República. Desde o início da semana, integrantes da sigla ventilam a possibilidade de que a cúpula do partido, leia-se o presidente da Câmara e da legenda, Michel Temer (PMDB-SP), boicote o lançamento oficial da pré-candidatura da ministra, que acontecerá amanhã, durante o quarto congresso nacional petista. O posicionamento do maior partido aliado dessas eleições não agradou aos petistas e, desde ontem, os maiores fiadores da aliança entraram em campo para amenizar o mal-estar.A participação do PMDB no lançamento da pré-campanha de Dilma foi anunciada há duas semanas como um sinônimo de força da parceria entre as siglas. Às vésperas do evento que marcará a oficialização da pré-candidatura de Dilma, no entanto, a ausência peemedebista dá contornos de crise ao acontecimento. Em tom de cobrança, uma fala do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), ilustrou o desgaste que o recuo do PMDB provocou entre os partidos. ;Seria bom que Temer fosse (ao congresso do PT) e levasse com ele quem quisesse;, avisou o deputado federal.
Os peemedebistas conciliadores defendem a oficialização do apoio de maneira mais intimista. Estudam a possibilidade de que Temer e integrantes da executiva nacional se encontrem com a ministra na noite de hoje, ou no fim de semana, para demonstrar a felicidade do PMDB em dividir o palanque com Dilma. Na verdade, os caciques peemedebistas estudam saídas para que a ausência no evento petista não soe como indício da fragilidade do acordo selado entre os partidos.
O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), um dos que tentam emplacar uma medida apaziguadora, defende a oficialização do apoio, mas reconhece que a ida ao congresso do PT poderia criar uma crise interna, entre a cúpula do partido e as bases. ;Temos problemas graves em alguns estados e não queremos tomar atitudes que possam soar como atropelo às opiniões deles. Faremos um registro do nosso apoio, claro, mas ainda não sabemos como ele se dará;, explicou.
O problema do PMDB (e do PT) é que a costura (1) para montar palanques em colégios eleitorais importantes está enrolada. Minas Gerais, o segundo maior do país, por exemplo, tem três candidatos da base de Dilma na disputa pelo comando do governo: o ministro das Comunicações, Hélio Costa, pelo PMDB; o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, pelo PT. No Rio de Janeiro, o aceno que o PT deu ao ex-governador Anthony Garotinho (PR), que quer concorrer ao Palácio da Guanabara, também incomodou Sérgio Cabral ; para ficar só em dois exemplos.
Pressão
Fortalecendo o discurso dos que tentam amenizar o desgaste da aliança, o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) disse que não há relação entre a ausência de Temer no lançamento da pré-candidatura da ministra e as dificuldades que os dois partidos estão tendo para consolidar palanques estaduais. ;Desde o início o Temer ficou receoso em comparecer. Primeiro porque é um evento deles (petistas). E segundo porque temia que o comparecimento pudesse soar como pressão pela vice-presidência (na chapa de Dilma), como se estivesse se oferecendo;, detalhou.
Michel Temer é cotado para ser o vice de Dilma nas próximas eleições. O problema é que outros nomes são cogitados por algumas alas do partido, como o do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Os caciques petistas preferem não se meter na briga. ;A escolha do vice é do PMDB e só do PMDB;, afirmou o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. ;Se o Temer vier ao Congresso, será muito bem recebido;, acrescentou.
"Temos problemas em alguns estados e não queremos tomar atitudes que possam soar como atropelo. Faremos um registro do nosso apoio, claro, mas ainda não sabemos como ele se dará"
Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara
Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara
1 - Efeito cascata
Outros estados em que a disputa local compromete a aliança nacional são Pará, Bahia e Paraná. Na Região Norte, o presidente estadual do PMDB Jader Barbalho trava uma guerra com a atual governadora do estado, Ana Júlia Carepa (PT). Aliados do deputado admitem que, nesse caso, um acordo é improvável. Na Bahia, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira (PMDB), disputa a preferência com o governador Jaques Wagner (PT). No Paraná, a composição influi na disputa às vagas do estado para o Senado, o que causa novo impasse.