Politica

Candidatos anônimos não desistem de disputar votos

Estado de Minas
postado em 31/05/2010 11:41
Sem recursos financeiros, sem estrutura e sem uma base eleitoral consolidada, as chances de vitória são nulas. Ainda assim eles persistem, uma, duas, três ou até mais. São fregueses das urnas, viciados em campanhas eleitorais. Alguns perseguem segundos de fama, propalando slogans no horário gratuito de propaganda eleitoral. Outros apostam em novos contatos, que podem render pequenas oportunidades profissionais. Há ainda quem, como figurante, se esmere em conseguir fotos ao lado dos atores principais da grande produção eleitoral. E aqueles que, como servidores públicos, se beneficiam de três meses de licença remunerada para fazer campanha. Em comum, todos partilham uma só característica: não desistem. São sempre candidatos.

Mas os figurantes das campanhas eleitorais dificilmente chegarão a astros. Se por um lado a votação média dos 541 candidatos que se lançaram nas eleições de 2006 a deputado federal em Minas foi de 15,7 mil votos, 75% desses que tentaram a sorte obtiveram menos de 8,4 mil votos, desempenho que, salvo exceções históricas no sistema proporcional misto brasileiro, passa longe de uma cadeira na Câmara dos Deputados. O deputado federal eleito em Minas com menor votação, Carlos Willian (PTC), obteve 35.681 votos. Entre os 53 deputados federais eleitos, a votação média foi de 110 mil votos e a máxima 294 mil votos. Para deputado estadual a realidade das urnas não é diferente. Metade dos 853 candidatos que concorreram à Assembleia Legislativa tiveram menos de 1.269 votos e setenta e cinco deles conquistaram nas urnas menos de 7.499 votos. Entre os deputados estaduais eleitos, a votação média foi de 63,4 mil votos.

A estatística das urnas não impressiona José Pinheiro Leite, motorista de ônibus de 60 anos, que pretende concorrer este ano a deputado estadual, depois de ter disputado em 2004 e em 2008 para a Câmara Municipal de Belo Horizonte. Na primeira vez concorreu pelo PSB e angariou menos de cem votos. Na segunda, saiu pelo PTB e conseguiu 1.115 votos. ;Não gastei quase nada. Foi na base da amizade, de casa em casa, pedindo voto;, afirma, salientando que não teve apoio dos partidos em nenhuma das duas eleições. ;Só ganhei santinhos no final da campanha, pela coligação majoritária. Ajuda de partido só para quem já vai ganhar;, sintetiza Leite. Para ele, concorrer se explica por uma lógica estritamente individual. ;Todo mundo quer crescer. Quero ser alguém importante e dar conforto para a minha família. Fui, não deu para chegar, faltou experiência e agora vamos lutar para chegar lá de novo;, resume. Seu solgam? ;Sou mineiro e não desisto nunca;.

Direito a folga
Com direito a três meses de licença remunerada, para alguns servidores públicos concorrer ao pleito, sem qualquer compromisso de buscar o voto, pode ser vantajoso. Nas eleições de 2006, 161 dos 853 candidatos a deputado estadual ; quase 19% do conjunto dos candidatos ; foram funcionários públicos, mais da metade deles ; quase 60% ; , policiais militares e do Corpo de Bombeiros. Cabos e soldados, em sua maioria, com menos de 100 votos, foram a regra.

;É verdade que há muitos que concorrem e não fazem campanha. Mas não é o meu caso;, sustenta Kate Marroni, policial civil de 48 anos, há 25 anos na carreira, que desde 2004 tomou gosto pelas campanhas. Naquele pleito, foi candidata a vereadora de Belo Horizonte e conquistou 480 votos. Dois anos depois, insistiu. Tentou a sorte para a Assembleia Legislativa e alcançou 1.800 votos. Em 2008, tentou novamente eleger-se vereadora mas só teve 430 votos.

Ao se preparar para nova empreitada este ano, Kate Marroni inspeciona a sua poupança. Nos últimos dois anos, faz pingar, todos os meses, R$ 200 de seu salário na conta para bancar a nova campanha. ;Guardo uns R$ 4,5 mil e espero ter santinhos do partido. Ao todo, a campanha deverá custar alguma coisa em torno de R$ 7,5 mil;, afirma. Disposta a não parar de se candidatar até se eleger, Kate Marroni resume: ;Uma hora o pessoal cria vergonha e votam em quem é sério;. O seu slogan, continuará o mesmo, avisa; ;Kate Marroni, politicamente correta, segurança de verdade;.

Insistência

O oficial de Justiça Antônio Carlos da Silva vai disputar sua quinta eleição - (Jair Amaral/EM/D.A Press)
O oficial de Justiça Antônio Carlos da Silva vai disputar sua quinta eleição
Também perseguindo o sonho de conquistar a representação popular, o bacharel em direito e oficial de Justiça, Antônio Carlos da Silva, de 50 anos, se prepara para concorrer à quinta eleição. A aventura começou muito antes de, em 2005, ser aprovado no concurso público para a atual atividade. Em 2000, disputou uma vaga na Câmara Municipal de Contagem pelo PST. ;A campanha foi humilde. Boicotaram a minha base;, reclama. Antônio Carlos conquistou 264 votos naquele pleito.

Dois anos depois, concorreu à Assembleia Legislativa pelo PRTB e teve 2.237 votos. Em 2004 e em 2008 insistiu na candidatura a vereador de Contagem, respectivamente pelo PT e pelo PMN, conquistando, nessa ordem, 316 e 355 votos. ;Só os candidatos que têm poder aquisitivo alto têm apoio dos partidos. Mas desta vez espero ser eleito, pois estou buscando o apoio dos sindicatos dos servidores do Judiciário de Minas Gerais;, afirma Antônio Carlos, que concorrerá à Câmara dos Deputados.

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