postado em 18/05/2010 07:00
Juazeiro do Norte ; Ao pé da estátua de Padre Cícero, ponto de romaria dos católicos, ladeado por antigos aliados de Ciro Gomes (PSB), o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, desfiou um rosário de promessas: acabar com a demora nas consultas médicas, criar centros públicos de tratamento de drogados, fazer a ferrovia transnordestina, ;que não saiu do papel;. Reivindicou, ainda, a autoria de parte do Bolsa Família. ;Eu, aliás, fiz um componente do programa, o Bolsa Alimentação, quando era ministro da Saúde. Vou manter. O que as pessoas do programa desejam é futuro para os jovens, emprego, e isso virá com projetos que irradiem desenvolvimento, que eu farei. Já fiz em São Paulo;, disse, em entrevista nas escadarias que levam à estátua.A menção ao Bolsa Família tinha sentido. Pouco antes de o candidato chegar, o vereador Deuzinho (PMN) contou que, numa conversa com pescadores sobre a corrida presidencial, ouviu o seguinte comentário: ;Rapaz, eu não posso faltar com o Lula. Ele me dá esse dinheiro, que é uma ajuda. Não posso deixar de atender a ele;. Deuzinho conta que apenas repetiu ao interlocutor. ;É, mas pode ter certeza que o Serra não vai tirar o seu dinheiro. Eu garanto. Além disso, o candidato do PT agora não é o Lula.;
A história de Deuzinho está entre os pontos de preocupação dos coordenadores de Serra no estado. Para tentar instrumentar os líderes locais a rebatê-la, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e os coordenadores da campanha ; o prefeito de Crato, Samuel Araripe, e o ex-deputado Romeu Feijó, do PTB ; convidaram cerca de duas mil pessoas, entre prefeitos, vereadores e líderes comunitários de 42 municípios da região do Cariri e do Centro Sul do estado. O receio deles, no início da tarde, era o de que o encontro terminasse frustrado por conta do atraso do candidato. ;Quando atrasa assim, pelo menos 20% do pessoal vai embora;, comentou Araripe.
Serra chegou ao Ceará com duas horas de atraso, mas, em princípio, não tirou a animação dos líderes políticos. Ele foi recebido com uma banda de música típica do frevo nordestino e foi levado até o Horto de Juazeiro, onde fica a estátua, tendo os mototáxis da cidade, devidamente remunerados pelo PSDB, como batedores, numa carreata típica de campanha. De lá, seguiu para o hospital Vicente de Paula, em Barbalha, onde outra banda o esperava na porta. O hospital foi escolhido por ser um dos projetos em que Serra investiu quando era ministro. ;Dilma não pode visitar o PAC porque ele não existe, mas Serra pode visitar os projetos que fez;, atacou Tasso. À noite, discursou e cantou no Crato Tênis Clube para um público estimado em três mil pessoas.
Contas
Apesar da animação dos tucanos, eles acreditam que a campanha no Nordeste não será fácil. Os cearenses já fizeram as contas e acreditam que, se o candidato José Serra conseguir 40% dos votos do Nordeste, ainda que Dilma Rousseff (PT) fique com 60%, ele será eleito presidente. Para isso, a estratégia está montada no sentido de levar os votos de Ciro Gomes para o colo do PSDB. Nesse trabalho, Serra classificou como ;crucial; a participação de Tasso, que, em 2002, quando Serra foi candidato pela primeira vez, apoiou Ciro. ;Aqui, é natural que os votos do PSB sigam para o PSDB. Temos uma identidade. A raiz dos votos é a mesma;, comentou Tasso.
Tasso acredita que, embora Lula tenha um peso importante na região, há o ;fator Dilma;, que, na opinião do tucano, joga contra a campanha petista. ;Apesar do Lula, ela não é o Lula. O ar autoritário e prepotente dela não causa simpatia. Serra, depois da capa de Veja, virou Serra, o meigo;, diz Tasso. E, ali, no santuário da fé, Serra não demonstrou irritação ou impaciência. ;Em 2002 não estive na estátua;, comentou, assim que chegou. ;Vai ver que foi por isso que perdeu;, brincou um aliado. Agora, a fitinha de Padre Cícero já está no braço.
PREFEITO SOB PRESSÃO
; No dia em que Serra desembarcou no Cariri, o PT recebeu a pior notícia para combinar com a visita tucana: o juiz Miguel Feitosa, da 5; Vara de Justiça de Juazeiro, determinou a reabertura da comissão processante contra o prefeito Manoel Santana (PT), acusado de desviar R$ 18 milhões de recursos do Fundo de Educação Básica (Fundeb) destinados à reforma de escolas. Na avaliação do presidente da Câmara de Vereadores, José de Amélia Júnior, o processo pode terminar em impeachment.