Politica

Exércitos anônimos atuam nos bastidores para viabilizar a chegada ao Palácio do Planalto

Na guerra para conquistar a Presidência da República, os principais alvos são os próprios candidatos, mas hágente por trás deles

Ivan Iunes
postado em 16/05/2010 10:21
A trajetória de um candidato à Presidência rumo às urnas carrega o trabalho de um exército de anônimos. Enquanto o artista principal brilha ou decai no palco político, é na coxia que uma campanha costuma encontrar o passo ; ou perder o ritmo. O relacionamento, e os prováveis ruídos, de um batalhão composto por marqueteiros, assessores pessoais, coordenadores políticos e regionais, pode até não sobrepor a importância das propostas de governo. Mas influenciam ; e muito ; a imagem final do eleitor sobre o candidato e o que ele propõe, mesmo a segundos antes do voto. Carimbam o visto de entrada do político no Palácio da Alvorada ou o conduzem ao naufrágio nas urnas.

Na guerra para conquistar a Presidência da República, os principais alvos são os próprios candidatos, mas hágente por trás delesDos três principais candidatos à Presidência em outubro, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) já têm grande parte da estrutura de campanha assentada. Com menores recursos, e sem experiência em pleitos nacionais, Marina Silva (PV) ainda patina na composição da equipe. Petistas e tucanos definiram os nomes para o tripé principal de campanha, que envolve arrecadação, agenda e marketing. A candidata verde batizou apenas o coordenador de viagens e eventos públicos e políticos.

Todo candidato que reza a cartilha tradicional da política tem ao seu lado um assessor pessoal de total confiança, daqueles em que se dá até cheque em branco. Esse personagem, o mais anônimo dentro de uma estrutura de campanha, fica responsável por controlar a agenda do presidenciável e, em alguns casos, estende sua atuação aos conselhos políticos. No bunker de Dilma, o ;mestre de obras; é Gilles Carriconde Azevedo, antigo colaborador da pré-candidata. O tucano José Serra carrega ao lado direito a jornalista Paula Santamaria, também assessora de longa data. Já Marina Silva delega a função ao escudeiro João Paulo Capobianco. Embora existam outros assessores com poder de palpite sobre a definição da agenda de campanha, são os três os donos da ;caneta;.

Chave do cofre
Enquanto a escolha do responsável pela agenda leva em conta a proximidade e a confiança adquirida ao longo dos anos, a definição do tesoureiro precede exigências rigorosas, e a seleção começou a ser ultracriteriosa. Responsável pela arrecadação de recursos e controle do caixa, o profissional responsável pelo cofre do candidato tem sido fonte de problemas nos últimos anos. Escândalos como o do ex-tesoureiro de Fernando Collor Paulo César Farias e do ;tesoureiro do mensalão;, Delúbio Soares, fizeram com que os pré-candidatos atuais olhassem com lupa o currículo dos atuais escolhidos, em busca de confiabilidade, discrição e, principalmente, rigor.

A balança de Serra pendeu para um banqueiro com total aversão aos holofotes. Ex-diretor do Itaú, Sérgio Freitas foge dos flashes. Fez carreira no setor financeiro e foi indicado pelo tucano para a presidência do Conselho do Museu de Ciências de São Paulo. Desde o início do ano, Freitas teria mantido encontro com empresários simpáticos a Serra. Na campanha petista, o papel é dividido entre o deputado federal Antônio Palocci (PT-SP) e o ex-prefeito de Diadema (SP) José de Fillipi. Enquanto Palocci cuida do contato com possíveis doadores, Fillipi responderá pelas contas de campanha. Marina ainda não tem tesoureiro.

Brigas por influência
Dentro de uma estrutura de campanha tradicional, os principais ruídos recaem sobre o contato entre coordenadores, marqueteiros e advogados. Responsáveis por questões sensíveis e de alta tensão, os comandantes das três áreas travam intermináveis embates nos bastidores. As rusgas costumam convergir para um mesmo objetivo: conquistar maior poder de influência sobre as decisões do candidato. Quando um marqueteiro é forte, cuida da estratégia de imagem, vestuário, textos, gravações para a tevê, discursos e pode até cobrar questões pessoais, como um regime e mais horas de sono do candidato. Quando ele é fraco, costuma sofrer a interferência constante dos advogados de campanha.

Na campanha de Dilma, o marqueteiro escolhido é João Santana, o mesmo da reeleição de Lula, em 2006. O publicitário ainda não encontra a mesma facilidade de interlocução com Dilma que tinha com o presidente. Como resultado, pipocam notícias de problemas com os coordenadores políticos, Fernando Pimentel e Antônio Palocci, e o coordenador de Comunicação, Rui Falcão. Segundo a opinião de analistas, a entrada em jogo de Lula na campanha, provavelmente depois da Copa do Mundo, deve centralizar as decisões no presidente e em João Santana.

O marqueteiro escolhido por Serra é Luiz Gonzáles, que estreitou laços com o presidenciável desde que fez a campanha vitoriosa de Gilberto Kassab (DEM) à Prefeitura paulistana, há dois anos. Escolha pessoal do tucano, o publicitário teria firmado um acordo com Serra. O pré-candidato não assistirá aos vídeos antes de eles irem ao ar e reservará ao menos dois dias por semana para as gravações do horário eleitoral.

Sem recursos, Marina anunciou que não contratará um marqueteiro. A falta de doações tem feito a pré-candidata verde patinar em questões cruciais Enquanto Serra viaja em um jato do colega de partido Ronaldo Cézar Coelho, Dilma tem à disposição um avião alugado pelo PT. Marina poderia se deslocar com um jato do provável vice, o empresário Guilherme Leal. Mas a senadora teria dispensado o auxílio, já que ainda não está em campanha oficial. A coordenação política da ex-ministra do Meio Ambiente se divide entre Alfredo Sirkis e o presidente do PV, o vereador José Pena (PV-SP). (II)

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