postado em 09/05/2010 08:23
>>Ivan Iunes>>Josie Jeronimo
>>Jailson Paz
A menos de cinco meses da eleição, uma análise detalhada nas finanças dos principais partidos políticos mostra uma cena sombria. Mantidos com dinheiro público e doação de simpatizantes, as legendas têm máquinas endividadas, pesadas e sem sinais de planejamento estratégico. O Correio avaliou as prestações de contas de PT, PSDB, PMDB, DEM, PSB, PV, PDT, PTB e PP. Os gastos não seguem preceitos básicos para sobrevivência de grandes empresas. Muitos estão à beira da falência e num esforço para quitar dívidas contraídas nas eleições anteriores. Esses nove partidos tiveram como despesa em 2009 pouco mais de R$ 136,8 milhões, segundo as prestações de contas apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Partido mais rico do país, o PT somou uma dívida de pouco mais de R$ 24 milhões, que está sendo paga mês a mês. A legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta com uma vantagem em relação aos adversários: o dízimo que pagam filiados eleitos e com cargos comissionados no Executivo e no Legislativo. No ano passado, essa contribuição atingiu R$ 5,1 milhões, quase metade dos R$ 10,8 milhões arrecadados de empresas. Dessa conta sai uma lógica simples: quanto mais inchada a máquina federal com petistas em cargos comissionados, mais rica a legenda.
Os adversários dos petistas acusam que essa condição só foi alcançada por conta de o partido estar à frente do governo. Caso contrário, estaria minguando, com o pires na mão, pedindo contribuições. Não fossem as doações de empresas(1), o PT teria fechado 2009 com déficit de pouco mais de R$ 4 milhões.
O PSDB deve R$ 7 milhões na praça. Desde 2007, sobrevive quase que exclusivamente dos repasses dos cofres públicos por meio do Fundo Partidário. E, pelo menos desde 2002, quando perdeu o comando do país, luta para equilibrar as finanças. Parte das dívidas são da campanha em que José Serra (PSDB) perdeu a disputa para o presidente Lula.
Fonte seca
O DEM sobreviveu, em parte, graças a doações que recebeu no ano passado de empresas que prestavam serviço ao governo do Distrito Federal, então comandado por José Roberto Arruda, afastado da administração acusado de corrupção. Agora, como disse o próprio tesoureiro do DEM, Saulo Queiroz, a fonte secou. Com isso, os democratas fecharam o ano com R$ 3.525 positivos, sem contar as despesas pagas com o Fundo Partidário que a legenda não encaminhou ao TSE.
O PMDB sequer tem sede nacional. No Distrito Federal, os únicos bens da agremiação são algumas salas no centro de Brasília, que servem de depósito. A única receita oficial dos peemedebistas em 2009, além do Fundo Partidário, foram R$ 300 mil da empresa de contact center TNL Contax.
O dinheiro das legendas é usado costumeiramente para bancar viagens e transporte de dirigentes, financiar propaganda institucional, manter folhas de pagamento, bancar aluguéis das sedes nacionais, contratar serviços terceirizados e institutos de pesquisa. O PSDB, por exemplo, teve uma das maiores despesas com publicidade e viagens dos grãos-tucanos. Foram 1,7 milhão e R$ 2,3 milhões, respectivamente.
Diante desse cenário, os caixas das legendas esperam com avidez o momento das campanhas, quando aumentam as contribuições em até 100%. Os comitês financeiros dos candidatos a presidente e governador movimentam as maiores somas e abastecem o caixa da direção nacional para os anos em que as contribuições voltar a minguar.
1 - Doações amigas
De acordo com as prestações de contas entregues ao TSE, os maiores doadores dos partidos políticos em 2009 foram empreiteiras. Os principais financiadores do PT, por exemplo, foram empresas que mantinham contratos com o governo. A construtora Andrade Gutierrez doou aos cofres do Partido dos Trabalhadores R$ 2,5 milhões, mesmo valor da contribuição da Suzano Papel e Celulose. A Carioca Christiani Nielsen Engenharia transferiu ao caixa oficial da legenda R$ 1,2 milhão.
Construtoras
O DEM recebeu R$ 952 mil de cinco construtoras que atuam em Brasília e mantinham contratos com o governo do DF nos tempos em que o Buriti era comandado por José Roberto Arruda, que renunciou sob acusação de ser o chefe de um esquema de pagamento de propina. O PSDB recebeu a maior parte de seus recursos da Queiroz Galvão, que participou de obras nos governos de São Paulo e de Minas.