Politica

Exército de prefeitos: estratégia na campanha de Dilma está montada

postado em 22/04/2010 08:07

A ordem na campanha de Dilma Rousseff (PT) é atrair o maior número de prefeitos dos partidos aliados e transformá-los em cabos eleitorais. A estratégia é explorar um potencial de 3.904 administradores municipais que serão orientados a mostrar à população que as principais realizações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tiveram o dedo da pré-candidata petista. Além disso, o discurso pré-determinado prevê repassar ao eleitor a tese de que, vitorioso, o pré-candidato do PSDB, José Serra, acabará com as benfeitorias proporcionadas pelo dinheiro extra do Bolsa Família, a ligação elétrica do Luz para Todos e as obras de saneamento básico previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

A mobilização ficará por conta do grupo de deputados da base aliada, coordenados pelo núcleo paulista de ex-presidentes da Câmara: Arlindo Chinaglia (PT-SP), Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP). ;Queremos o engajamento de todos;, disse o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Esse grupo tem um braço no governo. O subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais, Olavo Noleto Alves. É dele o mapa das prioridades em cada município.

A ideia dos parlamentares é explorar esses projetos fundamentais para arregimentar o exército de cabos eleitorais por meio de uma enorme rede de influência. A lógica mostra-se simples: um deputado federal precisa do apoio de prefeitos e vereadores de determinada cidade para aumentar o número de votos e ganhar a eleição. Essa aliança é cultivada ao longo dos quatro anos de mandato com a liberação de emendas parlamentares, utilizadas para construção de pequenas obras, como postos de saúde, escolinhas, cisternas etc. Esse dinheiro gera uma fatura a ser cobrada pelos deputados na hora da campanha. E os prefeitos pedirão votos para quem mais levantou recursos.

Essa rede de influência pode não apenas beneficiar Dilma, mas ela tem um potencial maior se conseguir trazer para sua campanha todos os 3.904 prefeitos eleitos pelos 11 partidos que se comprometeram a se engajar na campanha do PT no jantar da última segunda-feira ; no total, o país tem 5.563 municípios. Em política, a matemática não é simples. Desse total de legendas, PSC, PTB, PP e PMN disseram que provavelmente darão apoio informal a petista, o que significa não haver consenso nem unidade dentro da legenda. O PTB, por exemplo, é um dos mais divididos. O presidente do partido, Roberto Jefferson (RJ), declarou apoio ao pré-candidato tucano, José Serra, mas o líder na Câmara, Jovair Arantes (GO), e no Senado, Gim Argello (DF), prometem trabalhar pela petista.

Ação e reação
Os aliados de Dilma tentam minimizar os apoios informais dizendo que o mais importante é aumentar a capilaridade da candidatura ; jargão para envolver na rede montada pela campanha o maior número de militantes no maior número de cidades. ;Os deputados levam para os municípios a solução: habitação, água, infraestrutura e esgoto. Os deputados e os prefeitos sabem dos benefícios da parceria com o governo e o que representa a melhoria para a população (na hora da eleição);, disse o deputado Luciano Castro (PR-RR).

Esse discurso será recheado por dados do governo: números de beneficiados pelo Bolsa Família, pelo Luz para Todos, além do dinheiro conseguido com a exploração do petróleo da camada pré-sal. Essa última bandeira será apresentada como um resultado da reorganização da Petrobras a partir do governo Lula, quando Dilma estava à frente do Ministério de Minas e Energia.

Como na política toda ação apresenta uma reação, essa ajuda dos prefeitos terá um custo: mais dinheiro para as pequenas obras. Há uma expectativa na Câmara e no Senado para a liberação de R$ 4 milhões por parlamentar, em média, nos próximos dias. ;Os prefeitos precisam de ajuda do governo federal para resolver o repasse dos recursos. É um sofrimento muito grande esbarrar na burocracia. Os recursos não chegam. Tem que buscar um mecanismo para facilitar os trâmites, tem que desburocratizar. Sem o dinheiro federal não se pode construir posto de saúde, grupo escolar. Os prefeitos vão reclamar;, disse o deputado Mário Negromonte (PP-BA). É essa a brecha que a oposição pretende explorar para dinamitar a estratégia petista do exército de cabos eleitorais. ;Prefeitos sofreram demais com a redução do Fundo de Participação dos Municípios. O governo fez promessas, mas não cumpriu;, disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

Colaborou Ivan Iunes


Novas alfinetadas

A pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, voltou a alfinetar José Serra (PSDB), seu principal adversário na eleição de outubro. Em entrevista ao programa Brasil Urgente, da rede Bandeirantes, a petista listou dois motivos para não votar no pré-candidato tucano: ele não representa o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e defende um modelo econômico dependente do Fundo Monetário Internacional (FMI). Dilma disse ainda que não entraria em polêmica com os institutos de pesquisa que mostram dados divergentes sobre sua situação na campanha. ;Estou saindo lá de baixo e estou chegando aqui. É um sinal do momento. Pesquisa é um ponto, uma referência, mas não serve para dizer como vão ser as coisas daqui para a frente;, disse. Segundo levantamento realizado pelo Ibope, Serra tem 36% das intenções de voto, contra 29% de Dilma. (TP)

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