Isabella Souto
postado em 30/05/2010 09:48
Era uma vez um país onde todos conviviam sem violência, já que os criminosos haviam sido exilados para ilhas desertas; além disso, ninguém passava fome ou frio, pois todas as riquezas do país eram distribuídas de forma igualitária. E mais: para resolver os problemas de saúde, bastava apresentar um cartão, e tudo estaria pago como num passe de mágica. Problemas de trânsito? Nem pensar. Trens aéreos se encarregavam de levar as pessoas a todos os destinos rapidamente. Nesse país, tudo parece um conto de fadas. Mas é o Brasil sonhado nos programas de governo de oito pré-candidatos à Presidência da República. Longe dos holofotes, os políticos considerados nanicos se esforçam para mostrar ao eleitor por que são a melhor opção nas urnas em outubro.O presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária, Plínio de Arruda Sampaio (Psol), diz que, se eleito, vai desapropriar todas as terras com mais de 500 hectares, sejam produtivas ou não, para assentar 6 milhões de famílias de trabalhadores em quatro anos. Se os fazendeiros ficaram de cabelo em pé com a notícia, os credores da dívida interna e externa do país não devem ter uma sensação muito diferente. Sampaio propõe suspender o pagamento da dívida pública. Quer ainda reduzir a jornada de trabalho e aumentar o emprego. A médio prazo, transformar o Brasil em país socialista.
Outros que defendem o regime socialista para o país são o metalúrgico Zé Maria (PSTU) e o advogado e sindicalista Ivan Pinheiro (PCB), que querem estatizar todas as empresas privatizadas nos últimos anos. Para Zé Maria, as companhias que exploram recursos naturais no país deveriam ser estatais, a terra, nacionalizada e o agronegócio, expropriado. Zé Maria também quer um salário mínimo de cerca de R$ 2 mil, o suficiente para atender o que prevê a Constituição.
O jornalista e professor de marketing político Levy Fidelix (PRTB) pretende taxar os bancos e reduzir os juros a, no máximo, um terço a mais que a inflação. Também quer criar um banco para financiar jovens a montarem seus negócios como autônomos e isentar 10 alimentos da cesta básica de impostos. Na infraestrutura, é dele a proposta dos aerotrens para desafogar o trânsito.
Conhecido de outras eleições, José Maria Eymael (PSDC) quer que todos os cargos de gestão do serviço público passem a ser privativos de funcionários de carreira. Também quer a simplificação dos impostos com o alargamento da base de tributação.
As seguradoras de saúde devem torcer pela derrota de Américo de Souza (PSL) caso queiram manter os milhões de usuários de planos privados. É que o candidato promete uma revolução no setor ao transformar os hospitais em fundações privadas administradas por médicos e enfermeiros e fiscalizadas pelo Ministério Público. E o que é melhor: os brasileiros que ganharem até cinco salários mínimos (R$ 2.550) não vão tirar um centavo do bolso. Basta apresentar um cartão eletrônico disponibilizado pelo governo federal que o pagamento será feito online, na conta da União, claro. ;O sistema vai liberar o dinheiro para o hospital, automaticamente;, planeja Américo.
Bandido com os tubarões
Assaltantes, traficantes e assassinos terão de pensar duas vezes antes de continuar na criminalidade. Até porque, em uma ilha deserta, só sobrarão tubarões como vítimas de seus crimes. É o que defende o pré-candidato Levy Fidelix (PRTB). Para ele, as prisões de segurança máxima deveriam ficar em ilhas ou navios, onde os bandidos não pudessem falar com as famílias ou ter acesso ao celular. ;Como eles não são recuperáveis, todo mundo sabe que chegou a esse nível, vão fazer companhia para os tubarões;, filosofa. Fidelix também defende punições equivalentes ao mal cometido, com a reformulação do Código Penal. Para o Judiciário, o pré-candidato defende tratamento igual, com a possibilidade de prisão para os juízes.
Já Zé Maria (PSTU) quer descriminalizar as drogas. Para ele o Estado deve assumir o controle e tratar da distribuição dos entorpecentes para os usuários até que estes possam parar com o vício. A ilegalidade, segundo diz, serve para aumentar o poder dos traficantes. Ele também quer desmilitarizar a política, colocando-a sob controle da população. ;Autoridades da polícia e do Judiciário têm de ser escolhidas pela população;, diz.
Visitas íntimas, notícias de jornais e revistas e até tênis farão parte do passado de quem for condenado na gestão de Américo de Souza (PSL). ;Bandido é bandido. Não é para ser recuperado, é para receber punição pelo mal que causou;, justifica o candidato, para quem criminosos não devem ter qualquer ;regalia;. A política de combate à violência inclui alterações na legislação penal e processual penal, com o fim das infinitas possibilidades de recursos. Para ajudar na área, o Exército também sairá para as ruas. ;Com o auxílio das Forças Armadas acabaremos em seis meses com a bandidagem;, planeja.
O investimento no social é a fórmula defendida por Oscar Filho (PHS) para reduzir os números da criminalidade no país. A ideia é um programa de bolsa de estudos para cursos profissionalizantes para jovens de 15 a 18 anos. Os estudantes receberiam o equivalente a um salário mínimo a título de microcrédito. (JC e IS)
Palanque
As promessas e ideias dos candidatos à Presidência dos partidos considerados nanicos
Américo de Souza (PSL)
Vai zerar a dívida interna com privatizações; hospitais virarão fundações privadas; criação do cartão único, que dará direito a atendimento médico gratuito para quem tem renda até R$ 2.550; fim de todos os impostos e criação de taxa única sobre recebimentos; fim de regalias para presos.
Ivan Pinheiro (PCB)
Quer a reestatização das empresas que foram privatizadas; ampliação dos casos de lei de iniciativa popular; fim do Senado; ampliação dos direitos dos cidadãos (universalização da saúde e educação), inibição das horas extras nas empresas; preservação de terras indígenas e da Amazônia, política externa voltada para a solidariedade aos povos vítimas do imperialismo; inclusão do Brasil na Alba (Alternativa Bolivariana das Américas).
Mário de Oliveira (PT do B)
Propõe escola em tempo integral; piso nacional para professores, médicos e policiais; unificação das polícias Civil e Militar; fim da progressão de regime de penas; universidades públicas passariam a ser autossustentáveis; para aderir ao Bolsa Família é preciso trabalhar na área de reflorestamento e recuperação do meio ambiente.
Oscar Filho (PHS)
Quer o fim dos impostos com a cobrança de 2% sobre movimentação financeira; distribuição de remédios em farmácias; curso de capacitação para jovens; salário mínimo suficiente para atender a todas as necessidades dos cidadãos; conta individual com os recursos para pagamento da aposentadoria.
Zé Maria (PSTU)
Quer uma nação socialista, com distribuição das riquezas para todos, descriminalizar as drogas e deixar que a população escolha autoridades da polícia e do Judiciário.
Levy Fidelix (PRTB)
Vai permitir taxas de juros não superiores a um terço a da inflação; passar o Bolsa Família para R$ 535 e torná-lo perene; criar bancos de fomento para financiar o primeiro negócio de jovens recém-formados. Também quer isentar os dez principais alimentos da cesta básica de impostos e desenvolver o sistema de aerotrens para o transporte. Pretende ainda enviar os presos para navios em alto mar ou ilhas.
José Maria Eymael (PSDC)
Quer um novo modelo de gestão pública em que os cargos de gestão serão ocupados somente por funcionários de carreira; auditoria independente das contas públicas; a diminuição de impostos e o alargamento da base de cobrança.
Plínio de Arruda Sampaio (PSol)
Vai desapropriar todas as propriedades com mais de 500 hectares, independentemente de serem produtivas ou não, e instituir a educação pública gratuita em todos os níveis, acabando com recursos particulares nas instituições. Também quer suspender o pagamento da dívida pública interna e externa e transformar o país em Estado socialista.