Politica

Candidato também pode dizer não à iguarias

postado em 23/05/2010 12:28
Mesmo que nenhum eleitor tenha a oportunidade de ver Marina Silva saboreando um acarajé ou se deliciando com o torresmo mineiro, isso, nem de longe, significa que o eleitorado das regiões onde essas iguarias são pratos típicos não terá identificação com a candidata. De acordo com o cientista político Rubens Figueiredo, a recusa em provar a comida ofertada não é um pecado mortal para o presidenciável, desde que ela venha amparada por uma boa justificativa. Para driblar os problemas com a alergia, Marina usa uma estratégia considerada muito eficaz. Antes de participar de qualquer evento já comunica as restrições de sua dieta e encaminha um cardápio com as opções de alimentos para consumo da ex-ministra. ;Nos antecipamos para evitar a saia-justa;, explica Alfredo Sirkis, coordenador pré-campanha da ex-ministra do Meio Ambiente.

O analista político Gaudêncio Torquato concorda que recusar experimentar a gastronomia regional não é problema desde que seja explicado a razão. ;Não pode é ficar de cara feia;, garante Torquato. Segundo ele, o importante para aqueles que estão de olho no Palácio do Planalto é buscar se integrar à cultura e tradições regionais. Dentro desse contexto, a comida é uma forma de identificação, mas não a única. Vale usar quimono no Bairro da Liberdade, em São Paulo, onde vive uma colônia oriental, ou mesmo repetir o gesto de FHC de subir no jumento com chapéu de vaqueiro, em visita ao Nordeste. Para Torquato, a buchada de bode pode ser substituída por uma visita à terra de Padre Cícero, beato adorado no Ceará, na busca pelo voto do eleitor. ;A comida não tem um peso eleitoral forte. Tem mais um peso simbólico;, conclui.

Colesterol
Nessa mesma linha, Rubens Figueiredo afirma que o único cuidado à mesa farta, indispensável ao político em campanha, é não demonstrar junto com a recusa uma rejeição ao costume da comunidade. ;Ele tem que demonstrar ser simpático e respeito aos costumes regionais, assim como familiaridade com os traços locais;, explica. Entretanto, ele admite que a maratona de visitas de campanha a diferentes estados tem influência direta na qualidade do aparelho digestivo dos presidenciáveis, em razão da grande diversidade de pratos exóticos . ;Com certeza, se fosse proibido aos políticos dizer não a determinada iguarias, teríamos o candidato colesterol;, diz.

O presidente do PPS, Roberto Freire, confirmou, na prática, essa teoria dos estudiosos, ao se lançar no desafio de se candidatar à Presidência em 1989. Pernambucano, Freire disse que sofreu muito porque não consegue comer um dos pratos mais típicos de sua terra natal: a carne de bode. ;Porque nasci em Pernambuco, onde eu chegava me ofereciam o prato e eu tinha que explicar que não gostava. Mas não ficava com fome, porque nestas ocasiões tem sempre macarrão e galinha;, diz. Apesar disso, Freire garante que não deixa de ficar no ar um certo constrangimento das duas partes.

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