Daniela Almeida
postado em 10/07/2010 07:00
Se quiserem garantir os palanques municipais para o ex-governador José Serra, PSDB e DEM terão que reeditar o esforço recente que fizeram pela aliança nacional e pelas coligações nos estados. Isso porque prefeitos tucanos e democratas de todas as regiões, embalados pela popularidade e aprovação recordes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, têm declarado ; de forma aberta ou não ; apoio à candidata petista, Dilma Rousseff.Nesta semana, o deputado estadual Rodrigo Garcia (DEM) encaminhou à executiva do partido, em São Paulo, um pedido de expulsão do prefeito de Tanabi (SP), José Francisco de Mattos Neto. O motivo teria sido a participação de Neto em um evento de apoio à candidatura de Dilma à Presidência da República. Durante o encontro em São José do Rio Preto, no interior paulista, o prefeito não apenas declarou o suporte à candidata petista, como acusou o PSDB de ter sucateado os serviços públicos no estado.
Segundo democratas do diretório nacional, o partido enfrenta dificuldades principalmente no Nordeste, onde Lula, principal cabo eleitoral da candidata, nasceu e goza de maior simpatia da população. ;As pesquisas indicam a Dilma na frente. O cara que está no Nordeste vive o clima. Ele quer cuidar da vida dele e poder dizer, amanhã, ;eu sou do PSDB e do DEM, mas apoiei a presidente que ganhou a eleição;. Prefeito é muito pragmático;, revela um integrante da alta cúpula do DEM.
O presidente do PT de Pernambuco e vereador por Recife, Luiz Eustáquio, confirma o apoio dos prefeitos oposicionistas no estado, mas diz que muitos fogem do assunto por medo de represálias. ;Há uma grande adesão. Eles não vão fazer força pela candidatura do Serra. Mas ninguém fala disso, é um risco muito grande. Alguns já respondem a processo por terem declarado apoio a Dilma.;
;Não decidi;
Apontada por lideranças petistas como cabo eleitoral assumida do governador Wilson Martins (PSB), partido que faz parte da base do governo Lula, e de Dilma, a prefeita de Eliseu Martins (PI), Teresinha Dantas (PSDB), desconversa: ;Na verdade ainda não decidi quem devo apoiar;.
O mesmo cuidado, no entanto, não é seguido à risca pelo prefeito da cidade de Itamonte (MG), Marcos Tridon de Carvalho (PSDB). Apesar de declarar que vai trabalhar em sua região pelo governador tucano Antonio Augusto Anastasia, que concorre à reeleição, Carvalho confessa seu apoio à candidata petista para o Planalto. ;Para nós foi um governo excelente. Eles não trataram nossas cidades como pequenos pontos no mapa, mas como entes federativos.;
O que pesou na decisão do prefeito foi a candidatura de Serra em detrimento do ex-governador do estado, Aécio Neves, que perdeu a disputa interna no PSDB para a corrida à Presidência. ;Se fosse o Aécio era outro pensamento. O Serra foi uma imposição.; A mesma posição assumiu o prefeito de Sem Peixe (MG), João Schitini (DEM). ;Eu vou apoiar a Dilma e o Anastasia;. Questionado se a decisão teria lhe causado problemas junto ao seu partido no estado, Schitini respondeu que ;por enquanto ainda não; havia sofrido sanções.
Para o secretário nacional do PSDB, deputado federal Rodrigo de Castro, os casos de desobediência partidária, com o chamado voto Dilmasia (criada a partir da junção dos nomes de Dilma e Anastasia), devem ser punidos com rigor, inclusive com a expulsão da legenda. ;Nós tivemos muito cuidado com as alianças estaduais exatamente para que todas respeitassem a aliança nacional. Os casos que chegarem ao nosso conhecimento vão ser submetidos ao conselho de ética. É inadmissível isso.;
Mistura de fatores
Maia aposta que o apoio dos prefeitos de oposição a Dilma é passageiro
Em São Paulo, estado que concentra o maior reduto de votos de Serra, Dilma recebeu o apoio público dos chefes de executivo municipal oposicionistas durante evento preparado pelo PDT e pelo Movimento Pluripartidário de Prefeitos Pró-Dilma Rousseff. Reunidos em Campinas, cidade a 93km da capital paulista, 117 prefeitos foram ao encontro da candidata. Destes, 25 (21,3%) eram do PSDB, nove (7,6%) do DEM e oito (6,8%) do PPS, outro tradicional aliado tucano. ;Vamos realizar muito mais eventos pelo estado;, promete o responsável pelo cerimonial do encontro, Francisco Lagos.
Na opinião do deputado federal e presidente do DEM, Rodrigo Maia, o fenômeno é passageiro. ;Com o fim dos prazos para a assinatura de convênios e a transferências de verbas, isso naturalmente muda. Acaba a chantagem que o governo vem fazendo junto aos prefeitos da oposição.;
O apoio de ocasião, na avaliação do cientista político Rubens Figueiredo, da Universidade de São Paulo;, é uma mistura de fatores. Aliada à distribuição de verbas promovida pelo governo federal, estaria a posição marcada conforme o termômetro das pesquisas eleitorais e, portanto, a escolha pelo candidato com maiores chances de novos investimentos em sua cidade. ;No governo Lula, por conta do crescimento da economia, os orçamentos aumentaram muito. Apesar das reclamações, alguns orçamentos municipais dobraram. Tanto que nas eleições passadas, em 2008, houve o maior índice de reeleição, porque tiveram recursos para investir em suas cidades. E se você tem a perspectiva de um candidato vitorioso, tem uma perspectiva de novas transferências de verbas e investimentos públicos.;