Politica

Fome Zero: Oportunidade de melhorar a vida

Luiz Ribeiro/Estado de Minas - Enviado especial
postado em 02/05/2010 09:25
Edivilson Nunes, Maria das Mercedes e Natanael Alves Dias são representantes de três gerações diferentes de Guaribas, a cidade de 4,6 mil moradores encravada no sudeste do Piauí que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu como símbolo do combate à fome, no início do primeiro mandato, em 2003. O desenvolvimento do pequeno município nos últimos sete anos e meio deu fôlego para os três aproveitarem as novas oportunidades para tentar melhorar de vida. De ajudante de obras e vigia de casas em Brasília, Nunes, 32 anos, casado e pai de dois filhos, virou uma espécie de microempresário. Depois de conseguir juntar dinheiro com a família, retornou ao Piauí para se tornar dono do próprio negócio. Ergueu, graças ao aprendizado com um mestre de obras brasiliense, um bar que mantém ao lado de sua casa.

O local modesto abriga um balcão, uma estante lotada de bebidas alcoólicas, um freezer para os refrigerantes e uma ampla mesa de bilhar. Na frente, protegida por um toldo contra o forte calor do Piauí, uma churrasqueira elétrica para assar carne de sol. A renda de R$ 300 mensais é complementada pelos R$ 112 que recebe do Bolsa Família, parte por manter os dois filhos (um de 12 e outro de 11) na escola. Com esse dinheiro e as economias feitas do tempo de Brasília, Nunes adquiriu até uma moto 125cc.

A Guaribas do início do primeiro mandato de Lula não tinha luz e água. Moto, então, era peça de luxo. A primeira a chegar foi a eletricidade, depois a água. As motocicletas passaram a invadir o município, escondido no fim de 52km de estrada esburacada e arenosa, há dois anos.

Os filhos do dono do bar conseguem desfrutar de acesso à internet de banda larga gratuito fornecido pelo Estado. Há pouco mais de um mês uma operadora de telefone celular instalou uma antena próxima do centro. A moda entre a juventude guaribense é trocar mensagens de textos pelo telefone e frequentar as redes sociais da internet, como Orkut e Facebook.

Estão disponíveis 14 computadores com acesso à rede mundial de computadores. O coordenador do telecentro é Natanael. Com 20 anos, ele formou-se no ensino médio, aprendeu informática e suporte num programa de inclusão digital do estado. Hoje ensina os jovens. O garoto, agora, quer cursar direito. Disse ter conseguido já a bolsa do Prouni, também programa do governo federal, para estudar em São Paulo.

Sem precisar do Prouni, Maria das Mercedes já começou o ensino superior. Aos 37 anos, a mãe de quatro filhos conta que depois que Guaribas apareceu no mapa, a partir de 2003, passou a ambicionar voos mais altos. ;Antes, a gente acordava 2h da manhã para subir na serra e pegar água. Hoje, a água está ali. Temos dinheiro para comprar comida;, disse. Maria das Mercedes completou o ensino médio com 32 anos. Há dois começou um curso de pedagogia. Com a formação, dá aulas no Programa Brasil Alfabetizado.

O Bolsa Família de R$ 130 completa a renda de R$ 250 de professora. Desse dinheiro, ela separa o do programa do governo para pagar a faculdade, que espera terminar em 2012. ;Agora, eu quero mais para os meus filhos. Gostaria que eles fizessem um curso mais especial, algo como engenharia ou medicina`, afirmou.

;Viúva da seca;
Em Itinga, no Vale do Jequitinhonha, Marleide Dias de Brito aguardava ansiosamente pelo benefício do Bolsa Família em 2003, enquanto o marido Welton Ruas de Oliveira trabalhava no corte de cana no interior de São Paulo. Ela estava na condição de ;viúva da seca;. Agora, Marleide, que é mãe de dois filhos ; Welson, de 16 anos, e Adeni, de 13 ; está satisfeita com os R$ 134, desde o primeiro mandato de Lula. O marido, novamente, saiu para trabalhar no interior de São Paulo. Ela revelou que trabalha informalmente como empregada doméstica na cidade para ganhar R$ 100 por mês.

Em Itinga, o progresso não veio com a mesma intensidade que em Guaribas, mas, para alguns moradores, além de alimento na mesa, mesmo com o dinheiro sendo pouco, o Bolsa Família representou a oportunidade de comprar algum móvel para a casa, como o sofá adquirido a prazo ; R$ 350 em cinco prestações. A vizinha, a dona de casa Maria Aparecida Pereira, agradece ao programa por ter adquirido um armário novo. Comprou o móvel por R$ 300, divididos em seis parcelas. Mãe de três filhos, ela entrou no programa há seis anos e recebe R$ 90 por mês.

Sem perder a esperança

Uma das dependentes do Bolsa Familia em Itinga é Teresa Fernandes Pessoa, de 53 anos. Na primeira viagem de Lula à cidade, em 1993, na Caravana da Cidadania, ele esteve na casa de Teresa, que, sem marido, dividia dois cômodos com seus 12 filhos. Ela conta que Lula ficou impressionado com sua condição de pobreza. ;Ele pediu para eu rezar para que ele ganhasse a eleição para presidente e que, se ganhasse, iria me dar uma casa;, diz ela.

No retorno do líder petista a Itinga, logo após a sua posse como presidente, em janeiro de 2003, Teresa se espremeu no meio da multidão para vê-lo. Ainda naquele ano, foi cadastrada no Programa Fome Zero. Hoje, recebe R$ 123 do Bolsa Família. Como agradecimento, continua rezando por Lula. A moradia permanece a mesma. A única diferença é que agora Teresa divide os dois cômodos com dois filhos e uma neta. Os outros filhos cresceram, casaram e moram em ruas próximas, enfrentando dificuldades parecidas.

Ela continua sonhando com uma moradia decente. ;Peguei com Deus e o Lula ganhou a eleição para presidente duas vezes. Ainda tenho esperança que vou receber uma casa;, afirmou a moradora de Itinga. Teresa agradece muito a Lula pelos R$ 123 que recebe do governo, mas queixa-se de que o valor não é suficiente para o sustento da família, que não tem nenhum outro rendimento. ;Aqui é assim: tem dia que falta arroz. Outro dia falta feijão. Só tem carne no dia que a gente recebe o dinheiro do cartão;, contou a dona de casa.

Já em Guaribas, o desenvolvimento gerado a partir da visita de Lula não chegou para todos os habitantes do pequeno município piauiense. A pouco mais de 3km da saída da cidade ainda existem pessoas morando em casas de adobe, sem reboco, piso de terra e mais importante, sem acesso à água, a grande diferença na vida de parte dos moradores depois 2003.

Principais resultados

; O Bolsa Família prevê a transferência de renda para famílias carentes ; atualmente estimadas em 12,4 milhões de lares. Para 2010 deverão ser investidos R$ 13 bilhões;

; O programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA) atua desde a compra até a distribuição dos alimentos, que chegaram a 7,6 milhões de pessoas em todo o país, com investimentos de R$ 2 bilhões nos últimos seis anos;

; Dentro do programa de Construção de Cisternas, foram instaladas,
desde 2003, 288 mil poços de placa para armazenamento de água,
garantindo água limpa e saudável a 1,3 milhão de pessoas. Em 2009,
o investimento chegou a R$ 54,6 milhões;
; Nas ações de agricultura urbana (hortas comunitárias, viveiros etc.),
856 mil unidades foram financiadas por meio de convênios com governos estaduais e municipais, o que possibilitou o
atendimento de 241 mil famílias;

; Cerca de 1,3 milhão de famílias de pequenos agricultores tiveram
acesso ao crédito do programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Para a safra 2006/2007, o governo destinou R$ 10 bilhões. E R$ 13 bilhões para 2008/2009;

; Investimento de R$ 149,6 milhões na implementação de
143 restaurantes populares em 112 municípios de 25 estados. Atualmente, há 74 unidades em funcionamento;
; Distribuição de 92 milhões de cartilhas que ensinam como alimentar
corretamente, 1,4 milhão de cadernos do professor, 6 mil kits pedagógicos
de capacitação em alimentação e mais 3 milhões de exemplares de
revistas educativas doadas ao Fome Zero, para distribuição a entidades
que desenvolvem ações de segurança alimentar e nutricional;

; Há 5.812 centros de referência de assistência social (Cras) cadastrados em
4.327 municípios brasileiros. Destes, 4.866 têm participação de financiamento federal;

; São 63 bancos de alimentos em funcionamento em 19 estados, mais 396 cozinhas comunitárias em 22 estados, onde servem uma média de 84,2 mil refeições por dia;

; 1,3 milhão de cestas a populações específicas e grupos vulneráveis em 2009.

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