São Paulo ; A pré-candidata à Presidência da República Dilma Rousseff (PT) ironizou o slogan usado frequentemente pelo seu concorrente José Serra (PSDB). Ao discursar ontem no lançamento da pré-campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, a ex-ministra disse que os paulistas "merecem mais" do que vem fazendo o grupo de tucanos que ocupa o Palácio dos Bandeirantes há 30 anos. Dilma citou como mérito do governo federal as obras de São Paulo que Serra usa como vitrine política, como o complexo viário Rodoanel, a expansão do metrô e a ampliação de vagas nas escolas federais de ensino técnico. "O governo federal fez um grande esforço aqui em São Paulo e nós achamos que é possível fazer muito mais", discursou.
Sob fortes aplausos de militantes petistas e gritos de "Dilma presidente", a pré-candidata usou quase todo o discurso para alfinetar Serra, que deixou o governo paulista para se dedicar à pré-campanha sob protestos de professores da rede estadual que reivindicam reajuste salarial de 34,3%. "Uma educação de qualidade só acontece quando os professores são bem remunerados", ressaltou a petista, que usava uma roupa vermelha no evento que também lançou a pré-candidatura de Marta Suplicy (PT) ao Senado.
O maior cabo eleitoral dos pré-candidatos petistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não compareceu ao Sindicato dos Bancários, onde o evento ocorreu. Alegou "motivos pessoais" e enviou uma carta que foi lida pelo líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). Lula disse que é testemunha da dedicação de Mercadante e de Marta ao PT.
O lançamento das pré-campanhas de Marta e de Mercadante também serviu para a apresentação do jingle da campanha de Dilma. Na peça musical, as referências a Lula são evidentes em quase todas as frases: "Ela aprendeu com ele/Vem Dilma, vem (...) Seguir em frente/Eu faço como o Lula/Eu vou com ela". Os assessores da pré-candidata fizeram questão de dizer que não se trata do jingle oficial, já que a temporada de campanha política ainda não foi aberta pela Justiça Eleitoral.
Pesquisas
Dos dois pré-candidatos lançados ontem pelo PT em São Paulo, apenas Marta sai com vantagem, já que aparece na frente em todas as pesquisas de opinião para o Senado. Já Mercadante perde para Geraldo Alckmin (PSDB) em todos os levantamentos feitos até agora por todos os institutos de pesquisas. Em todas as pesquisas feitas até agora, o tucano seria eleito no primeiro turno. Segundo Mercadante, ele decidiu concorrer ao governo de São Paulo e não à reeleição ao Senado porque a segunda opção seria o caminho mais fácil e ele optou pelo mais difícil. No discurso, disse que as questões do trânsito e do transporte público serão prioridades. "A gente vê o que é a Estação (do metrô) da Sé no horário de pico. As pessoas não conseguem descer e nem entrar", criticou.
Assíduos em todos os eventos políticos em São Paulo, os humoristas de televisão também marcaram presença na cerimônia realizada no Sindicato dos Bancários. Usando um vestido tomara que caia bem comportado para o que costuma trajar nesse tipo de ocasião, a apresentadora Sabrina Sato, do programa Pânico na TV, arrancou suspiros de petistas. Já o humorista Carioca compareceu ao evento fantasiado de Dilma. Os integrantes do CQC tentaram entrevistar Marta e Dilma, mas ambas despistaram os repórteres.
Ciro era a primeira opção
A candidatura do senador Aloizio Mercadante não era a primeira opção do PT para o governo de São Paulo. O comando do partido chegou a oferecer o posto de candidato único governista no estado para Ciro Gomes (PSB). A estratégia era tentar conter o apetite do deputado federal pelo Palácio do Planalto. Em um movimento agora considerado errático, Ciro chegou a mudar o domicílio eleitoral do Ceará, onde se elegeu deputado, prefeito de Fortaleza e governador. O título passou a ter como endereço o maior colégio eleitoral do país. A troca havia sido sugerida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A aventura de disputar o Palácio dos Bandeirantes, contudo, não se confirmou e o socialista ainda bate o pé para tentar convencer o PSB a lançar o seu nome à Presidência ; hipótese cada vez mais remota. Como não quer disputar nova eleição para a Câmara dos Deputados nem tentar o Senado, pode sobrar para Ciro um posto-chave na campanha de Dilma Rousseff (PT). O deputado nega interesse na oferta.