Politica

Perfil - José Eduardo Cardozo - desiludido com o baixo nível da política

Decepção é a principal razão que levou o deputado paulista a redigir carta de despedida. Este ano, ele não vai concorrer à reeleição

Ivan Iunes
postado em 18/04/2010 08:18
Em uma carreira política, a perda de votos entre uma eleição e outra pode ser traduzida em três reações distintas: a tentativa por um cargo de menor expressão, a busca por mais recursos para a campanha ou o ponto final na carreira parlamentar. Entre as três possibilidades, o deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP) optou pela última. A saída de cena foi anunciada em carta de 136 linhas, na qual ele responsabiliza a ausência de reforma política ; em especial a não aprovação do financiamento público de campanha ; pela decisão. De proeminente político paulista, terceiro mais votado do estado para a Câmara dos Deputados em 2002, até o dia do basta, há cerca de um mês, o parlamentar completou oito anos de Congresso. Tempo que considera suficiente para desestimular a tentativa por um novo mandato. ;Há um nivelamento por baixo da política que só legitima o mau parlamentar;, criticou.

Atual secretário-geral do PT, Cardozo iniciou o ano sonhando com a indicação para o Ministério da Justiça. Ensaiava desistir de um novo mandato para trabalhar no Executivo por conta do horizonte nebuloso em São Paulo. Vereador mais votado da história do país, com 269 mil votos, em 2000, o político viu os 300 mil votos obtidos para deputado federal em 2002 minguarem para 124 mil em 2006. Uma nova eleição só seria possível com recursos pujantes de campanha. A saída da cena parlamentar pelo expresso Esplanada dos Ministérios acabou abortada quando foi preterido pelo à época secretário executivo da pasta, Luiz Paulo Barreto, que acabou assumindo o ministério. Entre buscar recursos para as eleições e se dedicar à vida partidária, optou pela segunda alternativa.

Dentro do PT, Cardozo sempre teve respaldo de nomes de peso, como a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy e o ex-ministro da Justiça Tarso Genro. Ao mesmo tempo, conviveu com as desconfianças do campo majoritário da legenda, a alta classe petista, formada por políticos como o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A indisposição nasceu ainda durante o período em que foi secretário de Governo de Luiza Erundina na Prefeitura paulistana, no início da década de 1990. Escalado pela então chefe para investigar denúncias de irregularidades envolvendo doações de construtoras à campanha presidencial petista em 1989, Cardozo acabou por ganhar inimizades ocultas dentro da legenda. A desconfiança do grupo que controla o PT ganhou ainda mais corpo com a postura do deputado enquanto sub-relator da comissão que investigou as denúncias de caixa dois na campanha de 2002 e o escândalo do mensalão.

Namoro


Em Brasília, Cardozo coleciona situações inusitadas. No início da carreira parlamentar na capital federal, foi confundido um par de vezes com o ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB). No segundo mandato, engatou namoro com a deputada federal Manuela D;Ávila (PCdoB-RS). Por diversas vezes, os dois foram flagrados em filas de cinemas de Brasília e conversando em plenário. A proximidade começou a ruir no início do ano, até que a política gaúcha terminou a relação.

Constrangimentos


A decisão de abandonar o cenário político após o fim do atual mandato teve relação intrínseca com constrangimentos pessoais. ;Quando nossos filhos escondem que são filhos de deputados para não se constrangerem, o trabalho parlamentar se torna perverso. A cada passo, temos de explicar que não somos bandidos;, explicou.

Depois de anunciar a saída da cena parlamentar, Cardozo viu uma fila de deputados cogitarem ideia semelhante. No dia seguinte à publicação da carta, ouviu nos corredores da Casa a manifestação pessoal do deputado federal Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ). Outro colega, Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), disse que gostava de ser parlamentar, mas não de ser candidato ; em alusão ao atual sistema político brasileiro. ;O processo eleitoral é despolitizado, prevalece quem tem a maior máquina eleitoral. Boa parte dos recursos vai para contadores e advogados, por conta da burocratização de campanha, fora o desconforto natural em estabelecer limites para os doadores;, resumiu Cardozo.

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