postado em 10/05/2010 08:29
Os números gigantescos anunciados a cada balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não mostram os atrasos em obras que somam mais de R$ 100 bilhões. Os valores de investimentos e os prazos para conclusão previstos no primeiro balanço, no início de 2007, foram sendo revistos ao longo dos anos. No balanço de três anos do programa, aparecem apenas os valores finais e os novos prazos. Levantamento feito pelo Correio mostra três tipos de atrasos em 100 grandes obras investigadas. Num primeiro grupo, estão as obras que seriam entregues até o fim deste ano, quando acaba o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Orçadas num total de R$ 67 bilhões, serão concluídas no próximo governo. São obras de saneamento, habitação, aeroportos, metrôs, rodovias, ferrovias.Num segundo grupo, estão obras que o governo ainda promete para o fim do ano, num valor total de R$ 7 bilhões, mas o atraso é enorme. A média de execução desses projetos em três anos não passou de 30%. Será difícil fazer os 70% restantes em nove meses. Nesse grupo, há transposição de rios, projetos de irrigação, rodovias e novamente obras de saneamento e habitação. Num último grupo estão obras que deveriam iniciar-se na gestão Lula, para terminarem no próximo governo. Avaliadas em cerca de R$ 40 bilhões, a maioria delas sequer teve início. Nesse grupo, estão hidrelétricas, linhas de transmissão e indústrias petroquímicas.
A Ferrovia Transnordestina, que vai interligar os portos de Pecém (CE) e Suape (PE), com 1.728km de extensão, consumiria R$ 4,5 bilhões e seria entregue no final deste ano. Passados três anos, o orçamento subiu para R$ 5,4 bilhões, mas apenas 20% das obras foram executadas. A entrega está agora prometida para 2012. O Ministério dos Transportes afirma que a alteração de datas decorre do desenvolvimento de projeto, do licenciamento ambiental e da liberação de financiamentos. A adequação do projeto e a correção inflacionária teriam provocado o aumento de 22% no orçamento.
Saneamento
O PAC previa inicialmente cerca de R$ 46 bilhões para obras de saneamento e habitação em cidades com mais de 150 mil habitantes. No último balanço, os investimentos caíram para R$ 33 bilhões. Ainda assim, o governo federal teve que reconhecer que apenas 40% desses valores serão aplicados até o final deste ano. O percentual médio de execução até o final do ano passado ficou em 20%. A maior desses obras, a urbanização de favelas nas represas Billings e Guarapiranga ; ambas em São Paulo ; no valor de R$ 743 milhões, teve execução de 31%. A entrega foi adiada para 2012. O mesmo aconteceu na urbanização da Vila São José, em Belo Horizonte, onde foram realizados 33% do orçamento de R$ 155 milhões. Pior situação do sistema de Corumbá Sul, para abastecimento de água no Distrito Federal e Entorno. A obra teve execução de míseros 2%.
Em dezenas de casos, o prazo final foi mantido (dezembro de 2010), mas o governo terá dificuldade para cumpri-lo. É o caso da Transposição do São Francisco, Eixo Leste. A proposta é investir R$ 1,9 bilhão até o fim do ano, mas foram executados apenas 41% da obra em três anos. O Ministério da Integração Nacional afirma que o atraso deve-se à demora na conclusão do processo licitatório em função de ações judiciais. As contratações foram concluídas somente em agosto de 2008. Mas o ministério afirma que os atrasos estão sendo recuperados com a implementação do segundo turno de trabalho.
As obras de esgotamento sanitário em Guarulhos (SP), no valor de R$ 226 milhões, também estão prometidas para o fim do ano, embora apenas 11% do previsto tenha sido realizado até o final do ano passado. A Linha de Transmissão de Vilhena-Samuel (RO), com 595 km de extensão, tem investimentos de R$ 201 milhões previstos até dezembro deste ano, mas apenas 1% foi executado até dezembro de 2009.
Na área de geração e transmissão de energia, muitas das grandes obras anunciadas ainda não iniciaram. É o caso das hidrelétricas de Belo Monte (PA), Pedra Branca (PE/BA) e Telêmaco Borba (PR), que têm investimentos de R$ 3,3 bilhões previstos até o final do ano. A conclusão de Pedra Branca foi adiada de 2011 para 2016. A entrega de Telêmaco Borba foi adiada de 2010 para 2015. A hidrelétrica de Santo Antônio (RO) tem investimentos de R$ 6 bilhões previstos para este ano, mas até agora a execução não passa dos 15%. A usina de Angra 3 tem execução de apenas 0,5%.
As explicações do governo
A Eletrobras afirmou que obras da complexidade de usinas e linhas de transmissão estão sempre sujeitas a mudanças de cronogramas: ;Quando o prazo é postergado, isso pode acontecer por diversos motivos, a maior parte deles fora do alcance do gerenciamento dos empreendedores, como licenciamento ambiental, demandas jurídicas, catástrofes naturais, atraso na entrega de insumos;. A estatal disse que os atrasos nas obras citadas, ;quando existem, são pequenos e não afetarão a sua conclusão a tempo de cumprirem seu papel no fornecimento de energia elétrica;. No caso das usinas de Jirau e Santo Antônio, assegurou que o cronograma está sendo adiantado. ;Elas devem começar a gerar energia um ano antes do previsto.;
O Ministério da Integração Nacional disse que, no caso da Transposição do São Francisco, Eixo Norte, ;a meta PAC é a construção dos trechos 1 e 2, cujos cronogramas permanecem com conclusão prevista para 2012. Os demais trechos serão objeto do PAC 2;.
Segundo o Ministério dos Transportes, as obras da Ferrovia Norte-Sul, no trecho Anápolis-Uruaçu, serão concluídas antes do previsto, ;devido a esforços construtivos;. Sobre a BR-163, afirmou que os atrasos na execução das obras estão relacionados aos problemas de revisão de projeto e devido às exigências ambientais.
O Ministério das Cidades afirmou que as obras de saneamento e habitação que apoia são executadas por governos estaduais e prefeituras, responsáveis por elaboração dos projetos de engenharia, licenciamento ambiental, regularização das áreas, licitação e execução dos empreendimentos. Cabe ao ministério viabilizar recursos, aprovar projetos e supervisionar sua execução. Disse que ;o ritmo de execução de algumas obras justifica-se pela necessidade de adequações nos projetos de engenharia, tempo para concessão de licença ambiental, problemas de regularização fundiária e necessidade de remoção de famílias;. Mas salientou que muitas obras já tiveram etapas entregues.
A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) informou que as obras nos aeroportos de Guarulhos e Vitória tiveram sobrepreço apontado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A continuidade dessas empreendimentos dependem de decisão judicial. No aeroporto de Brasília, o atraso ocorreu devido à rescisão do contrato, por conta de indícios de irregularidades apontadas pelo TCU. (LV)