postado em 03/05/2010 07:49
Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a estrela maior do Partido dos Trabalhadores, a pupila e pré-candidata do PT às eleições presidenciais, Dilma Rousseff, ainda busca maior afinidade com a militância petista.Na última sexta-feira, a ex-ministra da Casa Civil fez mais um movimento para aproximar-se dos filiados da legenda. Dilma participou em São Paulo da abertura do encontro nacional de 15 secretarias e setoriais do PT, que abordam temas como a questão agrária, moradia, reforma urbana e a causa indígena.
A intenção do evento é apresentar sugestões dos diferentes setores para o programa de governo da petista e aproximá-la dos militantes.
;O presidente Lula tem uma familiaridade muito maior, pessoal inclusive, com os movimentos sociais. O nosso objetivo não é que a Dilma tenha essa mesma familiaridade em poucos meses, mas que ela tenha um conhecimento mais profundo (das demandas);, afirma Renato Simões, secretário nacional de movimentos populares do PT e organizador do encontro.
O assessor para assuntos internacionais da presidência, Marco Aurélio Garcia, coordenador do plano de governo da petista, também esteve no evento.
No ato que oficializou a pré-candidatura de Dilma ao Palácio do Planalto, em fevereiro, a ministra já ensaiou atenção especial à ala feminina do partido. Uma parte do centro de convenções foi reservada para as mulheres, que receberam bandeiras roxas em contraste à cor oficial do partido.
Na semana passada, Dilma foi a protagonista da abertura de seminário promovido pela secretaria de mulheres do PT na sede do partido, em Brasília. ;É importante que a imagem dela esteja colada à luta da mulher;, disse a deputada federal Maria do Rosário (RS), membro do diretório nacional.
Dilma trocou o PDT pelo PT há 10 anos, durante o governo do petista Olívio Dutra no Rio Grande do Sul. Na década de 80, a pré-candidata petista foi uma das fundadoras do partido de Leonel Brizola no RS.
De acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha, 47% do eleitorado sabem que o partido de Dilma é o PT. O percentual é superior à parcela que liga o PSDB à José Serra, principal oponente da ex-ministra nas urnas. Segundo a pesquisa, só 28% respondem que o ex-governador de São Paulo é do PSDB.
Pagode e feijoada
Renato Simões afirma que a agenda partidária será reforçada nas próximas semanas. Em maio, Dilma é esperada em encontro nacional de negros e negras do PT, em Brasília, quando serão apresentadas a ela as diretrizes partidárias para o tema do combate ao racismo.
;O objetivo é que, a exemplo do que o presidente Lula tem feito, a ministra Dilma incorpore as demandas da população negra;, afirma o deputado federal Edson Santos (PT-RJ), ex-ministro da Secretaria de Igualdade Racial.
O petista ainda pretende convidar a ex-ministra para a tradicional feijoada que a mãe realiza na capital carioca. O ;pagode da tia Elza;, como é conhecido o evento, é realizado todo ano na capital fluminense. ;Ainda não fiz o convite. Mas certamente, até como um batismo diante desse tema, ela vai comer uma feijoada aqui no Rio.; A avaliação dos petistas é de que a pré-candidata não tem a mesma afinidade que o presidente com os movimentos sociais ; daí o maior esforço para aproximá-la do tema. ;O Lula vem de um processo de discussão da questão indígena. Em 89, ele estava em Raposa (Serra do Sol, reserva indígena em Roraima). O que se pretende agora é que o movimento social se coloque de forma peremptória para a candidata;, disse Frederico Magalhães, coordenador nacional de setoriais do PT e de assuntos indígenas do Distrito Federal.
Apesar de a campanha ainda não ter começado oficialmente, membros do partido defendem uma agenda mais popular como forma de aproximá-la dos petistas. ;A militância do PT é muito coração. Ela tem que fazer uma agenda com os movimentos sociais. Não pode ser agenda de ministra, com reunião em auditório. Tem que ir na aldeia dos índios, dos quilombolas, visitar favela. Senão, não cria empatia;, defende um dirigente petista.
Repeteco em junho
Após o evento de 1; de maio, na capital paulista, as centrais sindicais planejam agora outro grande evento para discutir a plataforma dos trabalhadores para as eleições presidenciais. O objetivo é reunir em junho cerca de 30 mil pessoas no estádio do Pacaembu, em São Paulo, para definir as prioridades da categoria e reforçar o peso das centrais na disputa de outubro.
Dessa vez, afirmam dirigentes sindicais, nenhum candidato subirá no palanque. Ao contrário do que ocorreu no fim de semana, quando a ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff foi a única presidenciável a participar de evento organizado pelas centrais, a conferência dos trabalhadores não terá a presença dos candidatos ao Palácio do Planalto. Embora a maioria dos dirigentes sindicais apoie a candidatura da petista, a ausência do ex-governador tucano José Serra, presidenciável do PSDB, causaria mal-estar em algumas alas das centrais. A presença da ex-ministra na conferência de julho foi pleiteada pela Central Única dos Trabalhadores, maior central sindical do país, mas foi motivo de resistência por dirigentes sindicais.
A União Geral dos Trabalhadores (UGT), por exemplo, mantém laços com o PSDB e o PPS. Ela é a única central que ainda não confirmou presença no evento de 1; de junho. Segundo o secretário-geral da UGT, Canindé Pegado, a ausência da central se justifica ;para evitar a tendência (de apoio) para um ou outro candidato. Esse cuidado político a gente precisa ter;.
A divergência, entretanto, não abrange o teor do documento que será apresentado aos presidenciáveis. ;Existe uma unidade geral das seis centrais sindicais para sustentar (as propostas). E é evidente que, pelo fato de ser um ano eleitoral, o peso dos trabalhadores nas definições eleitorais aumenta;, afirma Carlos Alberto Pereira, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB). (FF)