Enviada Especial
postado em 04/05/2010 08:50
Uberaba (MG) ; Apontado pelo setor como um dos maiores eventos agropecuários do país, a abertura da ExpoZebu(1) 2010 se tornou palco para que os candidatos a presidente Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) tentassem atrair os votos do meio rural, visto hoje como a alavanca eleitoral e econômica. Na presença de Dilma, que conta com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), José Olavo Borges Mendes, cobrou a aplicação da lei penal para os invasores de terras, uma política indigenista equilibrada e ainda um ;código que não seja apenas florestal, mas ambiental;, abrangendo as cidades e ouras atividades econômicas.No evento, os organizadores e a presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), senadora Kátia Abreu (DEM-TO), fizeram circular um abaixo-assinado propondo um programa nacional contra a invasão de terras, como existe com o combate ao narcotráfico. Dilma foi abordada pelos integrantes do movimento já no almoço e não quis assinar a proposta dizendo que precisava estudá-la melhor. ;Já disse e repito que sou contra invasão, mas temos que resolver as coisas com diálogo;, disse ela, antes de saber da existência do abaixo-assinado. Serra assinou. ;É uma proposta genérica a ser detalhada mais tarde. Hoje, há um consenso de que a lei tem que ser aplicada. Não há por que não assinar;, disse Serra.
O vice-presidente da República, José Alencar, foi um dos primeiros a assinar. ;Eu assinei e assino mesmo. Lembrando Rui Barbosa: fora da lei não há salvação;, afirmou o vice-presidente, que aproveitou seu discurso para reforçar a ideia da continuidade do governo Lula. ;Se alguém perguntasse hoje ao povo o que ele deseja, a resposta seria a continuidade de um governo sério, democrático e desenvolvimentista;, afirmou o vice-presidente, que representou Lula na solenidade. Mais tarde, a ex-ministra, enquanto andava para o carro, admitiu ser a candidata da continuidade, com avanço.
;Visita de cortesia;
Dilma e Serra receberam das mãos da senadora Kátia Abreu(2) um documento de 33 páginas em que os agropecuaristas reclamam do câmbio ;muito valorizado em relação às principais moedas; e ;da maior taxa de juros do planeta;. Eles fazem críticas ainda às agências reguladoras ;excessivamente politizadas;, transformadas em uma espécie de braço do Poder Executivo.
Nem Dilma nem Serra discursaram no evento porque, segundo os organizadores, houve uma disputa sobre quem falaria primeiro. Até que a ex-ministra resolveu a questão informando que não falaria porque estava apenas fazendo uma ;visita de cortesia;. Eles se cumprimentaram durante a exposição, mas trocaram poucas palavras.
Dilma nem esperou para ver os passistas da Mocidade Independente de Padre Miguel animarem as autoridades com sucessos antigos e uma amostra do enredo que levarão à Sapucaí em 2011, sobre a agricultura brasileira. Ela e Marisa Letícia correram para um encontro de mulheres ali mesmo no Parque de Exposições Fernando Costa. Serra seguiu para o lado oposto, onde conversou com políticos locais e concedeu uma rápida entrevista. Defendeu um sistema de crédito agrícola para todo o Brasil e disse ainda que a dívida do campo precisa ser revista e falou ainda do ;câmbio hipervalorizado como um dos maiores impostos do setor;.
Os dois se encontraram mais tarde, na tradicional feijoada promovida pelo agropecuarista Jonas Barcelos, que sempre reúne ministros do Supremo Tribunal Federal, como Gilmar Mendes, senadores, deputados e produtores rurais. Lá, Serra e Dilma caminharam juntos até uma grande mesa de 20m e cada um se sentou numa ponta. ;Ih, eles agora estão disputando até feijoada;, brincou o ex-deputado Ronaldo Cesar Coelho (PSDB).
1 - Touros
A feira deste ano deverá ter a presença de 3 mil touros e vacas da raça Zebu, e termina apenas na próxima segunda-feira.
A expectativa da organização é receber 300 mil visitantes.
2 - Condecoração
A senadora Kátia Abreu foi uma das 27 homenageadas na exposição pecuarista com a entrega do mérito parlamentar por ter contribuído para a expansão do agronegócio. A lista é formada basicamente por parlamentares da oposição. O deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) é o único governista presente.
Encontro de mulheres
Empenhada em tentar diminuir a dianteira de José Serra (PSDB) no eleitorado feminino, a candidata do PT, Dilma Rousseff, esteve ontem num encontro com 100 integrantes da Associação Brasileira de Mulheres de Negócios. ;As mulheres estão prontas para governar o Brasil em todas as instâncias. Acho que não só as mulheres estão preparadas para governar o Brasil, como o Brasil está preparado para ser governado por mulheres;, afirmou Dilma, que foi direto ao ponto que tem incomodado o PT nas pesquisas qualitativas: ;Dizem que a mulher não sabe decidir, não tem aptidão para decidir. É um equívoco. As mulheres são sensatas, corajosas e práticas. Se não fossem, não administravam três jornadas de trabalho;, disse Dilma, referindo-se à casa, aos filhos e ao trabalho.
O encontro de mulheres foi o único evento em que Dilma e a primeira-dama, Marisa Letícia, ficaram sem a presença do tucano. Elas foram levadas por Ângela Mayrink, mulher do prefeito de Uberaba, Anderson Adauto (PMDB). Dona Marisa chegou a Uberaba em um avião Embraer 190, da FAB, direto de São Paulo. A assessoria informou que ela estava representando o presidente Lula, mas o vice-presidente, José Alencar, que saiu direto de Brasília, abriu seu discurso na solenidade da ExpoZebu dizendo que estava ali no papel de representante do presidente. Marisa Letícia não discursou.
As duas foram para a feijoada em carros separados. Dona Marisa chegou primeiro e ficou ao lado do dono da casa e do vice-presidente. Dilma chegou depois e errou o caminho do almoço. Foi salva pelo tucano Ronaldo Cesar Coelho, que a tirou do grupo que queria porque queria que ela assinasse o documento em prol do programa nacional contra a invasão de terras. Ela e Ronaldo saíram falando de flores em direção ao local onde estavam os convidados, esperando a hora de serem chamados para o almoço. (DR)
CPMF, um tema delicado
Quando o assunto é a antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), aquele imposto do cheque derrubado pelo Senado em 2007, os pré-candidatos a presidente da República tergiversam. ;Reconhecidamente, e não sou só eu que penso assim, há uma deficiência no financiamento da saúde no Brasil. Quando perdemos a CPMF, não houve como recompor os R$ 40 bilhões e não houve redução de impostos, ou seja, perdemos dos dois lados. Agora, tem que haver novos recursos para saúde. Como fazer, será um processo. Temos que fazer uma reforma tributária;, disse a ex-ministra Dilma Rousseff.
Mais tarde, José Serra, quando perguntado, quase não respondeu. Disse apenas que é preciso regulamentar a Emenda Constitucional n; 29, que trata do aumento de recursos para a saúde. Sobre a CPMF, afirmou apenas que isso deve ser discutido dentro do sistema tributário como um todo. Em outras palavras, defendeu a reforma tributária que Fernando Henrique Cardoso e Lula tentaram sem sucesso.
O imposto do cheque surgiu em 1993, ainda no governo Itamar Franco, com alíquota de 0,25%. Em 2000, subiu para 0,38%. E, em 2007, o governo Lula quis manter a contribuição, mas foi derrotado no Senado. Agora, se valer o que dizem os candidatos, essa cobrança, se voltar, será numa reforma tributária que ninguém conseguiu aprovar.(DR)
O número
0,38%
Percentual da antiga Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira, a CPMF, assunto ainda pouco explorado pelos pré-candidatos ao Planalto
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