Politica

Ênfase na cartilha da comparação

Reunião com novos titulares da Esplanada serve para o governo afinar discurso e afirmar a necessidade de que os ministros reforcem diferenças favoráveis à gestão atual em relação à de Fernando Henrique

postado em 06/04/2010 07:00
A primeira reunião ministerial de Lula com a presença dos 10 titulares que assumiram os cargos na semana passada teve aura de rito de passagem para os calouros. Afinados no discurso, os veteranos do primeiro escalão do governo mostraram simbolicamente o que se espera dos integrantes das principais pastas da Esplanada em eventos públicos, debates e entrevistas em ano eleitoral. O objetivo é reforçar as diferenças entre a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a do tucano Fernando Henrique Cardoso e, assim, fortalecer o discurso de que apenas a candidata do governo, a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, dará continuidade às políticas do petista. Ontem, a pré-candidata do PT classificou a oposição como ;anti-Lula; e deu o tom do que promete ser o embate a partir de julho.

O panorama foi levantado no encontro realizado ontem na Granja do Torto, após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fazer um retrato do atual cenário econômico do país. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, questionou como o primeiro escalão pode explorar os números positivos da economia em favor do governo e, dessa forma, rebater o discurso da oposição de que as estatísticas são reflexo da política implementada pelo governo FHC. O questionamento gerou amplo debate, cujo consenso foi o de que a comparação terá efeito positivo para a pretensão de Lula de ser sucedido por Dilma.

O debate deixou claro para os novatos a importância de marcar as diferenças durante a disputa presidencial, na qual Dilma usará como munição o legado do governo Lula, para enfrentar nas urnas o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB). De acordo com um dos ministros que participou do encontro, a intervenção de alguns integrantes do alto escalão de Lula reforçou a ideia de que não basta a eles somente apresentar os números positivos do governo durante a campanha, mas será preciso frisar que as benfeitorias se devem exclusivamente à gestão petista. ;Não é verdade que o governo Lula é uma continuidade (da gestão tucana). É um novo projeto.;

O presidente liberou os ministros para subir no palanque de aliados durante a campanha, quando terão a oportunidade de enfatizar o debate comparativo entre os governos Lula e FHC. A ordem, porém, é priorizar as ações de governo, e não as eleitorais. Único a dar entrevista após o encontro, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, alertou para o rigor da legislação eleitoral. ;A AGU vai junto com os ministérios, se necessário, fazer consultas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) naquilo que se refere a publicações e a campanhas de utilidade pública que possam ocorrer depois de 3 de julho;, avisou Padilha. A lei eleitoral proíbe que o governo faça propaganda nos três meses que antecedem as eleições.

Militante
O próprio presidente Lula (1) já avisou que também vai dedicar o tempo livre para fazer campanha nos estados, embora tenha sido multado pelo TSE em duas ocasiões no mês passado, sob a acusação de ter feito campanha antecipada em favor de Dilma durante eventos oficiais do governo. ;O presidente disse claramente que em seus horários livres vai participar ativamente não só da campanha da ministra Dilma, mas de seus aliados nos estados, nos fins de semana e à noite;, contou Padilha.

Apesar de terem temido, por conta do mensalão, o chamado debate ético nas eleições de 2006, os aliados de Dilma avaliam que uma disputa ética durante a campanha não trará problemas para as pretensões de Lula de eleger a sucessora. ;Se os tucanos trouxerem o debate para o campo ético, será ótimo para o governo. PSDB e o DEM não têm moral para falar sobre debate ético;, alfinetou Padilha.

1 - Escalação conservadora
Ontem, no programa semanal de rádio Café com o presidente, Lula voltou a usar o jargão do futebol para explicar a dança de cadeiras em 10 ministérios. ;Não é possível você tentar, faltando pouco tempo para terminar o campeonato, contratar jogadores novos. Ou seja, você precisa trabalhar com os que você tem;, afirmou o presidente, sobre a escalação dos secretários executivos para substituir os ministros que deixaram as funções na semana passada.

Atenção ao PAC

O presidente Lula pediu atenção especial à execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), uma das vitrines da candidatura de Dilma. Segundo o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ;a responsabilidade de acelerar a execução dos investimentos, sobretudo os relacionados ao PAC, é a grande contribuição que os ministros podem dar para manter a economia acelerada;. Padilha disse que o índice de execução do programa em janeiro e em fevereiro foi 136% maior na comparação com o mesmo período de 2009.

O ministro disse ainda que Lula insistiu no pedido para que todos cumpram o cronograma do PAC, mas não descartou eventuais atrasos, prevendo a missão quase impossível de concluir promessas, como a recuperação de 11 mil quilômetros de estradas e a ampliação do programa Luz para Todos, para atingir mais 3,5 milhões de brasileiros até o fim do ano. ;Condições e vontade o governo tem, mas há outros fatores que influenciam as metas.;

Lula pediu aos comandados para não criarem novos projetos, mas manterem o que já vem sendo feito. ;Não é para ninguém inventar nada este ano. O presidente quer que não haja descontinuidade das políticas;, frisou Padilha.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, mostraram-se otimistas em relação à economia e disseram que o Brasil está preparado para enfrentar qualquer ;vulnerabilidade externa;. Hoje, o país dispõe de US$ 240 bilhões em reservas internacionais. De acordo com Padilha, apesar de previsões contrárias, o Planalto está tranquilo de que cumprirá a meta inflacionária, ;como fizemos em todos os anos desse governo;.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação