Politica

Programa eleitoral do PT é utilizado para reforçar a candidatura de Dilma

O presidente é protagonista ao lado da pupila. Petistas comparam a gestão com a dupla FHC/Serra

postado em 14/05/2010 08:30
O programa de rádio e televisão do PT, desenhado para acelerar o crescimento eleitoral da pré-candidata ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, foi ao ar ontem com a autorização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista dividiu o papel de protagonista com sua pupila e funcionou como o marqueteiro-mor da campanha ao encarregar-se de analisar e avaliar o resultado final da peça publicitária de 10 minutos.

Lula ocupou metade do programa petista para contar a trajetória de sua candidata e atribuir ;grande parte do sucesso do governo; à ;capacidade de coordenação de Dilma; à frente da Casa Civil. No esforço para exaltar a biografia da petista, valeu comparação com o líder sul-africano Nelson Mandela; reforço dos laços de pupila de Lula; e a confrontação com a época de Fernando Henrique Cardoso. No fim, lançou-se até o slogan da campanha: ;É hora de acelerar e ir em frente;.

O programa de rádio e TV de 10 minutos, que passou pelo crivo de Lula, é uma aposta para ser um divisor de águas. Na cúpula da campanha, espera-se que a exposição se reverta em alta significativa nas pesquisas de intenção de votos. João Santana, o marqueteiro responsável, desenhou a estrutura da peça publicitária. Ele reforçou a estratégia voltada para o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, dois estados considerados emblemáticos na eleição de outubro. O primeiro pela larga vantagem que o pré-candidato do PSDB, José Serra, tem. E o segundo pelo potencial de contraponto ao peso eleitoral de São Paulo. ;Quase esqueço de dizer uma coisa que eu acho sensacional. Ela nasceu em Minas Gerais e amadureceu politicamente no Rio Grande do Sul. Ela tem a ternura e a sensibilidade de fazer política dos mineiros e a intrepidez dos gaúchos. É uma bela mistura que será muito importante para o Brasil;, afirmou Lula.

Apresentando o Programa Luz Para Todos, gestado na época em que Dilma ocupava o Ministério de Minas e Energia, como modelo de gestão e eficiência, foram escolhidos a dedo os dois personagens beneficiados. Dilma entrevistou um gaúcho e uma mineira e mostrou os dois, como exemplos do sucesso do programa, que conseguiram mudar de vida graças à eletricidade.

Com todo holofote em Dilma, o PT ficou escondido, apesar de o horário ser reservado para a propaganda institucional da legenda, relegado a uma única citação durante os 10 minutos de duração do programa, bem menos do que as 21 vezes que o nome da pré-candidata foi citado. A peça escalou até os ministros da Educação, Fernando Haddad; da Fazenda, Guido Mantega; e do Planejamento, Paulo Bernardo, para destacar que parte das políticas de suas pastas tem o dedo de Dilma. Coube ao presidente do partido, José Eduardo Dutra, lembrar o PT no programa.

Mandela
A exaltação da biografia da ex-ministra de luta contra a ditadura militar (1964-2005) serviu para Lula comparar sua pupila com o ex-presidente da África do Sul, símbolo da luta contra o regime do apartheid. ;Uma parte da história da Dilma me lembra a história do Mandela. Uma vez o Mandela me contou que só foi para o confronto porque não deram outra saída para ele. O tempo passou e o que aconteceu? Ele virou um dos maiores símbolos da paz e da união do mundo;, disse o presidente Lula.

A campanha de Dilma espera que o programa de ontem coloque o adversário tucano na defensiva. O programa exaltou comparações entre Lula/Dilma e Fernando Henrique Cardoso/José Serra em três áreas: emprego, ascensão social e energia.

O programa do PT também é a senha para a campanha de Dilma partir para o ataque contra Serra. Os responsáveis pela militância na internet vão usar o espaço das redes sociais para explorar as contradições entre o que ele diz e o partido dele faz. O PT também deverá lançar até o fim do mês o site de mobilização do partido em que o militante poderá imprimir materiais gráficos da campanha de Dilma para divulgar nas ruas.

O número
Rede Nacional
10 minutos
Tempo que durou o programa do PT em cadeia nacional de rádio e televisão


O número
21
Quantidade de vezes que o nome de Dilma foi dito durante o programa do PT


O número
3
Total de comparações feitas entre as duplas FHC/Serra e Lula/Dilma


Imagem independente

Luiza Seixas

Os brasilienses que acompanharam ontem o programa eleitoral em um shopping da cidade ficaram com uma impressão: Dilma Rousseff precisa se soltar e ter uma imagem mais independente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É a opinião da esteticista Rosimar Medeiros Santos. Ela afirma que sempre que vê Dilma na televisão tem a impressão de que a candidata usa um ponto na orelha para que Lula passe as informações a ela. ;Assim, ela não transmite segurança para os eleitores. A gente sabe que ela é diferente do Lula, pois quando ele está no meio do povão parece que ele realmente faz parte desse grupo, mas ela, não. Por isso, precisa ser ela mesmo para não ficar forçado;, disse.

Já a cabeleireira Maria de Fátima Alves Barbosa garante que o sonho de todas as brasileiras é ver uma mulher no comando do país. Porém, ela acredita que ainda não está na vez de Dilma. ;Acho que ela vai precisar sempre de outras pessoas ao lado para defendê-la. Nesse programa de hoje nós vimos que, além do Lula pedindo voto, os ministros mais importantes do governo apareceram para falar dela. E ela acabou falando pouco;, afirmou. ;A Dilma sempre apareceu só na linha de trás do governo. Apenas quando Lula a lançou candidata que ela começou a se destacar mais. Mas, se ela for dar continuidade ao trabalho do governo atual, o país vai continuar avançando;, completou o técnico em telecomunicações Aldair Pereira Santos.


Análise da notícia
Contra-ataque dos tucanos

Denise Rothenburg

Antes mesmo de o programa do PT ser exibido ontem em cadeia nacional de TV, o PSDB tinha pronto o contra-ataque: os 10 minutos que os tucanos terão em junho, quatro dias depois da convenção em que José Serra será aclamado candidato a presidente da República. Por isso os tucanos escolheram o dia 12 para sua convenção. Assim, terão pelo menos 36 horas para fechar a edição do programa partidário com as imagens do lançamento oficial da candidatura.

A ordem de Serra é evitar polêmica com o presidente Lula, que não é candidato, e aproveitar esse período de pré-campanha para se apresentar em entrevistas de rádio, TV e jornais do interior do país. Foi assim, por exemplo, em Uberaba, onde concedeu entrevistas para rádios e para a regional da TV Bandeirantes. Ontem, em Pernambuco, repetiu a dose. Fará o mesmo no Ceará no início da semana. Os tucanos querem mesmo é dialogar diretamente com a população. E farão o possível para não largar esse caminho.

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