Marcone Gonçalves
postado em 26/05/2010 08:28
O encontro entre os três principais pré-candidatos à Presidência da República e os representantes das indústrias realizado ontem em Brasília ficou marcado pela falta de divergências, de ideias e de ideologias em relação às questões econômicas. Com isto, restou ao empresariado discutir, ao final do evento, quem havia se saído melhor na defesa de um programa mínimo apresentado pela própria Confederação Nacional da Indústria (CNI) baseado na redução de tributos, na diminuição dos encargos sobre a folha de pagamentos e na desoneração das exportações.Os aplausos entusiasmados para José Serra (PSDB), o candidato mais identificado com os industriais, foram relativizados pelos empresários. Presidentes de federações estaduais e de associações empresariais argumentavam que a deficiência de conhecimento técnico que a candidata Dilma Rousseff (PT) demonstrou frente ao seu principal adversário acabou compensado pelo discurso político em nome da continuidade das atuais políticas do governo. ;O que fica evidente é que a classe empresarial pode ter maior preferência pelo Serra, mas no governo Lula tem mais participação;, resumiu o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safardy Simão.
O tucano acabou sendo favorecido pelo formato do encontro, no qual cada um era sabatinado por vez. Serra foi o segundo e, ao substituir Dilma, aproveitou para questionar o discurso da petista. Ele se mostrou à vontade e bem-humorado e fez um discurso no qual não faltaram críticas ao governo federal e autoelogios. Serra arriscou até uma piada de gosto discutível. Ao defender a reformulação da Lei de Licitações (n;8666/93), lembrou que, quando ministro da Saúde, quase tivera que comprar camisinhas chinesas com aroma de pena de galinha queimada. ;Vai ver que na hora ;do vamos ver; os chineses gostam desse cheiro;, disse, causando constrangimento. Ao terminar sua parte, o ex-governador paulista acabou pedindo desculpas pelo ;excesso de informalidade;.
Dilma Rousseff, por sua vez, investiu na defesa da gestão macroeconômica do governo Lula. Ela elencou uma série de indicadores de juros, investimento e de execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para sustentar que o Brasil mudou por causa do governo Lula. Dilma destacou a inclusão de 31 milhões de pessoas na nova classe média. ;Temos uma nova era de prosperidade diante de nós;, afirmou. Um pouco menos à vontade frente aos ;tubarões; da indústria nacional, a candidata do PV voltou a defender a instalação de uma Constituinte exclusiva para fazer as reformas tributária, política e trabalhista.
Para o presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Horácio Lafer Piva, a falta de ideias por parte dos candidatos pode ser explicada pela falta de tempo e pelo fato de que ninguém até agora tratou de elaborar programas de governo. Para Piva, na exposição de posições semelhantes, Dilma levou vantagem no discurso político, Serra foi melhor no quesito técnico e Marina mobilizou a plateia do ponto de vista ético.
Protecionismo
Dilma, Serra e Marina endossaram as sugestões do empresariado para assegurar o ;crescimento sustentado; da economia, um dos termos mais repetidos nos discursos dos pré-candidatos. Eles não disfarçaram posições claramente protecionistas, especialmente quando entrava em questão a concorrência das exportações brasileiras com a de produtos chineses.
;Precisamos de mecanismos para proteger a indústria. O Brasil não tem defesa comercial nem aqui, nem na China;, assinalou Serra. ;O que pode ser produzido no Brasil, tem que ser produzido no Brasil;, afirmou Dilma. ;Não tem sentido o Brasil, um dos maiores produtores de minério de ferro do mundo ter que comprar trilhos da China;, emendou Marina.