postado em 21/02/2010 09:35
>> Denise Rothenburg>> Flávia Foreque
>> Daniela Lima
A vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais reforça o papel feminino na política e quebra o preconceito de eleger uma mulher para um cargo de destaque no governo. Esse foi o discurso utilizado ontem pela ministra da Casa Civil e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ; e que será reforçado durante a campanha da candidata petista.
A ;mãe do PAC;, como Lula costuma dizer, defendeu que a escolha de seu nome para suceder o presidente já representa ;uma vitória contra a discriminação secular que nos foi imposta;. Dilma deixou claro que, para garantir a continuidade do governo de Lula, conta com o apoio das mulheres brasileiras. ;Gostaria de repetir: quero com vocês, mulheres do meu país, abrir novos espaços na vida nacional;, afirmou a ministra.
No último dia do congresso do partido, no qual, segundo os organizadores, passaram cerca de 4 mil pessoas, as militantes receberam atenção especial. Parte da plateia, logo atrás do espaço reservado para autoridades e membros do Diretório Nacional, foi reservada para elas. Ali, recebiam bandeiras com a sigla do partido envolvida pelo símbolo feminino. Um dos vídeos produzidos para o evento também aproximou a figura feminina da história do PT. Uma mulher narra toda a trajetória do partido, desde a luta contra a ditadura até a eleição do presidente Lula.
Toda essa memória teria sido transmitida pela mãe da narradora, militante da legenda desde sua fundação. O vídeo lembra a luta do PT contra a ditadura e as primeiras vitórias em eleições para governos estaduais e prefeituras. A figura de Lula também é destaque na produção, que recorda todas as tentativas do ex-metalúrgico para assumir a chefia do Executivo. Ao fim, aparece a foto da militante, responsável por contar à filha a história do partido de esquerda. A fotografia, na verdade, faz parte de um mosaico, em que diversas outras mulheres, também militantes petistas, compõem a imagem da ministra Dilma Rousseff.
O presidente Lula também cortejou a plateia feminina ao apontar as qualidades da mulher brasileira. ;Ela é muito mais corajosa, muito mais impetuosa que qualquer homem. Essa coisa vai poder ser provada agora na campanha;, defendeu o presidente. Segundo ele, a indicação de Dilma para concorrer ao Palácio do Planalto é uma oportunidade única para quebrar o preconceito de que a mulher não tem espaço na política. ;Essa é uma oportunidade ímpar de vocês arregaçarem as mangas e irem à luta para fazer valer os direitos de vocês;, completou. Mas o presidente também reconheceu, em tom bem-humorado, sua importância na campanha da ministra. ;A gente vai poder, durante a campanha, dizer: ;Toda grande mulher tem que ter um grande homem ao lado dela;;. O grande painel que decorava o palco, aliás, reforçava a proposta. ;Com Dilma, pelo caminho que Lula nos ensinou;, dizia o slogan acima da imagem de Lula e Dilma abraçados. A ministra usou, durante o evento, a mesma roupa da propaganda.
Fragilidade
Os planos do PT, no entanto, podem esbarrar na preferência do eleitorado. Pesquisas recentes apontam uma maior preferência do público feminino pelo nome do governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB. De acordo com a última pesquisa CNT/Sensus, divulgada no início do mês, o tucano conta com 33,4% dos votos das mulheres, enquanto a ministra somava 24% do eleitorado feminino. O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) era o terceiro colocado na disputa, com apenas 11,6% de intenção de voto. O desempenho da ministra Dilma, na verdade, apresentou ligeira melhora em relação à pesquisa anterior, divulgada no fim do ano passado. No levantamento de novembro, a petista tinha 18,4% de apoio entre as mulheres, contra 31% de Serra.
Dos holofotes para um cantinho sem luz
De pé, num espaço sem iluminação, do lado esquerdo do palanque do qual brilhavam a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro José Dirceu assistiu, ora de braços cruzados, ora esfregando a mão no rosto, à cerimônia que coroou sua sucessora no governo como o principal nome do PT nas próximas eleições.
Procurado por figuras importantes da legenda, cochichava ao pé do ouvido, comentava trechos dos discursos e, vez ou outra, aplaudia alguma fala. Primando pela discrição, não se aproximou do batalhão de jornalistas que acompanhavam o último dia do Congresso Nacional petista. Preferiu assistir ao espetáculo de longe.
O posicionamento adotado ; ou imposto ; ao ex-ministro da Casa Civil na cerimônia de ontem serve para ilustrar como será a participação de Dirceu na campanha de Dilma. ;Ele, como membro do Diretório do partido, terá participação na campanha. Será um papel importante, porém, lateral;, ressaltou um dos aliados de Dilma, que ocupa lugar de destaque no staff da campanha da ministra.
Dirceu sabe que não pode ; nem deve ; se expor demais, pelo bem dele, do PT e da candidatura de Dilma. O nome do ex-ministro da Casa Civil hoje é associado por boa parte da mídia e da população ao comando do mensalão petista, escândalo deflagrado em 2005, que resultou em sua derrocada pública como homem forte do governo Lula.
No entanto, com bom trânsito entre líderes de partidos pequenos e do PMDB ; a maior sigla da base aliada ;, terá participação na articulação de acordos e costuras políticas. Mas deve ficar relegado aos bastidores, sem muito destaque, ou proximidade com a ministra.
Mesmo diante desse quadro, Lula fez questão de fazer um afago no amigo. Falou sobre a importância de Dirceu na formação de alianças para montar o primeiro governo, em 2003. Citou-o nominalmente. A militância petista o aplaudiu com entusiasmo. O ex-ministro descruzou os braços, e abriu um sorriso tímido. Chegou a corar e continuou assistindo de um canto discreto à cerimônia pró-Dilma. (DL, DR e FF)