postado em 19/03/2010 08:19
A reboque da aliança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e certo de que o PT não cederá espaço de governo se a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, continuar subindo nas pesquisas, o PMDB se prepara para tentar virar esse jogo apresentando um programa de governo. Ontem, em sua primeira reunião de trabalho com a participação dos presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Banco Central, Henrique Meirelles, os peemedebistas evitaram tratar de temas específicos em público, mas internamente acenaram com um programa moderado, que tratará do fortalecimento do Estado, mas sem criar novas instituições públicas ; caso, por exemplo, da Telebrás. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, era contra a recriação da empresa, mas prevaleceu a intenção do PT.Nas áreas de energia e infraestrutura, a ideia do PMDB é trabalhar com o fortalecimento das agências reguladoras, um ponto que muitos líderes do partido consideram que o governo Lula deixou a desejar. A intenção dos peemedebistas nesse campo é criar pontos que o PT possa acolher e, no caso de rejeição, deixar a porta aberta para que a legenda possa seguir o caminho. ;O partido tem que ter uma definição que não seja meramente de adesão ao que for produzido pelo PT. Tem que ser protagonista;, afirmou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, integrante da equipe que formatará esse programa. ;A aliança hoje depende da posição do próprio PT e da direção nacional do PMDB e, evidentemente, têm ainda os problemas regionais;, lembrou Jobim.
Além de Jobim, Temer e Meirelles, participaram desse primeiro encontro o ex-ministro do Planejamento Aníbal Teixeira, que ocupou o cargo no governo Sarney; o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN); o vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Moreira Franco; e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Eliseu Padilha (PMDB-RS). Meirelles tentou estipular uma divisão de áreas entre os presentes, mas ficou decidido que não haverá uma única voz do partido para cada setor. Na economia, por exemplo, além de Meirelles, o ex-deputado Delfim Netto também será chamado para apresentar as ideias.
Citado como um dos concorrentes de Temer para a vaga de vice na chapa da ministra Dilma à sucessão presidencial, Meirelles se esquivou de dar declarações políticas depois da reunião: ;Estou totalmente focado no Banco Central;, afirmou. Temer também evitou tratar do tema ;vice;. Ele se limitou a falar da aliança como o ;caminho natural; do PMDB hoje, mas fez a ressalva de que ainda haverá muita conversa. ;A aliança será tratada na convenção de junho. Até lá, temos muito tempo;, disse o presidente da Câmara, dando um sinal do que deverá ser o programa de governo: ;Não vamos nos furtar a uma certa ousadia. Evidentemente, a ousadia estará amalgamada, misturada à ideia da moderação. É isso que nós queremos apresentar como plano de governo. Mas ainda não há planos definidos, vamos definir pouco a pouco até o dia 8 de maio;.
Na data em questão, o PMDB fará um congresso nacional em Brasília para aprovar as propostas com a presença de todos os seus caciques. Esse tempo é visto como o período de acomodação das forças políticas, em que os pré-candidatos ao Planalto estarão dedicados à campanha. O trabalho de organização das propostas ficará a cargo de Padilha, considerado um dos mais reticentes à aliança entre PT e PMDB.
Nos bastidores, há quem defina esse cronograma do PMDB como uma forma de o partido tentar manter o controle sobre a aliança com o PT e o protagonismo para a escolha do vice. Algo como um recado: ;Não brinque conosco, senão vamos fazer um programa que o PT não vai gostar;. Afinal, dizem os peemedebistas, eles se mostram cansados de ver o PT querendo lhes dizer o que deve ser feito em cada área de governo, sem que possam ter voz ativa sobre qualquer setor. Com Dilma, eles esperam que seja diferente.