postado em 08/05/2010 07:00
A campanha da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, esbarra em dificuldades para encontrar um ritmo harmonioso entre suas principais lideranças. O problema se localiza na coordenação de comunicação que, cobrada pelo movimento político errático da petista, está na berlinda, alvo até de fogo amigo.Para tentar contornar a inexperiência de algumas lideranças que não haviam se engajado em campanhas maiores, com repercussão nacional, até agora, a cúpula petista decidiu colocar na tesouraria um nome experiente, o ex-prefeito de Diadema (SP) José Filippi Júnior, que teve o mesmo cargo na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
A opção por um nome tarimbado ocorre num momento em que se debate publicamente tropeços da pré-candidata, considerados desnecessários por falta de preparo de alguns funcionários da campanha. Segundo petistas, Dilma e a campanha acabaram colocados na defensiva por conta desses equívocos, o que acabou criando tensões entre três lideranças: o coordenador-geral de Comunicação, deputado estadual Rui Falcão (SP); o secretário de Comunicação do PT, André Vargas; e o marqueteiro João Santana.
As discussões giram em torno de Marcelo Branco, contratado pelo PT em parceria com a agência Pepper Comunicação, responsável por operacionalizar a estratégia de Dilma na internet. Branco postou na web vídeos considerados amadores de entrevistas em que a petista comete gafes sobre a migração de nordestinos. Ela aparece visivelmente despreparada, quase como num ensaio. Isso foi considerado um erro primário de Branco porque o vídeo deveria ter sido editado e analisado antes de ser divulgado. ;Essas coisas geraram um desconforto na campanha;, disse um interlocutor de Dilma.
Fato é que dentro do PT há uma enorme insatisfação com Branco, que chegou ao QG de Dilma trazido pelo secretário de Comunicação do PT, André Vargas. ;As críticas que se faz ao Marcelo Branco são justas. Pelo menos isso serviu para tirar responsabilidades dele. Agora, ele só vai operacionalizar a internet e nada mais;, disse um petista. ;Ele sai dos holofotes e não terá mais nenhum poder;, emendou outro. Segundo Vargas, ele está contente com o trabalho de Branco voltado para a web e negou intenção de demiti-lo. ;As intrigas e a conspiração partem de fora, dentro do PT não há mesquinharia;, disse Vargas, negando problemas com Falcão ou Santana.
Autonomia
Mas depois dos episódio dos vídeos publicados na seção Fala Dilma, do blog da pré-candidata, Falcão centralizou a comunicação, deixando Vargas concentrado nas tarefas partidárias. Ou seja, menos autonomia na campanha. Nesse jogo de xadrez, sobrou indiretamente para João Santana, que na reeleição de Lula foi o responsável pela comunicação. Segundo petistas, o movimento mostrou-se necessário para fazer correções de trajeto, mas não significa que Falcão e o marqueteiro estão em rota de colisão. ;O João Santana vai continuar cuidando da parte publicitária, os dois estão sintonizados;, afirmou um petista.
No PT, como gostam de enfatizar as lideranças, não faltam pessoas dando palpite sobre tudo. ;É um partido democrático que ouve a opinião de todo mundo;, argumentam. ;São normais essas tensões, no PT sempre foi assim nas eleições;, disse um ex-dirigente, admitindo, no entanto, que nesta campanha alguns ruídos têm sido exacerbados, como desentendimentos privados entre Dilma e o deputado Antonio Palocci, considerado os olhos e os ouvidos de Lula no QG eleitoral.
A chegada de José Filippi Júnior serve para dar uma maior tranquilidade no dia a dia. Ainda não está claro se Filippi abandonará a pré-candidatura à Câmara dos Deputados para se dedicar integralmente à campanha ou se irá acumular as duas tarefas.
Nesse jogo de opiniões, todo mundo já deu pitaco. O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel disse, em recente entrevista, que Dilma precisa ser mais objetiva. Lula interviu na campanha pedindo que ela deixasse de lado os vestidinhos roxos e utilizasse apenas terninho. No Planalto, a avaliação é que apesar desses tropeços o período de pré-campanha é positivo para Dilma ao ter conseguido alcançar um objetivo: reforçar seus laços com Minas Gerais. No último evento com prefeitos em Belo Horizonte, na quinta-feira, até o pré-candidato do PSDB, José Serra, ajudou nessa estratégia ao dizer que a petista era torcedora do Atlético Mineiro.
; Análise da notícia
Um balão de ensaio
Por ser uma política ainda não testada nas urnas, Dilma Rousseff passa por uma fase de adaptação até encontrar o tom ideal de sua candidatura. Não há nada de anormal nessa transição. Tropeços no começo de uma maratona para uma pessoa pouco experimentada são esperados. Mas o PT não pode e não deve se estender em experimentos, transformar esse período de pré-campanha em laboratório para entrevistas, vestimentas, postura, caráter e personalidade.
O PT contratou um batalhão de assessores e se cercou de políticos experientes para evitar que Dilma fique sendo exposta, continuamente, a situações inesperadas ou saias justas desnecessárias, como o episódio dos vídeos publicados pela própria campanha.
O aumento dos ruídos, como um dirigente partidário disse, escancarou que a ausência de Lula como candidato deixa também a legenda órfã. O PT demonstra, nesse começo de corrida, que, sem Lula, também é inexperiente em campanhas presidenciais. O exemplo disso é que, em determinado momento, o QG de Dilma tornou-se um palanque de opiniões, todos dando palpite sobre o que achavam melhor ela fazer. Com Lula, não existia esse parlatório.
É claro que, se os tropeços desaparecerem e o desempenho de Dilma alcançar o nível desejado pelo PT quando a campanha pegar fogo, esse atual período vai ser lembrado apenas como um fato inócuo, sem importância. Como um balão de ensaio necessário.