postado em 16/04/2010 08:46
Um grande esquema de exploração sexual e tráfico nacional de mulheres, com atuação em oito estados, foi desmontado ontem pela Polícia Federal. Cinco pessoas ; inclusive mãe e filho ; acabaram detidas durante a Operação Ateneia no interior de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e São Paulo, onde a quadrilha mantinha casas de prostituição. Além de mulheres adultas, meninas pobres eram aliciadas na portas das escolas ou em praças públicas. Elas tinham os documentos alterados e seguiam para outras localidades, distantes das famílias. Quando observava que alguma das vítimas representava ameaça, o grupo fazia rodízio entre as garotas. Um homem que pertencia ao esquema foi morto. A suspeita dos policiais federais é de que ele tenha sido assassinado pela organização.Tanto o perfil quanto os métodos usados pelo grupo eram semelhantes a muitos que ocorrem no país. Normalmente o esquema recrutava mulheres de baixa renda, moradoras de locais distantes e pobres a quem ofereciam benefícios e vantagens financeiras para que trabalhassem em outros estados. Algumas já sabiam que seriam contratadas para a prostituição. Quando se tratava de menores, as meninas normalmente eram abordadas e enganadas. A maior parte das vítimas morava em Tocantins, na Bahia, no Ceará, no Maranhão e no Pará. Elas tinham como destino normalmente São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. As prisões ocorreram em Frutal (MG), Uberlândia (MG), Aparecida do Taboado (MS), Paranaíba (MS) e Araguaína (TO).
O esquema era comandado por uma mulher e seu filho, que tinha a função de falsificar a documentação das meninas, enquanto que a mãe administrava as casas de prostituição. Também cabia ao rapaz o recrutamento de aliciadores por vários estados, encarregados de procurar as vítimas, que ganhavam passagens, alimentação e dinheiro para viajar até Minas e Mato Grosso do Sul, onde a quadrilha estava estabelecida. Porém, ao chegarem aos locais, as mulheres eram obrigadas a contrair dívidas e viviam sob vigilância constante do grupo.
Rodízio
De acordo com a Polícia Federal, as mulheres sofriam agressões morais e até físicas. Uma delas chegou a fazer um aborto e foi expulsa da casa, depois de ser agredida pela dona do estabelecimento. Para evitar que as vítimas fugissem, a proprietária do prostíbulo montou um sistema de rodízio, distribuindo as mulheres entre Aparecida do Taboado, Frutal e Paranaíba. As investigações que geraram a Operação Ateneia indicam que o grupo explorou pelo menos 80 mulheres desde o ano passado. A média era de quatro pessoas traficadas por mês.
Além disso, o esquema sempre renovava o grupo de mulheres exploradas. Quando isso ocorria, elas eram expulsas das casas de tolerância ou passavam a atuar como aliciadoras. Quem deixava os locais de trabalho não tinha como voltar para casa, já que não recebia dinheiro, passagens e nem alimentação. Quem ameaçava denunciar a quadrilha recebia ameaças, mas normalmente conseguia retornar para casa. Durante a operação, a Polícia Federal ofereceu condições para que as vítimas pudessem voltar para onde moravam. As menores foram encaminhadas aos Juizados da Infância e Juventude.
A Polícia Federal suspeita que a quadrilha tenha cometido outros crimes, como o assassinato de um ex-integrante do esquema que denunciou o paradeiro de uma mulher para seus familiares. O homem apareceu morto às margens de um lago em Araguaína, com vários tiros, depois de ter confirmado, durante a investigação da Operação Ateneia(1), como o grupo trabalhava, principalmente na área de falsificação de documentos. Os presos deverão ser indiciados por sedução de menores, incentivo à prostituição e falsificação de documentos, entre outros.
1 - Palas Atena
O nome da Operação Ateneia é uma referência à deusa da mitologia grega ; que também se chamava Palas Atena. Ela nasceu adulta quando Zeus teve uma dor de cabeça. O nome da ação da PF indica que as vítimas eram meninas vulneráveis, aliciadas por meio de fraudes e que foram obrigadas a se tornarem adultas, como aconteceu com Ateneia. A operação teve a presença de um grupo da Polícia Federal especializado na repressão aos crimes contra direitos humanos.
Memória
Negociatas com políticos
Nos últimos anos, as investigações da Polícia Federal têm identificado que a exploração ou o tráfico de seres humanos está aliado a outros tipos de crime. Uma das principais ações da PF, realizada em abril de 2008, a Operação Santa Teresa mostrou que a corrupção também faz parte do esquema, e com os mesmos protagonistas. A apuração era em torno de uma boate onde se explorava a prostituição frequentada por políticos, empresários e até policiais. Lá era um dos locais onde se negociavam desvios de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para prefeituras paulistas e empresas.
A partir de escutas telefônicas, o delegado Rodrigo Levin, que chefiava a investigação, descobriu que não apenas de prostituição viviam os proprietários da boate. Eles faziam parte da cadeia de empresários que se aliaram aos políticos para realizar os desvios. Entre as 10 pessoas presas na Operação Santa Teresa, estava um dos assessores do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, e um advogado indicado por Paulinho para o conselho de administração do BNDES. A apuração chegou à mulher do parlamentar, que foi indiciada pela PF por suspeita de participar do esquema por meio da organização não governamental Meu Guri, ligada à entidade sindical.
Outra investigação em torno da prostituição ocorreu no Rio Grande do Norte, quando a Polícia Federal descobriu um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro, comandado por grupos espanhóis. Eles tinham casa noturnas e hotéis, negócios com a função de mascarar irregularidades na Europa. A ação policial aconteceu nos dois países. (EL).