postado em 26/06/2010 08:34
Ivan IunesEm vez de resolver um ponto de conflito, a definição tucana por encarar a campanha presidencial com uma chapa puro-sangue pode levar José Serra (PSDB) a perder o maior aliado, o DEM. O partido bateu o martelo em uma reunião que varou a madrugada e terminou com a formalização do convite para a vice ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O parlamentar aceitou ontem pela manhã e, logo em seguida, saiu espalhando a informação ; mesmo movimento seguido pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Um dos ;comunicados;, o ex-deputado federal cassado Roberto Jefferson (PTB), vazou a informação via Twitter, antes mesmo de ela ser comunicada ao DEM, o que provocou a ira do partido.
Na medida em que a escolha por Dias foi se alastrando, o incêndio no ninho tucano tomou proporções cada vez maiores. ;Soubemos pela imprensa, não fomos consultados nem nada. Se aceitarmos, estaremos desmoralizados nacionalmente. Se isso não mudar, vou propor que o partido não feche a aliança com o PSDB. Não tem sentido colocar um peso morto na campanha e ainda afrontar o maior aliado;, esbravejou o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO). Com o caldo já entornado, Guerra ainda tentou contornar a crise. Voou até o Rio de Janeiro, para tentar convencer o presidente do DEM, Rodrigo Maia, a aceitar Dias na vice. O esforço foi em vão. Maia reiterou o que o partido repete há meses: sem Aécio Neves (PSDB) na vice, o DEM exige o posto. O deputado foi além: caso os tucanos imponham o nome do senador, terão de enfrentar a campanha sem o engajamento do partido.
Contrariado, Guerra admitiu que o anúncio foi feito sem o sinal positivo do aliado. ;Sugerimos Álvaro Dias às forças que estão conosco. Em princípio, PTB e PPS deram sinal positivo. Já o DEM insiste em indicar um vice. Está irredutível;, confessou. A confusão irritou até Serra, que foi questionado sobre a escolha enquanto assistia ao jogo do Brasil em Bragança Paulista, interior de São Paulo. No meio da tarde, o candidato reclamou do vazamento da notícia antes que o DEM fosse consultado. O movimento precipitado passou ao aliado a imagem de prepotência, já que caciques do DEM tinham reunião marcada com os tucanos para a segunda-feira. Na pauta, exatamente a definição do vice.
Convocação
Tão logo foi escolhido pelo partido como parceiro de chapa do ex-governador paulista, Dias disparou telefonemas para amigos e correligionários do Paraná. Orgulhoso, chegou a declarar à imprensa que havia recebido uma ;convocação; do partido. Não contava com a ;antipatia; do DEM. Ao optar pelo nome de Dias, os tucanos levaram em conta que ele é identificado como opositor ferrenho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na escolha, acabaram por ignorar as vantagens eleitorais de se optar por uma mulher ou por um político nordestino, caminhos naturais, segundo avaliação do DEM, para tentar atrair parcelas do eleitorado em que Serra ainda patina.
Os tucanos também escolheram Dias para implodir o palanque de Dilma Rousseff no Paraná. Irmão de Álvaro, o senador Osmar Dias (PDT) era o nome da petista para o governo local. Mas, por um acordo familiar, os dois jamais disputam eleições como adversários. A escolha de Álvaro tira Osmar do palanque de Dilma, que agora deve apostar as fichas na reeleição do governador Orlando Pessutti (PMDB), em larga desvantagem nas pesquisas. O pedetista tentaria a reeleição ao Senado, na chapa encabeçada por Beto Richa (PSDB). ;Nós temos um acordo de nunca sermos adversários políticos. (...) Estou surpreso com a escolha do nome do meu irmão para ser vice na chapa do Serra;, disse Osmar.
TSE EXIGE SUBSTITUIÇÃO DE PROPAGANDA TUCANA
O corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Aldir Passarinho Junior, determinou ontem que o PSDB substitua as peças publicitárias que o partido pretendia exibir nas inserções de hoje e terça. A decisão atende a pedido do PT, que acusou a legenda rival de usar o tempo de propaganda da última terça com fins eleitorais, o que é proibido até 5 de julho. ;A propaganda se afastou inteiramente das finalidades nela prescritas, tendo sido utilizada integralmente para promoção de José Serra, com a exibição de fotos e imagens que assinalam sua trajetória pessoal e política;, destacou o ministro Aldir Passarinho Junior.
Não fomos consultados nem nada. Se aceitarmos, estaremos desmoralizados. Se isso não mudar, vou propor que o partido não feche a aliança com o PSDB
Ronaldo Caiado, deputado federal, DEM-GO
Análise da notícia
Matemática incerta
A apresentação do nome do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) para compor a chapa presidencial de José Serra à Presidência da República é resultado de uma conta matemática. Os tucanos acreditam que, com o país dividido, os 7,6 milhões de eleitores paranaenses podem, sim, representar aquilo que Serra precisa para vencer a eleição presidencial.
O PSDB acredita que a vantagem de Serra em São Paulo será anulada pelos votos que ele não terá como conquistar no Nordeste, onde Dilma tem a primazia. Rio de Janeiro e Minas Gerais, avalia o partido, também vão se anular, enquanto o Norte e o Centro-Oeste darão a Dilma a vantagem que José Serra terá no Sul, deixando tudo muito empatado. Assim, com os votos paranaenses fechados com o tucano e Dilma sem ter um candidato forte ao governo estadual, pode estar aí a chance de levar o candidato do PSDB a subir a rampa do Planalto em 1; de janeiro de 2011.
Essa conta já tinha sido feita há meses pelo próprio Álvaro Dias. Na quinta-feira, depois de observar todo o esforço do PT para fazer de Osmar Dias (PDT-PR) candidato ao governo estadual, e dar um palanque forte à candidata Dilma Rousseff, os tucanos olharam com carinho essa contabilidade. E, antes que PT-PMDB anunciassem a chapa com Osmar Dias, o PSDB chamou o irmão dele, o senador Álvaro, a São Paulo. A lógica indica agora que Osmar será candidato à reeleição e Dilma não terá o tão sonhado palanque reunindo PDT-PMDB-PT. A expectativa do PSDB é a de que o PT, que demorou a fechar com Osmar Dias, perca a Presidência da República por causa do Paraná. Falta, entretanto, combinar com o eleitor. (DR)