postado em 19/03/2010 08:40
A oposição orquestrou uma plano no Senado para expor, em sessão de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Casa, o mais recente escândalo que conta com ingredientes mágicos para movimentar um ano eleitoral: petistas e propina. Ontem, quando nenhum senador do PT compareceu à reunião da CPI das ONGs, os oposicionistas aprovaram requerimento para convocar João Vaccari Neto, tesoureiro dos cofres petistas e pivô das denúncias que envolvem a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) a depor no Senado. É a segunda manobra em dois dias: na quarta-feira, a Comissão de Direitos Humanos também aprovou convite ao tesoureiro.Vaccari irá falar na CPI sobre as denúncias de desvios na aplicação de recursos de fundos de pensão públicos e das contas da Bancoop, entidade que presidiu por anos. O promotor de Justiça José Carlos Blat, responsável pela investigação do caso no Ministério Público (MP) de São Paulo; o corretor de câmbio Lúcio Bolonha Funaro; e Hélio Malheiro, que denunciou o desvio de dinheiro da cooperativa para financiamento de ;caixa dois; de campanhas eleitorais, também falarão aos integrantes da CPI.
O depoimento do tesoureiro do PT é um prato cheio para a oposição. Desde que o conteúdo de investigações promovidas pelo MP de São Paulo e pela Procuradoria-Geral da República vieram à tona (leia para saber mais), parlamentares do DEM e do PSDB, que polarizam a disputa com o PT nas eleições deste ano, começaram a explorar o suposto esquema armado para saquear os cofres da Bancoop e abastecer o caixa de campanhas petistas, inclusive a de Lula, em 2002.
O requerimento de convocação dos envolvidos no escândalo aprovado ontem é de autoria do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Para garantir a aprovação do documento, o mesmo requerimento foi apresentado em quatro comissões da casa ; na CPI das ONGs, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na de Direitos Humanos (CDH), e na de Fiscalização e Controle.
Antes de elaborar o requerimento de convocação de Vaccari e demais envolvidos no escândalo, tucanos entraram em contato com o promotor Blat para saber se havia disposição da parte dele em colaborar com a CPI. ;Não temos esperança de que esses depoimentos estejam no relatório final da CPI, que é comandada pelo governo. Tudo o que for dito aqui servirá para colaborar com as apurações do Ministério Público;, afirmou Álvaro Dias.
Impacto
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que exerce interinamente a liderança do PT na Casa, tentou minimizar o impacto da convocação, mas afirmou que a oposição tenta ampliar o escândalo da Bancoop para que ele respingue nas campanhas eleitorais. ;Já estava definido, com a liderança do governo e a liderança do PT, que o Vaccari e quem mais fosse necessário viria ao Congresso para prestar os esclarecimentos. A oposição quer fazer disso um episódio de campanha. E, para isso, está colocando todos os dentes e um pouco de saliva no canto da boca, para abocanhar o máximo possível nessa história;, avaliou Suplicy.
O senador estava na Casa ontem durante a aprovação do requerimento na CPI das ONGs, da qual é membro. No entanto, estava presidindo os trabalhos de outra comissão, a CCJ, no momento em que a convocação de Vaccari foi aprovada. ;Ontem, o senador Demostenes Torres (DEM-GO), que é o presidente da CCJ, perguntou se eu não poderia presidir a sessão. Quero crer que isso não foi orquestrado;, disse Suplicy.
Demostenes, senador do Democratas, partido de oposição ao PT, negou qualquer articulação que visasse tirar Suplicy do plenário da CPI das ONGs. ;Na CCJ havia uma audiência pública proposta por ele (Suplicy), e o vice-presidente da comissão não poderia presidir. O convidei por isso. O resto é teoria da conspiração;, rechaçou. Demostenes estava ontem em São Paulo, em encontro com o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM).
"A oposição quer fazer disso um episódio de campanha. E, para isso, está colocando todos os dentes e um pouco de saliva no canto da boca, para abocanhar o máximo possível nessa história"
Eduardo Suplicy, senador do PT-SP
Eduardo Suplicy, senador do PT-SP
Entenda o caso
Campanha reforçada
No último 6 de março, a revista Veja publicou reportagem sobre o conteúdo das investigações promovidas pelo promotor Justiça José Carlos Blat, do Ministério Público de São Paulo. Segundo a revista, o promotor classificou a Bancoop como ;uma organização criminosa cuja função principal é captar recursos para o caixa dois do PT e que ajudou a financiar inclusive a campanha de Lula à Presidência em 2002;.
Segundo a investigação do Ministério Público de São Paulo, recursos da Bancoop teriam sido desviados para os cofres e bolsos de dirigentes petistas. Em resposta ao escândalo, o deputado Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT e fundador da Bancoop, disse que as denúncias tinham motivação eleitoral e acusou Blat de agir ;a serviço de setores do Ministério Público alinhados ao Serra (governador de São Paulo e principal adversário da ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, do PT, na corrida presidencial);.
Uma semana depois, a revista surgiu com novo desdobramento do escândalo, vinculando desvios em fundos de pensão públicos ao chamado mensalão do PT, descoberto em 2005, e apurado hoje pelo Supremo Tribunal Federal. (DL)