postado em 31/03/2010 08:35
Não é por acaso que Dilma Rousseff é considerada a gerentona do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As tarefas da ministra que deixa o cargo hoje para se dedicar à corrida pelo Palácio do Planalto serão pulverizadas entre vários integrantes do alto escalão. Sua substituta formal é a secretária executiva da pasta, Erenice Guerra, mas ela não terá o mesmo poder da mentora. Na prática, não acumulará novas responsabilidades. Quem carregará mais carga no dia a dia é o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, seguido pelo chefe da Fazenda, Guido Mantega.Erenice assume a Casa Civil tendo como afazeres primordiais a interlocução entre os ministérios e a formatação jurídica de programas dessa reta final de governo. No cotidiano, continuará lidando com personagens conhecidos dela na Esplanada. Afinal, o presidente Lula empossa, nos lugares dos ministros que deixarão o governo para se dedicar à campanha, os secretários executivos, em sua maioria (leia mais na pág. 3). Outra das tarefas da nova chefe da pasta é dar o último retoque na Consolidação das Leis Sociais (CLS), projeto praticamente finalizado que reunirá as principais iniciativas do governo em saúde, educação e benefícios à camada mais carente da população.
Se na Casa Civil Erenice ganhou mas não levou o cargo ;integralmente;, a secretária de Articulação e Monitoramento, Miriam Belchior, engordou a lista de tarefas. Ela será responsável por assumir o controle do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Miriam já é considerada a ;mãe; da segunda fase do projeto, que prevê investimentos de R$ 958,9 bilhões entre 2011 e 2014. Caberá a ela, também, trabalhar para que o PAC 1 não descarrilhe.
Contraste
Fortalecido, o ministro do Planejamento terá o papel de conselheiro do presidente e tocará, por exemplo, a formatação do Programa Nacional de Banda Larga (1), que já vinha sendo dividido com Dilma. Se antes Paulo Bernardo tinha de pedir bênção a ;Dilminha;, como ele se referia à chefe da Casa Civil, agora ele terá a palavra final antes de Lula ser consultado.
Esse é um cenário contrastante em relação à maneira como Bernardo chegou ao governo no início de 2005, antes do escândalo do mensalão, vindo da Câmara dos Deputados. Ele substituiu Guido Mantega por ser discreto e afinado com os interesses do então ministro da Fazenda Antônio Palocci, que impunha uma política econômica ortodoxa com mão de ferro. Com as saídas do governo de sucessivos políticos íntimos de Lula, Bernardo aproximou-se, aos poucos, do gabinete presidencial. Termina o governo como novo gerentão e próximo à ministra Dilma. Para chegar a esse prestígio, teve de desistir duas vezes da Câmara. Abandonou a proposta também este ano, numa aposta no sucesso da empreitada eleitoral de sua antiga colega. Mantega, por sua vez, recupera um prestígio que detinha mas andava ofuscado por conta da onipresença da ministra. Além disso, torna-se o ponto de referência no quesito ;políticas desenvolvimentistas; do governo Lula.
Fotos
No governo, há um sub que terá também novas responsabilidades. O subchefe de Assuntos Jurídicos, Beto Vasconcelos, além das análises dos projetos, terá interlocução direta com o gabinete do presidente Lula. Os assessores do presidente garantem a estrutura diluída e descentralizada na Casa Civil não tem relação com os recentes escândalos em que Erenice Guerra se envolveu. Ela foi apontada como responsável por um dossiê com os gastos corporativos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso. Oficialmente, foi uma opção do presidente e um desdobramento do perfil centralizador de Dilma. No último dia de trabalho, a ministra se despediu de funcionários e assessores. Chamou secretárias e integrantes da segurança para tirar fotos e ouviu um servidor ;tocar; hinos de times imitando uma corneta.
1 - Internet inclusiva
A proposta do Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) é universalizar o uso de internet rápida em todo o país. O lançamento do programa foi adiado diversas vezes, mas o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que deverá ser apresentado ao público em abril e incluído na segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Uma das polêmicas é a revitalização da Telebrás, que seria o braço empreendedor do PNBL.
Paulo Bernardo
O ministro do Planejamento chegou ao governo pelas mãos do então ministro da Fazenda Antônio Palocci, no início de 2005. Era considerado um político com perfil discreto, que serviria como o braço de Palocci na pasta. Acabou sendo elevado, aos poucos, a conselheiro de Lula, até chegar como o nome forte dessa reta final de governo. Ficará responsável pela implementação do Programa Nacional de Banda Larga, uma das prioridades do governo na política de inclusão digital.
O número
R$ 959 bilhões - Quantia a ser monitorada por Miriam Belchior como gerente do PAC 2
*Colaborou Flávia Foreque
Perfis
Erenice Guerra
Advogada e ex-funcionária da Eletrobras, é nome de confiança de Dilma Rousseff desde que era consultora jurídica do Ministério de Minas e Energia. Ela terá a responsabilidade de fazer a interlocução com as pastas e analisar o andamento de projetos já iniciados. É apontada como a responsável por mandar elaborar um dossiê com os gastos corporativos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
Guido Mantega
Assessor de Lula desde os tempos da campanha, entrou no governo como ministro do Planejamento, seguiu para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e chegou ao Ministério da Fazenda com a saída de Antônio Palocci, em março de 2006. Com a nova geografia do poder, recupera parte do prestígio que detinha e fixa-se como o rosto por trás da estratégia desenvolvimentista.
Miriam Belchior
A secretária de Articulação e Monitoramento da Casa Civil já era responsável por tocar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas a saída de Dilma fez o presidente reforçar suas responsabilidades. Miriam é o nome de Lula na pasta. Ex-mulher do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, assassinado em 2002, trabalhou, inclusive, na administração petista da cidade do ABC paulista junto com Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula.