Politica

Pequenos municípios de Minas perdem eleitores

Estado de Minas
postado em 23/07/2010 11:43
Se for criado algum critério para a destinação de benefícios aos municípios de acordo com o crescimento do eleitorado, dezenas deles perderão recursos. Em Minas, entre a última eleição (2008) e a atual campanha eleitoral, 81 municípios tiveram queda do eleitorado. É o que mostra levantamento realizado pelo Estado de Minas com base no quantitativo de eleitores divulgado esta semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG). A redução atinge quase 10% do total de cidades mineiras.

Minas tem 17 cidades com mais eleitores que moradores
A grande maioria das cidades que teve redução do eleitorado está na faixa dos municípios com menos de 10 mil habitantes. De acordo com especialistas, o fenômeno estaria ligado ao próprio fluxo migratório, que faz reduzir mais ainda a população das pequenas cidades em direção aos municípios maiores, por causa da geração de empregos e melhores condições de vida. Porém, não foi possível comparar o aumento do eleitorado entre 2008 e 2010 com o crescimento do número de habitantes, tendo em vista que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não divulgou a contagem populacional deste ano, que será feita pelo Censo 2010.

Apenas quatro cidades de porte médio ; acima de 50 mil habitantes ; tiveram diminuição do eleitorado: Curvelo, Pará de Minas, Ponte Nova e São João del-Rei. Mas houve uma razão específica para o fato: nessas quatro cidades, no ano passado, ocorreu o cadastramento biométrico, realizado pela Justiça Eleitoral. Além do comparecimento nos cartórios para o cadastramento digital, foi feita uma revisão eleitoral, com os cidadãos sendo obrigados a apresentar também comprovante de residência. Isso contribuiu para a exclusão daquelas pessoas que, na prática, não tinham domicílio eleitoral nos municípios, acredita o TRE. No geral, no mesmo período, o eleitorado de todo o estado subiu 3,19%. Minas tinha 14.072.285 eleitores em julho de 2008. Agora, conta com 14.522.090 portadores de título de eleitor, segundo TSE.

Enquanto nos pequenos municípios houve queda ou estabilização do número dos eleitores, as 10 maiores cidades de Minas apresentam índices expressivos de crescimento. O exemplo é Uberlândia, segunda maior cidade de Minas, onde o eleitorado aumentou 6,75% em apenas dois anos, saindo de 396.682 em julho de 2008 para 423.475 em julho deste ano. No mesmo período, o eleitorado de Belo Horizonte aumentou em 3,2% (de 1.772.227 para 1.829.678 eleitores). Na outra ponta, Serra da Saudade (Centro-Oeste), a cidade de Minas com menos eleitores, sofreu uma queda de 5,4% nos últimos dois anos. Em julho de 2008, Serra da Saudade contava com 1.092 eleitores. Agora, tem 1.034 moradores com títulos de eleitor. Cedro do Abaeté ; o segundo menor eleitorado do estado ; também perdeu eleitores nos últimos anos. A perda de Cedro do Abaeté foi de 2,89% (de 1.353 em julho de 2008 para 1.314 em julho de 2010).

Redução

Em boa parte das cidades onde o eleitorado diminuiu, a redução foi pequena. Santa Cruz do Escalvado (Zona da Mata), por exemplo, entrou na lista porque perdeu apenas um eleitor em dois anos ; seu eleitorado diminuiu 4.401 para 4.400. Em dois anos, Lagamar (Alto Paranaíba) perdeu dois eleitores. Em três cidades, o número atual de eleitores é o mesmo de dois anos atrás: Dom Bosco (Noroeste), 3.409; Grupiara (Alto Paranaíba), 1.468) e Piau (Zona da Mata), 2880.

Para o cientista político Otávio Dulci, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a redução do eleitorado das pequenas cidades indica que elas estão passando também por um processo de estagnação ou mesmo de redução populacional, por conta do fluxo migratório. Ele não acredita que a questão esteja relacionada com a possibilidade de moradores das maiores cidades retirarem o título de eleitor e os cidadãos dos pequenos municípios não se importarem com o documento. "As cidades maiores são mais organizadas. Mas isso não significa que todos os seus habitantes são mais informados do que os moradores de cidades menores. Às vezes, o cidadão mora em um ambiente mais urbano, mas leva uma vida isolada", observa Dulci.

Na opinião do cientista político Luis Aureliano Gama de Andrade, a redução do eleitorado nos pequenos municípios não deve mudar o comportamento dos políticos em relação aos locais que perderam eleitores. "O político vai aonde estiver o voto. A tendência é concentrar as campanhas nas médias e grandes cidades, masque tenham influência nas cidades menores", assegura. Por outro lado, Gama de Andrade salienta que a consequência da redução do eleitorado será vista, de fato, depois da eleição. "Passada a eleição, os municípios com menos votos terão ganho político muito menor. E a tendência do sistema político atender menos as pequenas cidades. Neste caso, o encaminhamento dos seus pleitos vai depender muito da articulação de lideranças locais."

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