postado em 13/04/2010 08:44
Pré-candidato à Presidência da República pelo PSB, o deputado Ciro Gomes (CE) comentou com amigos que a visita da presidenciável petista, Dilma Rousseff, ao Ceará ontem foi uma provocação. Isso porque, com tantos estados para ir, ela escolheu justo aquele onde o PSB faz política e está em litígio com o PT por conta da composição da chapa ao governo estadual. A irritação de Ciro está numa ascendente desde o início do mês, quando aumentaram as pressões do PT para que o PSB retire a sua candidatura. Na última sexta-feira, ele afirmou que o comportamento do PT %u201Cbeira o criminoso%u201D, mas que ele está resistindo e não vai retirar a sua candidatura ao Palácio do Planalto.
O PSB, no entanto, não tem mais tanta certeza assim. O partido soube que a visita de Dilma ao Ceará foi decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra a avaliação até mesmo da prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), que concordava em adiar a viagem da ex-ministra para depois que a relação PT-PSB estivesse mais clara. Lula discordou. A ideia do presidente em mandar Dilma ao Ceará foi justamente para ver se consegue desidratar Ciro Gomes na sua base e deixar claro de uma vez por todas que o Planalto tem apenas um candidato a presidente da República: Dilma. Lula está certo de que pode emplacar sua candidata no primeiro turno %u2014 inclusive disse isso num no ABC paulista, no sábado. Mas, para isso, quer o deputado socialista fora da disputa.
Nessa fase da pré-campanha, onde Dilma pisa logo depois chegam os pesquisadores para detectar pontos fortes e fracos da visita, uma vez que a pré-candidata se desdobra em entrevistas nas rádios. Dessa vez, eles querem saber se o eleitor de Ciro gostou da ministra e se, na hipótese de Ciro não ser candidato, eles votariam em Dilma. Se as respostas forem favoráveis à candidata petista, a pressão do PT sobre o PSB aumentará.
Frangalhos
Embora o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, tenha dito que seu partido não deixará de apoiar a reeleição do governador Cid Gomes, a relação entre o PT e o PSB no Ceará está em frangalhos. O PT quer indicar o vice na chapa de Cid e, ao mesmo tempo, garantir uma das vagas ao Senado para o deputado José Pimentel, ex-ministro da Previdência Social. O PSB considera que a vaga de vice de Cid está de bom tamanho para o PT, já que Ciro e Cid Gomes têm uma relação histórica com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e planejam fechar uma coligação branca para ajudar a reeleger o senador tucano. Ontem, por exemplo, Tasso deu declarações de solidariedade a Ciro. %u201CA visita de Dilma é uma provocação a ele. Mas é bom ela vir aqui, porque pelo menos fica sabendo o que é o Ceará%u201D, disparou o tucano.
O PT cearense não aceita essa relação dos irmãos Gomes com os tucanos e ameaça até mesmo romper a aliança com Cid Gomes. Em Brasília, deputados do PSB não duvidam que esse racha ocorra e a ordem é tentar juntar os cacos da relação entre os dois partidos. O PSB tem hoje oito candidatos a governador, dos quais cinco já estão certos: Cid Gomes, no Ceará; Wilson Martins, no Piauí; Iberê Ferreira, no Rio Grande do Norte; Ricardo Coutinho, na Paraíba; e Eduardo Campos, em Pernambuco. Mas a legenda ainda está na dúvida se saem candidatos Renato Casagrande, no Espírito Santo; Beto Albuquerque, no Rio Grande do Sul; e Paulo Skaf, em São Paulo. Nesses três últimos casos, as candidaturas vão contra os planos petistas, assim como a candidatura de Ciro Gomes atrapalha a ideia de Lula de resolver tudo no primeiro turno. Só que, avisam os socialistas: se Lula continuar mandando Dilma provocar Ciro, é bem provável que ela perca parte do apoio do PSB.
O número
8
Quantidade de pré-candidatos do PSB a governos estaduais
Ânimos acirrados
Josie Jeronimo
Especial para o Correio
A suposta referência de Dilma Rousseff (PT), que teria tachado o período de exílio do pré-candidato tucano à Presidência da República, José Serra, como uma %u201Cfuga%u201D, acirrou os ânimos dos competidores na corrida presidencial. A senadora Marina Silva (PV-AC), adversária de Serra e de Dilma na disputa, censurou o discurso da petista, que enalteceu como qualidade política o fato de não ter %u201Cmedo da luta%u201D, apesar de %u201Capanhar, sofrer, ser maltratada%u201D e de %u201Cnunca abandonar o barco%u201D.
Dilma foi torturada na década de 1970, durante a ditadura militar, e Serra recorreu ao exílio político no início do golpe. %u201CA legítima defesa da vida, da integridade e da dignidade daqueles que, com dor e sofrimento, saíram de seu país para rumos indefinidos, não é fuga. Eu não sei o contexto em que a (ex) ministra falou, mas os exilados políticos não são fujões%u201D, criticou Marina.
José Serra, por sua vez, lembrou que aliados de Dilma também estiveram na condição de exilados. %u201CO próprio Leonel Brizola, que era chefe do partido da Dilma, foi exilado. Não entendi direito a declaração, porque ela seria um desrespeito a toda essa gente.%u201D A ex-ministra utilizou sua página no Twitter para responder os rivais. %u201CGrandes amigos meus só tiveram uma saída na ditadura: se exilar. Querer dizer que eu os critiquei só pode ser má-fé.%u201D