Estado de Minas
postado em 13/07/2010 13:02
Conquistar um voto para governador em Minas Gerais está mais caro a cada eleição. Na disputa deste ano pelo Palácio da Liberdade, a estimativa é de que o voto custe R$ 6,01 por eleitor, contra R$ 1,50 no pleito de 2006. Esse cálculo é feito levando em conta a relação entre a previsão dos gastos entregue semana passada por todos os candidatos e o eleitorado mineiro, o segundo maior do país, com cerca de 14,3 milhões de votantes. Isso representa um aumento astronômico de 300% em relação a 2006, quando Aécio Neves (PSDB) disputou a reeleição, tendo com o principal adversário o ex-deputado federal Nilmário Miranda (PT). Detalhe: nessas eleições o tucano encerrou a fatura no primeiro turno, o que diminuiu o custo final da campanha, já que não houve segundo turno.A disputa este ano, no entanto, promete ser mais acirrada, pois está polarizada entre o candidato do PSDB, Antonio Anastasia, e o senador Hélio Costa (PMDB), o que deve contribuir para um custo maior do que a passada. Isso pode ser constatado pelas previsões de gastos apresentadas à Justiça Eleitoral, que somam R$ 86 milhões contra R$ 21 milhões efetivamente gastos há quatro anos. Nessa disputa, a maior parte dos gastos pode ser creditada na conta de Aécio Neves, que teve uma despesa de R$ 19 milhões para garantir mais um mandato. Nilmário desembolsou apenas R$ 1,5 milhão, e o restante foi gasto pelos nanicos. Na eleição de outubro, Anastasia e Hélio Costa declararam quase a mesma previsão de despesas, com diferença de apenas R$ 1 milhão a mais para o peemedebista, que vai gastar R$ 36 milhões. Juntos, os dois estimam gastos de R$ 71 milhões.
Mas esse não é um fenômeno exclusivamente mineiro, avalia o especialista em marketing eleitoral Gaudêncio Torquato. ;É uma loucura esse aumento extraordinário dos gastos de campanha que vem acontecendo no Brasil. O preço do voto tem crescido bastante nos últimos, tanto nas disputas presidenciais quanto nas campanhas dos estados.;
Segundo ele, que desde as eleições diretas acompanha a evolução do custo do voto, em 2002 ele custava em média R$ 2,50 em todo o Brasil nas eleições gerais. Na disputa nacional, a média do valor do voto é de R$ 3,28 por eleitor. Minas Gerais ocupa a lanterninha no alto custo do voto presidencial (R$ 6,38), por causa de seu grande número de eleitores, na frente apenas do Rio Grande do Sul (R$ 6,34) e do Rio de Janeiro (R$ 4,87), estados onde o voto é mais barato levando em conta a relação despesas com campanha X número de votantes.
Para Torquato, esse crescimento reflete não só o aumento dos custos das campanhas, cada vez mais caras e espetaculares, mas também a melhora da economia do Brasil como um todo, o que assegura mais doações. Outro destaque, segundo ele, que pode ser notado tanto na disputa nacional quanto na mineira e que influencia esse aumento das despesas para conseguir conquistar o eleitor, é a polarização entre candidatos. ;As campanhas ficam mais competitivas e mais caras quando há polarização entre situação e oposição. Com esse alto fator de competição é preciso um esforço maior para chegar aos eleitores, o que significa mais despesa.;
Caixa 2
Para o sociólogo e presidente da seção mineira da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Rodrigo Mendes, além dos fatores citados por Torquato, o aumento dos gastos revela uma realidade que antes ficava encoberta pelos chamados caixa 2. ;Antes, um candidato gastava R$ 1,5 milhão na campanha e declarava R$ 150 mil. Com o aperto da fiscalização por parte da Justiça Eleitoral, motivada pelos escândalos recentes envolvendo despesas de campanha, isso ficou mais difícil de ser feito. Por isso, o gasto agora é bem mais real;, avalia. Ele também atribuiu esse aumento a mudanças na legislação eleitoral, que limitaram a propaganda, proibindo distribuição de brindes, outdoors e showmícios. ;Isso deslocou os gastos do varejo para a ponta. Os candidatos têm de gastar mais com sua base, com seus cabos eleitorais e também com pesquisas e marketing.;