Politica

Alencar desiste de ser candidato

Vice abre mão de concorrer a uma vaga no Senado e, com isso, nem Temer nem Sarney vão precisar assumir a presidência neste fim de semana

postado em 10/04/2010 08:45
O vice-presidente José Alencar não tinha pressa em desfazer o mistério. Na manhã de ontem, após convocar a imprensa para uma coletiva em seu gabinete, no anexo II do Palácio do Planalto, andou tranquilamente pela sala e se acomodou na mesa de reuniões. Bem-humorado, conversou sobre temas amenos, como a infância em Minas Gerais, enquanto esperava o ajuste das luzes das câmeras de televisão. "Já posso falar com vocês?", questionou após alguns minutos. A partir de então, Alencar trocou o tom descontraído por outro, mais sério, para enfim anunciar que não pretende se candidatar às eleições de outubro. Alencar, em seu gabinete: Durante a entrevista, os olhos de Alencar lacrimejavam com frequência, mas ele garantiu que não estava chorando - era apenas um efeito colateral do tratamento a que se submete contra um câncer no abdome. "Eu vou cumprir o meu mandato até o último dia, se Deus quiser, e descer a rampa da mesma forma que subi. Subi a rampa com ele (o presidente Lula), vou descer com ele", afirmou. Esse, aliás, teria sido o principal motivo da desistência da candidatura. "Eu posso dizer que estou curado, mas, cientificamente, eu não posso dizer que estou curado." Embora reconheça a melhora em seu quadro de saúde, Alencar argumenta que a candidatura poderia gerar questionamentos por parte do eleitor mineiro. "Se eu não posso parar a quimioterapia, eu vou criar uma dúvida na cabeça das pessoas. 'Como é que o José Alencar está curado, se ele está fazendo quimioterapia duas semanas sim, uma semana não?'", afirmou. Com a decisão, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não assumirá a Presidência da República. O presidente Lula viaja neste fim de semana aos Estados Unidos. Durante a entrevista, Alencar reconheceu que a sua decisão facilitará a definição de nomes da base aliada nas chapas que disputarão o Senado e o governo de Minas Gerais. Com a então candidatura de Alencar, filiado ao PRB, ao Senado, o PT teria grande dificuldade em emplacar um político na casa, uma vez que o ex-governador Aécio Neves também está na disputa por uma das duas vagas. Agora, com a saída do vice do xadrez político, abriu-se uma oportunidade para acomodar um dos políticos de olho no governo estadual: o peemedebista Hélio Costa e os petistas Patrus Ananias e Fernando Pimentel. "De certa forma, eu fico desconfiado que estou atrapalhando a decisão, porque eles ficam esperando. Agora ela está tomada", disse Alencar. Aliança nacional O vice, entretanto, preferiu não dizer qual é o seu nome favorito na disputa em Minas Gerais. Se limitou a defender um palanque que reproduza a aliança nacional entre PT e PMDB. "O meu candidato é o candidato de consenso dos partidos da base." Com esse cenário, avalia que tem grandes chances de vitória no estado. "Num palanque enxuto, nós ganhamos a eleição em Minas Gerais de ponta a ponta. Desde a nossa candidata à Presidência da República até as eleições proporcionais, nós vamos ter uma votação espetacular." Alencar ainda ironizou o movimento 'Dilmasia', em referência à dobradinha nas urnas da pré-candidata do PT às eleições presidenciais, Dilma Rousseff, e o candidato tucano ao governo, Antônio Anastasia. Ao ser questionado sobre o assunto, perguntou se o termo se referia a alguma nova doença. "Eu não tenho mais idade para estar pelejando com doença nova. Eu já tenho essas doenças antigas que estou brigando há quanto tempo?" A batalha contra o câncer é de fato longa: são 13 anos e 15 cirurgias contra a doença. Por isso, afirmou que a mulher, dona Marisa, "fez festa" ao saber da decisão de não se candidatar a nenhum cargo em outubro. Alencar disse ainda que não tem planos para 2011. O político, entretanto, não descarta a possibilidade de assumir um cargo público em caso de vitória da ex-ministra Dilma. "Se eu estiver bem de saúde, e em condições de exercê-lo na plenitude, eu posso examinar sim, com o maior apreço", afirmou. Viagem O presidente Lula cumpre, a partir de amanhã, três dias de agenda em Washington. Com a viagem, a chefia do Executivo caberia ao vice-presidente José Alencar. Como ele era cotado para concorrer a uma vaga no Senado, o vice teria que sair do país e dar lugar ao próximo da lista, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). O peemedebista, entretanto, também será candidato em outubro e, para não ser tornar inelegível, a função ficaria, enfim, com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Principais pontos Confira trechos do que disse o vice-presidente José Alencar: Mandato "Eu vou cumprir o meu mandato até o último dia, se Deus quiser, e descer a rampa da mesma forma que subi. Subi a rampa com ele (Lula), vou descer com ele." Tratamento "Acho que não é honesto eu participar de uma campanha, colocar meu nome, e de repente eu ter que sair para fazer quimioterapia." Campanha "Eu até posso enfrentar uma campanha, mas eu estarei em condições de exercer um mandato na sua plenitude, no período todo dele? Eu pensei muito sobre isso também." Dilma "Como ela (Dilma) é muito dedicada, muito trabalhadora, muito bem-informada, ela então desce ao detalhe de como vai fazer. E isso, às vezes, estende um pouco mais o tempo do discurso. Eu costumo dizer que os discursos devem ser como os vestidos das mulheres: nem tão curtos que nos escandalizem, nem tão longos que nos entristeçam." Reparos ao discurso da ex-ministra Embora tenha elogiado a ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT às eleições presidenciais, o vice-presidente fez uma pequena crítica, em tom bem-humorado, ao desempenho da petista em eventos públicos. Na véspera, Alencar e Dilma participaram de evento do PCdoB, em Brasília, em apoio à candidatura da ex-ministra da Casa Civil. Na ocasião, Dilma abordou temas variados, como a inclusão de jovens no mercado de trabalho e a nanotecnologia. Segundo Alencar, o político deve ressaltar em seu discurso o que vai fazer caso eleito, em detrimento de como pretende fazer. "Como ela é muito dedicada, muito trabalhadora, muito bem-informada, ela então desce ao detalhe de como vai fazer. E isso, às vezes, estende um pouco mais o tempo do discurso. Eu costumo dizer que os discursos devem ser como os vestidos das mulheres: nem tão curtos que nos escandalizem, nem tão longos que nos entristeçam". O vice-presidente, entretanto, afirma que com o tempo a ex-ministra assumirá o tom ideal do discurso. "À medida que o tempo vai passando em uma campanha, ela vai também desenvolvendo condições melhores de comunicação. E isso vai ajudá-la muito", disse.

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