postado em 21/02/2010 09:38
>> Daniela Lima>> Flávia Foreque
>> Denise Rothenburg
Os peemedebistas ameaçaram, mas cederam. Ontem, no lançamento oficial da campanha da ministra Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República, sentaram-se, lado a lado, ela e o presidente nacional do PMDB e da Câmara, o deputado Michel Temer (SP). Cotado para assumir a vaga de vice de Dilma, Temer havia sinalizado ao Palácio do Planalto que não apareceria no Congresso Nacional do PT. A encenação deixou a cúpula petista eriçada. E, para reverter o quadro, mobilizaram-se as maiores lideranças do PT, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O PMDB usou a ameaça de ausência no congresso petista para pressionar o PT a abrir mais espaços para peemedebistas na montagem dos palanques estaduais. Em diversos estados, integrantes dos dois partidos disputam a cabeça de chapa dos governos locais (veja quadro). Para não deixar claro que a ameaçava girava em torno de rusgas estaduais, o PMDB apegou-se ao fato de que, no programa de governo lançado pelos petistas na última sexta-feira, o nome do partido não foi citado especificamente no trecho que tratava das alianças partidárias. Com a deixa, o maior partido da coalizão petista se fez de melindrado.
Longe dos holofotes, fizeram uma visita à Dilma Rousseff no fim da noite de sexta-feira. O encontro deveria servir como demonstração da ;felicidade; do partido em fazer parte da base aliada do governo na campanha pela sucessão. Mas a ausência do PMDB no palanque montado ontem para Dilma deu contornos de crise ao lançamento da pré-campanha da ministra. Ciente do estrago que o boicote peemedebista ao evento poderia causar, os principais fiadores da aliança PT/PMDB entraram em campo para intermediar uma trégua.
O líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e seu correligionário, o deputado Eduardo Cunha (RJ), voaram no fim da tarde de sexta-feira para Brasília. Reuniram-se com Michel Temer e o senador Romero Jucá (RR), líder do governo no Senado. Juntos, os caciques do partido foram ao Planalto. Se encontraram com Dilma. Não ficaram satisfeitos. Temer recebeu um telefonema de Lula. O peso político do apelo do presidente fez o partido rever a questão.
Acerto
Com o acerto da presença da cúpula do PMDB na festa, o PT passou a se preocupar em garantir o sucesso da investida. Afinal, de nada adiantaria levar os companheiros à coroação de Dilma se eles fossem recebidos com vaias. Os líderes do partido entraram em ação. Comunicaram os delegados que, por sua vez, alertaram a militância. Deu certo. Romero Jucá não foi recebido com palmas, mas pelo menos não foi vaiado.
Como o risco de magoar Michel Temer era maior, o PT usou uma estratégia infalível: blindou o presidente peemedebista. Ele subiu ao palanque ao lado de Dilma, do presidente Lula, da primeira-dama Marisa Letícia e do vice-presidente José Alencar. Ao lado da turma mais ilustre do PT, Temer foi recebido com aplausos calorosos e saudações amistosas.
E para garantir que Temer não se arrependeria de ter descumprido a ameaça, tanto o presidente Lula quanto a ministra Dilma foram só afagos ao maior partido da base aliada do PT. ;O PMDB, pelo seu tamanho, é o partido que certamente vai indicar o candidato a vice na chapa da companheira Dilma Rousseff. Vai ter problema em alguns estados? Vai. Mas a agente também não pode permitir que os interesses de uma região possam atrapalhar os interesses nacionais de um país de 190 milhões de habitantes;, disse Lula, em seu discurso.
Os afagos surtiram efeito. ;O conteúdo dos discursos da ministra e do presidente foi muito bom, sólido. E o tratamento dado ao PMDB também;, avaliou Temer, ao fim do evento.
Presidente vai intervir
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá assumir cada vez mais o papel de protagonista nas negociações para a montagem dos palanques estaduais. Se a intervenção não se der diretamente, será feita à base do peso político acumulado por Lula ao longo dos oito anos de governo. O presidente passou a defender que, mesmo que a ministra e pré-candidata Dilma Rousseff suba em dois palanques em alguns estados, ele só se dará ao trabalho de estar em um.
Na prática, a mensagem de Lula pressiona os partidos aliados a entrarem em um consenso na montagem dos palanques estaduais. Uma coisa é um candidato a governador contar com a presença de Dilma, outra é ter o presidente discursando. ;O presidente não será candidato, por isso entende que poderá subir no palanque que quiser. Ele tem força política para isso. Pode fazer o que lhe der na telha;, resumiu o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Em algumas unidades da Federação, a formação de dois palanques com candidaturas de membros de siglas da base aliada do governo no processo de sucessão presidencial é dada como certa. Um dos estados em que dificilmente haverá acordo é a Bahia. Lá, o atual governador, Jaques Wagner (PT), e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), deverão disputar a preferência do eleitorado. ;Onde houver possibilidade de acordo, vamos trabalhar por isso. Onde não houver, teremos dois palanques. Ela (Dilma) estará nos dois;, explicou Vaccarezza.
Mas o PMDB não deve facilitar a costura desses acordos. O partido que tem como maior patrimônio o número de membros eleitos nas diferentes esferas do poder não costuma abrir mão de candidaturas em prol dos aliados. ;Estamos trabalhando para fortalecer a posição do nosso partido;, alertou um dos líderes peemedebistas.
;A minha avaliação é de que o presidente Lula vai usar o máximo e chegará no limite para tentar arrumar as costuras locais. Ele vai fazer tudo o que puder, usando a popularidade, para auxiliar na definição dos palanques;, avaliou um senador petista.
E ontem Lula já deu mostras de que cobrará de ambos os lados empenho nessa tarefa. Em seu discurso no congresso petista, ele disse que o novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o presidente do PMDB, o deputado Michel Temer (SP), se transformarão em ;caixeiros-viajantes;, com a função de ajudar a fechar os palanques da coalizão. A fala foi endossada pela ministra Dilma. ;Eu não acho desejável para o Brasil que haja um governo de um só partido. Acho importante que essa diversidade seja uma base coesa em cima de um programa. E acho que estamos caminhando para isso;, afirmou. (DL, FF e DR)
Estados problemáticos
Minas Gerais
A corrida pelo Palácio da Liberdade envolve nomes de peso da política mineira, tanto no PT quanto no PMDB. Para enrolar ainda mais o meio de campo, há a possibilidade, ainda que remota, de o vice-presidente da República, José Alencar, do PRB, entrar na briga pelo governo mineiro. No lado petista, dois nomes despontam: o do ministro de Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Pelo PMDB, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, sonha com a candidatura.
Bahia
A disputa na base aliada de Dilma Rousseff no estado fica entre o atual governador, Jaques Wagner, do PT, e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, do PMDB. Vieira Lima rompeu a aliança com o PT baiano em julho de 2009. A expectativa de um acordo entre os dois políticos é pequena. O mais provável é que Dilma suba no palanque de ambos os candidatos.
Pará
No Pará, a briga fica entre a governadora Ana Júlia Carepa, do PT, e o deputado federal Jader Barbalho, do PMDB. Os fiadores da coalizão PT/PMDB estão trabalhando para que Jader, que é presidente do PMDB local, desista da disputa pelo comando do Executivo estadual e se contente com uma cadeira no Senado. A relação entre Jader e Ana Júlia não é das mais amigáveis e está muito desgastada pela disputa regional.
Mato Grosso do Sul
A base aliada se divide entre os nomes do atual governador, André Puccinelli (PMDB), e o ex-chefe do Executivo do estado Zeca do PT. Zeca já governou o estado por duas vezes e conta com o apoio da Executiva local. Chegou a dizer que a candidatura de Puccinelli não era um problema do PT, mas do PMDB.
São Paulo
No estado, o PT ainda está em compasso de espera. A indefinição se dá porque o PSDB, partido que protagonizará a oposição nas eleições presidenciais, ainda não anunciou quem sairá candidato à sucessão do atual governador, o tucano José Serra. Lula quer que o deputado federal Ciro Gomes seja o nome da base aliada petista no maior colégio eleitoral do país. Mas Ciro prefere concorrer à Presidência da República. Nesse cenário, em que Ciro não se renderia aos encantos de Lula, despontam os nomes do senador Aloizio Mercadante e o do prefeito de Osasco, Emidio de Souza.