postado em 05/04/2010 07:00
; Alana Rizzo; Diego Abreu
; Josie Jeronimo
Três milhões de brasileiros com luz elétrica, 22.152 escolas com internet banda larga, 759 mil cisternas no semiárido, 11.084km de estradas recuperadas, 370 novas agências do INSS e a inclusão de 500 mil beneficiários no Bolsa Família. Essas são metas quase inatingíveis que os 10 novos ministros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva herdaram dos antecessores. Se tais planos não chegaram a ser seguidos pela antiga equipe do petista, imagine a missão dos novatos, que vieram de cargos de segundo escalão e chegam à Esplanada sem força política. Além de garantir a continuidade do projeto de governo, eles precisam evitar tropeços e não atrapalhar a candidatura de Dilma Rousseff. Na primeira reunião ministerial, marcada para as 9h de hoje na Granja do Torto, os ministros vão ouvir do presidente a orientação para que continuem o trabalho iniciado pela equipe antecessora e cumpram o cronograma de metas previsto para 2009 e 2010.
Assessores próximos de Lula dizem que ele também quer deixar claro ao ministeriado que é preciso evitar ao máximo qualquer imprevisto, como um novo apagão no setor elétrico ou um surto de gripe suína, o que poderia ser desastroso para a candidatura de Dilma. O plano inicial de Lula era o de manter os 37 ministros que integravam a equipe. Onze, no entanto, não abriram mão de disputar as eleições de outubro. O primeiro a abandonar o barco foi Tarso Genro, da Justiça, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul. ;O presidente gostaria que todos continuassem até o fim, pois ele acha que em time que está ganhando não se mexe. O interesse de manter todos era para que a máquina não parasse de funcionar, mas Lula entende a vida política, as necessidades pessoais, partidárias e estaduais;, explicou um auxiliar do presidente.
Os novos ministros estão proibidos de iniciar projetos em ano eleitoral. De acordo com o ministro das Cidades, Márcio Fortes, Lula procurou os chefes das pastas com maior visibilidade e pediu continuidade para cumprir todas as metas estabelecidas. ;O presidente brincou que nós vamos trabalhar o dobro. Não quer nenhum projeto novo. É para cumprir o cronograma deste ano e o que faltou em 2009. A previsão é a reunião terminar às 13h, mas as conversas podem ser prolongadas.;
A meta para a pasta de Minas e Energia, recém-assumida por Márcio Zimmermann, é licitar já em 20 de abril a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, cujo investimento previsto é de R$ 20 bilhões. Lula também vai pedir para Zimmermann dar tratamento especial aos investimentos para a camada de petróleo do pré-sal e ao programa Luz para Todos. O cumprimento do cronograma do programa Luz para Todos é encarado como fundamental para as pretensões da campanha de Dilma ao Planalto.
Ambiente
A disputa petista na eleição presidencial também precisará de trabalho localizado na área da agricultura(1). Crítico de medidas rigorosas impostas pelo setor ambiental, o novo ministro Wagner Rossi será orientado a evitar embates em ano eleitoral. Seu antecessor, Reinhold Stephanes, colecionou uma série de discussões públicas com o também ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc. Izabella Teixeira, nova chefe da pasta, terá como desafio manter o nível de redução do desmatamento da Amazônia, que chegou ao menor índice dos últimos anos.
Para José Artur Filardi, novo ministro das Comunicações, a ordem é ampliar a rede de beneficiários das políticas públicas da pasta. Ele tem pouco tempo para dobrar o número de cidades com internet(2) banda larga e ainda atingir um universo significativo de escolas públicas conectadas. Também discípulo do antigo ocupante do cargo, João Reis Santana Filho, da Integração Nacional, tem nas mãos projetos na maior área de influência do governo Lula: o Nordeste. Outra missão de Santana é minar a candidatura tucana de José Serra, com os investimentos do governo federal, incluídos no PAC 2, para prevenir enchentes. Projetos de contenção de encostas, drenagem e até a 1; Conferência Nacional de Defesa Civil devem servir como munição aos petistas. No Ministério dos Transportes, o técnico Paulo Sérgio Passos terá que conciliar um problema antigo, a má condição das estradas brasileiras, com uma novidade: o trem de alta velocidade.
Além de gerenciar o orçamento de R$ 254 bilhões com a missão de evitar o crescimento do deficit da Previdência, Carlos Eduardo Gabas tem que cumprir a meta de entregar este ano 370 novas agências do INSS, reduzir o tempo de atendimento nas agências para no máximo 29 minutos e zerar o arquivo dos processos que ficam até 75 dias em análise. No Rio de Janeiro, o novo ministro da Secretaria de Igualdade Racial, Eloi Ferreira, assume o cargo com a missão de defender a expansão das políticas de cotas raciais, sem gerar polêmica com tradicionais instituições acadêmicas que resistem à ideia.
Na pasta mais popular do governo Lula, Márcia Lopes assume a chefia em situação confortável, pois o Ministério do Desenvolvimento Social cumpriu grande parte das metas em relação ao aumento do número de concessão de benefícios. Deve estender o Bolsa Família a 500 mil famílias este ano. O desafio a ser enfrentado é fazer o programa de capacitação dar certo. O governo esperava incluir no mercado de trabalho pelo menos 180 mil beneficiários do programa, mas apenas 40 mil se interessaram por cursos profissionalizantes oferecidos.
1 - Fertilizantes
O apoio ao pequeno agricultor é encarado como fundamental, assim como os incentivos à comercialização e a garantia de preços mínimos não prejudiciais aos agricultores. Em outra frente, o governo vem trabalhando em busca de reverter a dependência internacional de fertilizantes. Hoje, 90% da matéria-prima é importada.
2 - Banda larga
O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) quer inserir o país na corrida cibernética, levando internet rápida à população dos 5.564 municípios. As dúvidas que rondam a proposta, porém, colocam o Brasil em desvantagem em relação às nações desenvolvidas. A primeira etapa do plano será executada ainda no mandato de Lula.
PESQUISA DIVULGADA
Pesquisa do instituto Vox Populi encomendada pela TV Band mostra José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) em situação de empate técnico na corrida presidencial. O levantamento foi feito com 2 mil entrevistados em todo o país, entre 30 e 31 de março, e apresenta Serra com ligeira vantagem: 34% a 31%. A tendência verificada pelo instituto é de crescimento de Dilma. Em janeiro, o ex-governador de São Paulo tinha os mesmos 34%, mas Dilma registrava 27% das intenções de voto. O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) e a senadora Marina Silva (PV-AC) aparecem com 10% e 5%, respectivamente. No cenário sem Gomes, José Serra cresce para 38%, Dilma para 33% e Marina para 7%. A margem de erro da pesquisa é de 2,2%.