André Duarte
postado em 14/05/2010 08:37
Recife ; Durante as pouco mais de 10 horas em que esteve em Pernambuco, o presidenciável José Serra (PSDB) tentou expurgar dois dos seus principais fantasmas de campanha: a imagem de inimigo do Nordeste e a de adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em visita ao Recife ontem, o tucano focou todos os seus discursos no caminho do pós-lulismo e, no depoimento mais contundente, tratou o petista como uma instituição: ;O Lula está acima do bem e de mal;, disse, segundo ele, sem ironia.O pré-candidato ao Palácio do Planalto participou de dois programas locais ; um na Rádio Jornal e outro na TV Universitária ; e finalizou a agenda com um almoço com os principais nomes da oposição no estado. Em todas as ocasiões, tangenciou entre a defesa do desenvolvimento do Nordeste e o abrandamento do discurso contra o presidente da República. Em outro trecho emblemático, o tucano disse que, ;do ponto de vista da análise convencional;, ele se considera um político de esquerda.
Em tese, a visita de Serra integra o que ele chama de ;campanha artesanal;, ou seja, as participações em programas populares voltados ao público que não costuma acessar a internet. Por esse motivo, o roteiro do presidenciável ficou longe das ruas e de locais públicos do Recife. Numa região onde o presidente Lula desfruta de altos índices de popularidade, o ex-governador de São Paulo não titubeou em rasgar elogios ao líder do PT. ;Não comparo nada com o Lula. Lula é muito querido e ele merece. Para mim, política não é par ou ímpar. Não tenho nenhuma dificuldade de dar crédito a quem fez coisas boas;, afirmou Serra.
Questionado por jornalistas sobre a suposta dificuldade de identificação perante o eleitor nordestino, Serra creditou essa imagem a uma tentativa de adversários de manchar o seu nome na região. ;Você sabe de onde vem isso (a imagem de político antinordestino)? De político. Para cassar voto. Do meu ponto de vista, eu vou dizer sem qualquer papo: individualmente, de fora do Nordeste, eu talvez tenha sido quem, na vida pública, mais fez por aqui.;
Obras
Em vez de criticar Lula, Serra preferiu questionar os atrasos das obras encabeçadas pelo governo federal em Pernambuco, como a Refinaria Abreu e Lima, a Ferrovia Transnordestina e a fábrica da Hemobrás. Além de citar as grandes obras regionais que estão atrasadas, Serra garantiu que, se eleito, vai concluí-las no menor tempo possível. Sobre a acomodação dos aliados no seu possível governo, ele acusou a atual gestão de fazer ;troca-troca; de cargos em nome da governabilidade, mas isentou Lula dessa responsabilidade. ;Lula às vezes tem a posição correta e não consegue acionar. Não é culpa dele. É o sistema. É esse sistema que eu mudarei, se tiver oportunidade.;
As preocupações de Serra com a imagem de candidato se mostraram constantes ao longo da visita. Durante uma entrevista coletiva, ele tossiu com frequência e reclamou da garganta. Pediu para não ser filmado nessa condição: ;Eu acho que os olhos ficam esbugalhados;, justificou.
Na chegada a um restaurante no bairro de Boa Viagem, cumprimentou as pessoas de mesa em mesa e, ao seu estilo, tentou engatar conversas curtas antes de sentar-se entre os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB), Marco Maciel (DEM) e o tucano Sérgio Guerra, presidente do PSDB. No fim do almoço, foi encaminhado pela sua assessoria para posar para fotos ao lado dos garçons. Por volta de 15h30, ele embarcou com destino ao Rio de Janeiro.