Isabella Souto
postado em 25/07/2010 08:21
Já dizia o poeta Vinícius de Moraes: ;As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental;. Embora antiga, a lição foi muito bem aprendida pelos candidatos a cargos públicos na hora de se apresentarem aos eleitores. Sejam homens ou mulheres, com a ajuda da tecnologia, aqueles que disputam a Presidência da República, o governo ou o Senado no pleito de outubro estão bem na foto. Em alguns casos, até demais. Ao simples clique do mouse, desaparecem indesejáveis rugas, manchas e marcas de expressão.É fácil ter uma pele perfeita depois do milagre do photoshop, sem precisar do bisturi. No caso da presidenciável Dilma Rousseff (PT), foram utilizados os dois recursos. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, para completar o que a cirurgia plástica já havia melhorado, a petista abusou de recursos do computador em seus fôlderes de campanha. Quem a vê sorrindo no panfleto da coligação Todos Juntos Por Minas, que concorre ao Palácio da Liberdade com o senador Hélio Costa (PMDB) encabeçando a chapa, não diria que ela tem 62 anos.
No panfleto, a pele, que já beirava a perfeição, teve retoques para uniformizar a cor, dando uma impressão até de que seu rosto foi desenhado. As bolsas debaixo dos olhos foram suavizadas e os dentes ficaram mais claros. O principal adversário, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), também tem uma aparência mais jovem e saudável. As conhecidas olheiras do tucano, de 68 anos, foram reduzidas. O responsável pelo material, no entanto, teve o cuidado de manter alguns pés de galinha, para deixar a foto retocada com um aspecto um pouco mais natural. Como os da petista, os dentes passaram por clareamento.
Marina Silva é, para os técnicos, a que deixou sua imagem mais natural. Até como estratégia de campanha. A candidata do PV à Presidência manteve bolsas embaixo dos olhos, uma pinta e as linhas de expressão na testa. Em Nova York, quando questionada se iria repaginar o visual durante a campanha, disse que não vai mexer em nada. A mesma linha, de uma correção mais discreta, foi seguida pelo candidato ao governo de Minas dos verdes, José Fernando Aparecido Oliveira.
No caso do governador de Minas Gerais, Antonio Augusto Anastasia (PSDB), a imagem teve um tratamento maior. O tucano ficou com o rosto mais fino e diminuiu a quantidade de pele abaixo do queixo. O cabelo foi um pouco tonalizado, mas houve o cuidado de manter algumas linhas de expressão. Já no caso de Itamar Franco (PPS), candidato ao Senado por Minas Gerais, sumiram as manchas de pele que os 81 anos de idade lhe trouxeram. Foram-se também as rugas e as linhas de expressão. Mais jovem, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) não deixou de remoçar os 50 anos. O tucano deu adeus às marcas na testa e ficou com a pele clara e totalmente lisa.
O professor e coordenador de marketing da Escola de Imagem de Belo Horizonte, Henrique Ribas, afirmou que a ferramenta é importante, mas é preciso cuidado para não descaracterizar a pessoa da foto. ;O uso do Photoshop não deve ser condenado. É uma ferramenta de extremo poder que, usada com os devidos critérios, traz realmente benefícios ao fotografado. Se passar do limite, pode trazer informações que não condizem com a realidade da expressão da pessoa;, afirmou. Para o coordenador-geral de ensino da Escola de Imagem, Raphael Fraga, o problema nos materiais editados está justamente na falta de percepção do aceitável. ;A maior dificuldade das pessoas no uso do Photoshop é lidar com o limite ideal. A pessoa não consegue encontrar e, quando se vê, o exagero está estabelecido;, disse.
PROPOSTA NO CONGRESSO
O uso indiscriminado do tratamento de imagens é alvo de um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional, conhecido como a Lei do Photoshop. Se a proposta virar realidade, todas as fotos que forem alteradas no meio publicitário terão de vir com o seguinte aviso: ;Atenção: imagem retocada para alterar a aparência física da pessoa retratada;. Não se sabe, no entanto, se a regra valeria para as peças de campanha eleitoral.
O TRE do Distrito Federal informa que não envia e-mail aos eleitores comunicando o cancelamento de título eleitoral.