Politica

Acrobacias na TV em busca de votos

Prováveis candidatos ao Planalto aproveitam o período pré-eleitoral para mostrar que são de "carne e osso" e ganhar visibilidade em programas populares e segmentados na televisão

Ivan Iunes
postado em 12/03/2010 09:24
O telespectador desavisado que, por ventura, resolva gastar o tempo procurando por programas atrativos, pode acabar acreditando que o horário eleitoral gratuito chegou mais cedo. Nas últimas semanas, a televisão tem sido o palco preferencial de Ciro Gomes (PSB), Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), na busca por holofotes. Cada qual no seu dia, os pré-candidatos decidiram apostar em Luciana Gimenez, Ratinho e no cantor Lobão, como canal mais curto para chegar ao eleitorado. Na tentativa de humanizar a própria imagem, os políticos rezam uma cartilha criativa. Ela inclui preparar omelete, forçar o sotaque, descrever a rotina com os netos e até homenagear a apresentadora Hebe Camargo e a própria mãe pelo Dia Internacional das Mulheres. As críticas, claro, são comedidas. Tudo para evitar a negatividade. Até julho, quando as regras eleitorais são restritas, assistir à televisão no horário nobre deve incluir o risco de topar com o futuro presidente da República nas situações mais inusitadas.

Dilma fez a Durante a semana, o termômetro eleitoral registrou picos no programa do Ratinho e do cantor Lobão, com as presenças de Ciro e Marina, respectivamente. Os dois pré-candidatos ocuparam boa parte do show(1) dos apresentadores. O deputado federal do PSB iniciou a performance enaltecendo as mulheres, em especial a apresentadora Hebe Camargo e a própria mãe, a quem descreveu como uma fã do apresentador. A quase quatro meses do início da campanha eleitoral, sacou do paletó várias propostas para um possível governo. Os lugares-comuns foram saúde, segurança e, claro, geração de empregos. ;Vamos garantir o bolsa família, mas preparar o Brasil para crescer, de maneira a gerar oportunidade pra todas as pessoas que estão perdendo emprego para as máquinas;, prometeu.

No caso de Marina, a ministra não abandonou os trejeitos tímidos diante do músico Lobão. Mesmo assim, não esqueceu de espezinhar o desafeto Mangabeira Unger, ex- ministro de Assuntos Estratégicos, a quem acusa de ter ajudado a fazer ;um grande mal para a Amazônia;. Em contraste com a figura comedida da senadora acreana, o apresentador lançou no vídeo imagens do ex-candidato à Presidência Enéas Carneiro, morto em 2007, e dos outros três pré-candidatos fazendo a famosa ;dança do quadrado; ; montagem em vídeo que se tornou um sucesso no YouTube.

Dilma Rousseff e José Serra discursaram pouco mais de uma hora no programa de Luciana Gimenez, o Superpop. O tucano já havia travado um ;papo cabeça; com a apresentadora duas vezes no ano passado. Já Dilma fez sua aparição em fevereiro, quando respondeu às perguntas de Luciana e Amaury Júnior. As expressões físicas dos dois políticos e a coloquialidade utilizada durante o programa contrastaram com a imagem sisuda, atribuída a ambos. Os dois seguiram roteiro similar. Buscaram passar a imagem de administradores eficientes e, ao mesmo tempo, pais e avós afetuosos.

Claque
Na primeira aparição no Superpop, em maio do ano passado, Serra apelou para os três netos, à época com seis anos, um ano e um terceiro de 10 meses. Disse que lhes dava chocolates e ;todas essas coisas que os pais proíbem.; Na última, em novembro, falou sobre lei antifumo, acessibilidade e sobre a própria desorganização. A cada frase pontuada, a placa de aplausos erguia a plateia, devidamente treinada. Sem ficar atrás, Dilma se emocionou ao lembrar do instinto maternal, que a fez largar o trabalho quando a filha, à época uma criança, foi acometida por febres. Fez a bombástica revelação de que seria avó pela primeira vez e elogiou a apresentadora por ;humanizar as entrevistas;. E no desfecho, já antológico, errou o preparo de uma omelete ao esquecer de untar a panela. Tudo isso entrecortado por vários ;ocês; e sem perder a descontração com a velha amiga Luciana Gimenez.

1 - Ninguém se nega
No período que antecede a corrida eleitoral, as aparições em programas de tevê são exploradas quase à exaustão, já que as emissoras não precisam respeitar a proporcionalidade ao entrevistarem os futuros candidatos. O ex-presidente Fernando Collor de Mello, durante a campanha de 1989, participou até de programas durante a madrugada. ;Desde a redemocratização, todos os vencedores e perdedores fizeram isso. É uma questão de acúmulo, sem critérios. Quanto mais aparições, melhor;, resume o diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra.

Ministro defende multa a Lula e Dilma
O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, Felix Fischer, defendeu ontem, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o presidente Lula e a ministra Dilma sejam punidos com multa de R$ 5 mil cada um por propaganda eleitoral antecipada. O problema, segundo ele, ocorreu em evento no município de Araçuaí (MG), em janeiro. Sete ministros do TSE, incluindo Fischer, julgam um recurso da oposição ; PSDB, DEM e PPS ; contra decisão de um ministro auxiliar do TSE que rejeitou o pedido deles para que Lula e Dilma fossem punidos. O placar do julgamento está 3 x 1, favorável a Lula e Dilma. O julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro Fernando Gonçalves.

; Memória
Gafes e vexames


As aparições pré-eleitorais costumam oferecer situações inusitadas para quem busca os holofotes. Cerca de 10 meses antes da campanha de 2002, 12 políticos sonharam ganhar fôlego para as campanhas eleitorais no extinto Show do Milhão, do apresentador Sílvio Santos. Participaram de uma edição especial do programa. A lista era curiosa. Reunia o pré-candidato ao Planalto Anthony Garotinho, o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), Paulo Maluf (PP) e o atual senador Aloízio Mercadante (PT-SP). Antevendo o desastre, o apresentador pediu ao público compreensão. ;Espero que os telespectadores compreendam que eles são célebres, famosos, mas não são obrigados a saber tudo;, ponderou. A estratégia de ganhar agenda positiva com o programa deu certo apenas para o deputado federal Marcondes Gadelha (PSC-PB), que levou o segundo maior prêmio possível, de R$ 500 mil.

Pelas portas dos fundos saíram Maluf e, principalmente, Garotinho. O ex-prefeito de São Paulo errou ao denominar o especialista em santos como ;santólogo;: o correto era hagiólogo. Já o ex-governador fluminense teve o primeiro revés da campanha. Teve de pedir socorro aos jornalistas, pois não sabia a fórmula da água. Aprendeu que era H2O, mas tropeçou em seguida. Terminou o programa com o pior desempenho entre os 12 participantes.

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